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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

Assim surge a i<strong>de</strong>ia da morte <strong>de</strong> Xavier, na aparente naturalida<strong>de</strong> com que Beatriz e<br />

Carmem <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m e executam o crime. É o momento em que o submisso, a mulher, se<br />

(re)volta contra seu opressor. A vítima se converte em algoz. E elas<br />

[...] foram armadas. O quarto estava escuro. Elas fraquejaram erradamente,<br />

apunhalan<strong>do</strong> o cobertor. Era noite fria. Então elas conseguiram distinguir o corpo<br />

a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong> <strong>de</strong> Xavier. [...] estavam exaustas. Matar requer força. Força humana.<br />

Força divina (LISPECTOR, 1998, p. 34).<br />

Há, no entanto, um momento crucial que reduz toda a narrativa ao silêncio. É quan<strong>do</strong><br />

a polícia cava o jardim e encontra o corpo <strong>de</strong> Xavier. A solução <strong>do</strong> crime, dada pelo policial, é<br />

totalmente inusitada: “Vocês duas [...] arrumem as malas e vão viver em Montevidéu. Não<br />

nos dêem maior amolação”.<br />

A potência sexual e a energia cria<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> Xavier eram tantas que a terra on<strong>de</strong> ele foi<br />

sepulta<strong>do</strong> tornou-se fecunda e ali floresceram rosas. E uma possível prisão <strong>de</strong> ambas as<br />

mulheres não se concretiza, haven<strong>do</strong> a alternativa da liberda<strong>de</strong> e <strong>do</strong> recomeço em outro lugar.<br />

Beatriz e Carmem agra<strong>de</strong>cem: “Muito obrigada. E Xavier não disse nada. Nada havia mesmo<br />

a dizer” (LISPECTOR, 1998, p.37).<br />

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O conto O Corpo é narra<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma incisiva, sen<strong>do</strong> possível perceber uma analogia<br />

com momentos que nos remetem à Paixão <strong>de</strong> Cristo, a via sacra, mostran<strong>do</strong> as estações <strong>de</strong><br />

sofrimento e <strong>de</strong> sacrifício <strong>do</strong> corpo. São as etapas em que as personagens femininas aparecem<br />

em busca <strong>de</strong> seu lugar junto ao homem e não em submissão a ele.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, Souza (2007, p. 74), afirma que:<br />

O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> se igualar ao outro atinge requintes <strong>de</strong> <strong>de</strong>spersonalização, a ponto <strong>de</strong> o<br />

sujeito se apagar como indivíduo e <strong>de</strong> apelar para o reconhecimento internacional,<br />

diluin<strong>do</strong>-se na imagem alheia ao invés <strong>de</strong> se impor na sua subjetivida<strong>de</strong>.<br />

Manifesta-se, assim, o <strong>de</strong>sejo e o anseio das personagens femininas <strong>de</strong> Clarice<br />

Lispector em busca <strong>de</strong> um lugar para si, pois viviam em processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>spersonalização, como<br />

afirma Souza, o que as levou ao <strong>de</strong>sequilíbrio e à transgressão.<br />

Po<strong>de</strong>-se, <strong>de</strong>ssa forma, evi<strong>de</strong>nciar, no conto, a existência <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> marcada<br />

pelo pre<strong>do</strong>mínio da vonta<strong>de</strong> <strong>do</strong> masculino. A relação <strong>de</strong> Xavier e suas duas mulheres – mais a<br />

terceira, a prostitua – não é vista como falha moral, porém como uma caracterização da<br />

virilida<strong>de</strong> e da força masculinas. Em outras palavras, em uma socieda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> o homem dita e<br />

faz as regras suas transgressões servem para firmar seu po<strong>de</strong>r e sua força na imposição <strong>de</strong> um<br />

papel <strong>de</strong> submissão ao feminino.<br />

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