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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

à memória são os acontecimentos relaciona<strong>do</strong>s à aurora da vida, pois a infância <strong>de</strong>tém a<br />

magia <strong>do</strong> nosso porvir, é “quan<strong>do</strong> abrimos os olhos para o mun<strong>do</strong> e vai-se <strong>de</strong>senhan<strong>do</strong> em<br />

nosso íntimo o esboço <strong>do</strong> que vai ser nossa trajetória pelos anos afora.”(p. 15). Para Rosa, as<br />

lembranças da infância <strong>do</strong>s escritores José Lins <strong>do</strong> Rego, Graciliano Ramos, Mário Vargas<br />

Llosa e Raul Pompéia concorreram, respectivamente, para a elaboração das obras Menino <strong>de</strong><br />

engenho (1932), Infância (1945), O peixe na água (1994) e O Ateneu (1888).<br />

De mo<strong>do</strong> semelhante, ocorre com a memória da artista sul-mato-grossense. Na<br />

elaboração <strong>de</strong> Sob os cedros <strong>do</strong> Senhor (1994), a memória <strong>de</strong> Naveira tem uma função<br />

importante, uma vez que, conforme assegura Maria da Glória Sá Rosa, no ensaio “A poesia<br />

como resgate da história – a propósito <strong>do</strong> livro Sob os Cedros <strong>do</strong> Senhor <strong>de</strong> Raquel Naveira”<br />

(1994, p. 5), Naveira conviveu <strong>de</strong>s<strong>de</strong> menina com libaneses, sírios e outros povos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scendência oriental, presenciou o crescimento <strong>de</strong> Campo Gran<strong>de</strong> por meio “da coragem e<br />

da sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa brava gente, que teceu os fios <strong>do</strong> progresso e preparou os caminhos <strong>do</strong><br />

futuro”, assim como, Naveira, no “computa<strong>do</strong>r da memória foi guardan<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>samente os<br />

registros <strong>de</strong> cada coisa vista”. Por conseguinte, a memória da escritora campo-gran<strong>de</strong>nse é o<br />

elo pelo qual as reminiscências da infância se tornam o corpus para a sua produção poética.<br />

Como ela mesma afirmou: “A memória tem si<strong>do</strong> a matéria <strong>de</strong> minha poesia: os vestígios,<br />

sinais, as sensações submersas. Através <strong>de</strong>sse fio precioso e mágico tenho teci<strong>do</strong> e recupera<strong>do</strong><br />

um mun<strong>do</strong> perdi<strong>do</strong>: o escoar inexorável da minha vida e <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> <strong>de</strong> minha cida<strong>de</strong>.”<br />

(NAVEIRA, 1992, p.39)<br />

É bom se consi<strong>de</strong>rar também que a coletânea naveiriana é <strong>de</strong> cunho<br />

confessional. E, para justificar essa constatação, diríamos, parafrasean<strong>do</strong> Bernar<strong>do</strong> Oliveira<br />

(1988, p.74) que, na composição <strong>de</strong> Sob os cedros <strong>do</strong> Senhor (1994), a memória <strong>de</strong> Naveira se<br />

torna “literária” 20 , pois na referida obra encontram-se versifica<strong>do</strong>s os povos orientais que a<br />

escritora sul-mato-grossense conheceu durante a infância. O imaginário literário <strong>de</strong> Naveira<br />

reelabora essa gama <strong>de</strong> lembranças e torna o seu texto poético confessional.<br />

Nesse contexto globalizante, cabe dizer que neste ensaio preten<strong>de</strong>mos analisar<br />

a obra Sob os cedros <strong>do</strong> Senhor (1994) observan<strong>do</strong> como a poética fornece um lega<strong>do</strong><br />

multicultural, isto no que tange aos costumes, à vida comercial, ou seja, às contribuições à<br />

formação cultural campo-gran<strong>de</strong>nse trazidas por armênios, sírios e libaneses. Ao constituírem<br />

20 De acor<strong>do</strong> com Bernar<strong>do</strong> Oliveira, “a questão <strong>do</strong> EU na literatura se torna mais clara [quan<strong>do</strong> compreen<strong>de</strong>mos<br />

que] Não há <strong>de</strong> um la<strong>do</strong> um eu exila<strong>do</strong> ou morto e <strong>de</strong> outro um poeta que é pura inspiração e técnica, o que<br />

existe é um EU que já é pura poesia, pura literatura. É a partir <strong>de</strong>sta intimida<strong>de</strong> literária que os poetas nos falam<br />

e não <strong>de</strong> suas próprias intimida<strong>de</strong>s, suas ‘vidas em si’ [...] não existe, para um poeta <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, um EU puro e<br />

simples a confessar, e sempre que alguém incorre neste engano não produz nada além <strong>de</strong> um diário (mesmo um<br />

diário poético)”.<br />

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