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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

obriga a rever-se, a questionar seu papel social. Mas por trás <strong>de</strong>le temos a própria Clarice,<br />

misto <strong>de</strong> pesquisa<strong>do</strong>ra <strong>de</strong>nsa da alma humana diante <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Dessa forma, ela encontra um<br />

campo comum, uma irmanda<strong>de</strong> com a personagem, tão diferentes e tão próximas ao mesmo<br />

tempo.<br />

3. A INTELECTUAL TRADUTORA<br />

A tradução feita por Clarice leva-nos à releitura crítica <strong>do</strong> papel da tradução no projeto<br />

literário e intelectual da escritora. Devi<strong>do</strong> à s dificulda<strong>de</strong>s financeiras que Clarice enfrentava,<br />

ela se vê obrigada a traduzir textos <strong>do</strong>s mais diversos gêneros e assuntos. Essa produção<br />

“transcriativa” interfere consi<strong>de</strong>ravelmente na última produção da escritora, propician<strong>do</strong>,<br />

<strong>de</strong>ssa forma, uma revisão crítica <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> em que escreve e <strong>de</strong> toda a sua produção anterior.<br />

Conforme o exposto é escusa<strong>do</strong> dizer que as condições econômicas pelas quais passa a<br />

intelectual acabam interferin<strong>do</strong> diretamente no objeto cultural então produzi<strong>do</strong>. Como reitera:<br />

[...] é o meu sustento. Respeito os autores que traduzo, é claro, mais procuro me<br />

ligar mais no senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> que nas palavras. Estas são bem minhas, são as que elejo.<br />

Não gosto que me empurrem, me botem num canto pedin<strong>do</strong> as coisas. Por isso senti<br />

um gran<strong>de</strong> alivio, quan<strong>do</strong> me <strong>de</strong>spediram <strong>de</strong> um jornal recentemente. Agora só<br />

escrevo quan<strong>do</strong> quero (apud GOTLIB, 1995, p.416).<br />

Clarice Lispector, por toda sua vida intelectual, sempre faz um tipo <strong>de</strong> tradução,<br />

muitas vezes, inclusive, dividin<strong>do</strong> o trabalho com um amigo, como nos textos dramatúrgicos,<br />

por exemplo. Mas foi na década <strong>de</strong> 70 que esse trabalho tornou-se efetivo.<br />

Também justifica o que já dissemos sobre a condição financeira da escrito o fato <strong>de</strong><br />

ela ter si<strong>do</strong> “expulsa” sumariamente <strong>do</strong> Jornal <strong>do</strong> Brasil:<br />

no dia 2 <strong>de</strong> janeiro [1974] eu recebi um envelope, e <strong>de</strong>ntro tinha minha crônicas. E<br />

uma carta seca sem nem agra<strong>de</strong>cer os serviços presta<strong>do</strong>s durante sete anos, dizen<strong>do</strong><br />

que daí em diante eu estava dispensada <strong>de</strong> trabalhar. Então eu movi uma ação. (apud<br />

GOTLIB, 1995, p.415).<br />

Diríamos que foi pela <strong>de</strong>missão, no Jornal <strong>do</strong> Brasil, como explicita Gotlib (sua<br />

biógrafa), que Clarice Lispector intensifica seu trabalho como tradutora. No ano em que<br />

Lispector foi <strong>de</strong>mitida, a intelectual aceita escrever e publicar um livro sob encomenda, A via<br />

crucis <strong>do</strong> corpo (1974). Isso só reitera que as necessida<strong>de</strong>s financeiras <strong>de</strong> Clarice Lispector<br />

interferiram em seu projeto intelectual.<br />

Em suas traduções, a intelectual não só embaralha os processos tradutórios com os<br />

processos <strong>de</strong> criação, como “borra” os limites <strong>do</strong> próprio e <strong>do</strong> alheio. Percebemos que ao<br />

“precisar” traduzir os mais diferentes tipos <strong>de</strong> texto, Clarice, valen<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> uma relação<br />

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