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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

dar conta <strong>de</strong> uma experiência que lhe escapa, tenta reproduzir a experiência da conquista <strong>do</strong><br />

que é originário, o sacrifício da perda da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> para ir em busca <strong>do</strong> indizível.<br />

O trecho <strong>do</strong> romance A Paixão Segun<strong>do</strong> G.H. que transcrito a seguir, faz ver como<br />

Wittgenstein e Clarice Lispector pensam a linguagem <strong>de</strong> maneira semelhante, como o mo<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

buscar a realida<strong>de</strong>:<br />

A realida<strong>de</strong> é a matéria-prima, a linguagem é o mo<strong>do</strong> como vou buscá-la – e como<br />

não acho. Mas é <strong>do</strong> buscar e <strong>do</strong> não achar que nasce o que eu não conhecia, e que<br />

instantaneamente reconheço. A linguagem é meu esforço humano. Por <strong>de</strong>stino tenho<br />

que ir buscar e por <strong>de</strong>stino volto com as mãos vazias. Mas volto com o indizível. O<br />

indizível só me po<strong>de</strong>rá ser da<strong>do</strong> através <strong>do</strong> fracasso <strong>de</strong> minha linguagem. Só quan<strong>do</strong><br />

falha a construção é que obtenho o que ela não conseguiu. (LISPECTOR, 1988,<br />

p.113)<br />

Benedito Nunes em seu livro O Dorso <strong>do</strong> tigre, mostra a partir <strong>do</strong> conceito<br />

wittgensteniano <strong>de</strong> jogo <strong>de</strong> linguagem, que a obra literária <strong>de</strong> Clarice Lispector faz parte <strong>de</strong> um<br />

<strong>do</strong>mínio da linguagem que se dá sem pretensão <strong>de</strong> ser verda<strong>de</strong>iro ou falso, <strong>de</strong> um jogo <strong>de</strong><br />

linguagem artístico. Nunes abre o ultimo capítulo <strong>do</strong> livro com a passagem:<br />

Em A paixão segun<strong>do</strong> G.H. que Clarice Lispector leva ao extremo o jogo <strong>de</strong><br />

linguagem inicia<strong>do</strong> em Perto <strong>do</strong> Coração Selvagem, e já plenamente <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong><br />

em A Maçã no escuro. Não empregamos aqui a palavra jogo, e a expressão jogo <strong>de</strong><br />

linguagem no senti<strong>do</strong> comum, em geral <strong>de</strong>preciativo, que é o que prevalece quan<strong>do</strong><br />

nos referimos a “jogo <strong>de</strong> palavras”, “jogo verbal”, etc. A literatura, <strong>de</strong> um mo<strong>do</strong><br />

especial a poesia, comportam uma qualificação lúdica. São ativida<strong>de</strong>s cria<strong>do</strong>ras<br />

<strong>de</strong>sinteressadas, cujos produtos gozam <strong>de</strong> existência estética, aparente, <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> imaginário projeta<strong>do</strong> na expressão verbal. (NUNES, 1976, p.129)<br />

E a respeito <strong>do</strong>s jogos <strong>de</strong> linguagem também diz:<br />

Em suas Investigações Filosóficas, Wittgenstein fala-nos em “jogos <strong>de</strong> linguagem”.<br />

São esses jogos processos linguísticos, mobiliza<strong>do</strong>s pela diferentes atitu<strong>de</strong>s que<br />

assumimos, nomean<strong>do</strong> as coisas e usan<strong>do</strong> as palavras <strong>de</strong> conformida<strong>de</strong> com as regras<br />

que estabelecemos. (NUNES, 1976, p.130)<br />

Segun<strong>do</strong> Benedito Nunes, a mo<strong>de</strong>rna filosofia da linguagem acrescenta um aspecto<br />

ontológico ao jogo <strong>de</strong> linguagem estético, pois, por meio da imaginação, a experiência imediata<br />

das coisas dá acesso a novas possibilida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> ser, possíveis mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ser que não coinci<strong>de</strong>m<br />

com nenhum aspecto <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> da realida<strong>de</strong> ou da existência humana.<br />

Se o objeto <strong>de</strong> A Paixão Segun<strong>do</strong> G.H. é, como vimos uma experiência não objetiva,<br />

se a romancista recriou imaginariamente a visão mística <strong>do</strong> encontro da consciência<br />

com a realida<strong>de</strong> última, o romance <strong>de</strong>ssa visão terá que ser, num certo senti<strong>do</strong>,<br />

obscuro. A linguagem <strong>de</strong> Clarice porém, não é nada obscura. Obscura é a experiência<br />

<strong>do</strong> que ela trata. Sob esse aspecto, que analisaremos oportunamente, a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

G.H., abdican<strong>do</strong> <strong>do</strong> entendimento claro para ir ao encontro <strong>do</strong> que é impossível<br />

compreen<strong>de</strong>r, lança a linguagem numa espécie <strong>de</strong> jogo <strong>de</strong>cisivo com a realida<strong>de</strong>, que<br />

mais reforça o senti<strong>do</strong> místico <strong>do</strong> romance <strong>de</strong> Clarice Lispector. (NUNES, 1976,<br />

p.111)<br />

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