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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

pois “dá valores, escalas e significa<strong>do</strong>s aos atos e fatos e dá a eles seqüência e até uma lógica<br />

argumentada”. Nesses termos, “lembrar é ser cultural”.<br />

À explanação <strong>de</strong> Yonamine, precisamos acrescentar a lição que apreen<strong>de</strong>mos<br />

<strong>de</strong> Vani Kenski (1994, p.48), quan<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ra que a “lógica das lembranças é a da emoção”,<br />

tanto que, nos estu<strong>do</strong>s da memória, quan<strong>do</strong> se indaga aos <strong>de</strong>poentes sobre suas vivências, o<br />

que pre<strong>do</strong>mina nas respostas “vai dizer das relações familiares, sociais, culturais”. Trazen<strong>do</strong><br />

essas <strong>de</strong>clarações para o contexto da investigação, nos sentimos respalda<strong>do</strong>s para analisar o<br />

poema “Ruiva”. Neste, a amiza<strong>de</strong> <strong>de</strong> infância travada entre Naveira e Sônia Chinzarian 26 , esta,<br />

filha <strong>de</strong> imigrantes armênios, forneceu material para a composição <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> texto literário,<br />

que transcrevemos em seguida:<br />

Na loja Roche<strong>do</strong><br />

Refulgiam baixelas,<br />

Panelas,<br />

A<strong>do</strong>rnos <strong>de</strong> prata,<br />

Vasilhames <strong>de</strong> cobre,<br />

Faqueiros <strong>de</strong> aço.<br />

Quan<strong>do</strong> o sol passava pelas prateleiras<br />

Os metais cintilavam<br />

Entre papéis púrpuros<br />

E laços <strong>de</strong> fita.<br />

Brilho maior<br />

Eram os cabelos vermelhos,<br />

Cascata <strong>de</strong> fogo,<br />

Torrente <strong>de</strong> ferrugem<br />

Sobre os ombros<br />

Da menina armênia. (NAVEIRA, 1994, p. 49)<br />

É importante reparar que a coletânea Sob os cedros <strong>do</strong> Senhor (1994) é<br />

confessional: os restos da memória naveiriana converti<strong>do</strong>s em arte constituem a obra literária.<br />

Por essa razão, a lembrança da “menina Armênia” (Sônia Chinzarian) é motivada pela relação<br />

social <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> que Naveira mantinha por aquela. A emoção da reminiscência é recobrada<br />

por meio <strong>do</strong> cromatismo: “Brilho maior / Eram os cabelos vermelhos”. No ensaio “Memória,<br />

esquecimento, silêncio”, Michael Pollak (1989, p.11) pon<strong>de</strong>ra que os elementos “<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />

sensorial: o barulho, os cheiros, as cores” atuam na manutenção das lembranças mais<br />

próximas, “aquelas <strong>de</strong> que guardamos recordações pessoais”, o que po<strong>de</strong> ser visto no poema<br />

“Ruiva”. Neste, a cor vermelha pre<strong>do</strong>mina sobre o cromatismo presente nas “Panelas, /<br />

A<strong>do</strong>rnos <strong>de</strong> prata, / Vasilhames <strong>de</strong> cobre”, uma vez que é o vermelho que aciona a memória<br />

literária naveiriana.<br />

26 Entrevista concedida pela escritora Raquel Naveira (no prelo).<br />

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