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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

maioria das pessoas” (1981, p. 138). Zanello observa, a respeito <strong>de</strong> obra posterior <strong>de</strong> Stoller<br />

(1984), que a humilhação é essencial no roteiro <strong>do</strong> erotismo humano, seja pratica<strong>do</strong>, seja<br />

fantasia<strong>do</strong>, sob pena da excitação sexual não ocorrer (cf. 2008). A esse respeito, Pietroforte<br />

comenta que o termo remete ao nome <strong>do</strong>s escritores Sa<strong>de</strong> e Masoch, mas que foram cunha<strong>do</strong>s<br />

“à revelia <strong>do</strong> primeiro, e a contragosto <strong>do</strong> último” (2008, p. 14), já que sadismo só surgiu 72<br />

anos após a morte <strong>de</strong> Sa<strong>de</strong> e o próprio Masoch protestou contra a associação <strong>do</strong> nome da<br />

família a patologias médicas. O autor se aprofunda no tema, comentan<strong>do</strong> a respeito <strong>do</strong><br />

discurso, da ética e da estética sa<strong>do</strong>masoquista (cf. 2008), mas, neste artigo, abordamos a<br />

respeito <strong>do</strong> consentimento (Masoch) e <strong>do</strong> não-consentimento (Sa<strong>de</strong>) em sofrer a violência<br />

sexual, que na poesia <strong>do</strong> gênero aparece <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> moralismos, a exemplo <strong>de</strong>stes versos:<br />

“Madalena arrepen<strong>de</strong>u-se/ <strong>do</strong> próprio arrependimento/ pagou um boquete em Jesus/ quase<br />

pendurada na cruz” (CARDOSO, 2009, revista eletrônica Germina, s.p.), altamente ofensivos<br />

para o leitor cristão (ainda que não seja religioso), po<strong>de</strong>m ter caráter erótico pela sua própria<br />

violência, a qual não é só física (a crucificação), mas também violenta as possíveis crenças <strong>do</strong><br />

leitor, assim o já cita<strong>do</strong> Soneto <strong>do</strong> Nhonhô, que aborda temas como escravidão, racismo e<br />

violência contra a mulher. Estamos exatamente na esteira sa<strong>do</strong>masoquista, afinal, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong><br />

com Maurice Blanchot (1949), para Sa<strong>de</strong> “a maior <strong>do</strong>r <strong>do</strong>s outros conta sempre menos que o<br />

meu prazer” (apud BATAILE, 1987, p. 158).<br />

Bataille comenta que no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho (contemporâneo), o mun<strong>do</strong> da razão, o<br />

homem sofre uma gran<strong>de</strong> perda <strong>de</strong> sua “exuberância sexual”:<br />

É preciso, hoje, que cada um <strong>de</strong> nós preste conta <strong>de</strong> seus atos, obe<strong>de</strong>ça em todas as<br />

coisas às leis da razão. O passa<strong>do</strong> ainda não morreu <strong>de</strong> to<strong>do</strong>, mas só a escória,<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à sua violência dissimulada, escapa ao controle, conserva o excesso <strong>de</strong><br />

energia que o trabalho não absorve. (1987, p. 155)<br />

Para o autor, as manifestações <strong>do</strong> erotismo em geral possuem um caráter maldito,<br />

pois levam a um “<strong>de</strong>spertar silencioso” (BATAILLE, p. 235) em relação à socieda<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

controle social <strong>de</strong> nossos atos, que tão bem nos esclarece Foucault no seu Vigiar e punir: um<br />

mun<strong>do</strong> que se estrutura <strong>de</strong> forma semelhante ao acampamento <strong>de</strong> guerra a fim <strong>de</strong> manter uma<br />

vigilância hierárquica sobre os presentes (cf. 2004). Os palavrões não po<strong>de</strong>m ser ditos numa<br />

conversa respeitosa, nem impunemente ser reproduzi<strong>do</strong>s pela mídia, nem proferi<strong>do</strong>s por um<br />

professor na escola, pois o Códio Penal vigia e a norma paira. (cf. ARANGO, 1991). No<br />

ambiente priva<strong>do</strong>, porém, gozamos ao menos <strong>de</strong> uma barreira física à vigilância, on<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>mos transgredir, ainda que <strong>de</strong> forma fantasiosa, as leis da razão. Assim, essa poesia<br />

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