13.05.2013 Views

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

Mais <strong>do</strong> que o neto escolhi<strong>do</strong> para conduzir as cerimônias <strong>do</strong> funeral, Marianinho<br />

corporifica a manifestação física <strong>do</strong> duplo <strong>de</strong> Dito Mariano, encarrega<strong>do</strong> <strong>de</strong> exorcizar o<br />

monstro. Para exercer a função <strong>de</strong> "anjo puro" e proteger a casa – a terra, a nação – da<br />

condição monstruosa <strong>do</strong> avô, porta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgraça, cabe a Marianinho (re)construir a<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural, para que assim o avô possa se libertar da sonolência que o pren<strong>de</strong> ao<br />

lençol da mesa gran<strong>de</strong>.<br />

O duplo revela-se como projeção consciente <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> reprimi<strong>do</strong> pelo avô<br />

moribun<strong>do</strong>. Segun<strong>do</strong> Freud, na tentativa <strong>de</strong> lidar com o mun<strong>do</strong> externo e mediar questões<br />

internas, o ego reprime emoções provocan<strong>do</strong> uma ansieda<strong>de</strong> mórbida.<br />

[...] se a teoria psicanalítica está certa ao sustentar que to<strong>do</strong> afeto pertence a um<br />

impulso emocional, qualquer que seja a sua espécie, transforma-se, se reprimi<strong>do</strong>, em<br />

ansieda<strong>de</strong>, então, entre os exemplos <strong>de</strong> coisas assusta<strong>do</strong>ras, <strong>de</strong>ve haver uma<br />

categoria em que o elemento que amedronta po<strong>de</strong> mostrar-se ser algo reprimi<strong>do</strong> que<br />

retorna. Essa categoria <strong>de</strong> coisas assusta<strong>do</strong>ras constituiria então o estranho<br />

(FREUD, 1996, p. 258).<br />

O duplo refere-se ao estranho – algo estranhamente familiar, simultaneamente novo e<br />

<strong>de</strong>sagradável – tanto quanto representa essa ansieda<strong>de</strong>, isso reprimi<strong>do</strong> que o indivíduo<br />

escolheu para escon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> si mesmo (cf. GUEDES, 2007, p. 27). Segun<strong>do</strong> Freud, o "[...]<br />

estranho não é nada novo ou alheio, porém algo que é familiar e há muito estabeleci<strong>do</strong> na<br />

mente, e que somente se alienou <strong>de</strong>sta através <strong>do</strong> processo da repressão" (FREUD, 1996, p.<br />

258).<br />

São segre<strong>do</strong>s muito guarda<strong>do</strong>s por Dito Mariano que geram o duplo Marianinho, que<br />

recebe cartas (estranhamente familiares), com a sua própria caligrafia, remetidas pelo avô,<br />

aconselhan<strong>do</strong>-o na tarefa <strong>de</strong> <strong>de</strong>scortinar mistérios e “direitar” <strong>de</strong>stinos.<br />

Tal duplicida<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>ncia-se no prenome <strong>de</strong> ambas as personagens, levan<strong>do</strong>-se em<br />

conta que “[...] O nome próprio é o atesta<strong>do</strong> visível da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>do</strong> seu porta<strong>do</strong>r através <strong>do</strong>s<br />

tempos e <strong>do</strong>s espaços sociais” (BOURDIEU, 1996, p. 187): "[...] não apenas eu continuava a<br />

vida <strong>do</strong> faleci<strong>do</strong>. Eu era a vida <strong>de</strong>le" (COUTO, 2003, p. 22) – e também no sentimento que<br />

ambas nutrem por Admirança: "[...] me custa confessar mas a Tia Admirança me acen<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

mais o rastilho. Tantas vezes a recor<strong>do</strong>, mulherosa, seu corpo e seu cheiro" (COUTO, 2003, p.<br />

58) e "Admirança foi a mulher em minha vida" (COUTO, 2003, p. 233).<br />

Além disso, a procura por inspiração no mais velho para <strong>de</strong>cidir o que fazer na<br />

circunstância <strong>de</strong> sua prisão revela-se como outro indício da condição <strong>de</strong> duplo <strong>de</strong> Marianinho:<br />

"O que faria o Avô naquela circunstância? E penso: é curioso eu procurar inspiração no mais-<br />

velho. Afinal, já vou me exercen<strong>do</strong> como um Malilane" (COUTO, 2003, p. 203).<br />

40

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!