13.05.2013 Views

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

“baixo calão” concorrem para a construção <strong>do</strong> elemento erótico na poesia, <strong>de</strong>finin<strong>do</strong>, pois, o<br />

palavrão e o erotismo como os temas <strong>de</strong> nossa análise.<br />

Para o sociolinguista Dino Preti, as regras da “boa socieda<strong>de</strong>” proíbem o uso <strong>de</strong><br />

termos explícitos com referência aos fenômenos fisiológicos e sexuais, crian<strong>do</strong> a barreira <strong>do</strong><br />

eufemismo e das reticências em substituição <strong>de</strong>sses “termos-tabus” (cf. 1984). O uso <strong>do</strong><br />

palavrão consiste, portanto, na transgressão <strong>de</strong> um interdito social no plano linguístico,<br />

remeten<strong>do</strong>-nos ao ensaio O erotismo, <strong>de</strong> Georges Bataille (1987), sobre a qual José Paulo<br />

Paes (2006) faz uma introdução esquemática:<br />

O prazer encontra seu maior estímulo não na liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> perseguir até on<strong>de</strong> quiser<br />

os seus objetivos, mas no constante interdito <strong>de</strong> fazê-lo, o 'interdito cria<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>sejo' em que Bataille vê a própria 'essência <strong>do</strong> erotismo'. […] mas o interdito<br />

sempre an<strong>do</strong>u <strong>de</strong> mãos dadas com o seu oposto, a transgressão, a qual, numa<br />

incoerência apenas aparente, serve exatamente para lembrá-lo e reforçá-lo: só po<strong>de</strong><br />

se transgredir o que se reconheça proibi<strong>do</strong>. Esse jogo dialético entre a consciência<br />

<strong>do</strong> interdito e o empenho <strong>de</strong> transgredi-lo configura a mecânica <strong>do</strong> prazer erótico,<br />

cujos caminhos são tão varia<strong>do</strong>s, in<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as insinuações da seminu<strong>de</strong>z até o<br />

<strong>de</strong>sbragamento <strong>do</strong> nome sujo (PAES, 2006, p. 17, grifos nossos).<br />

Iniciaremos por algumas consi<strong>de</strong>rações <strong>do</strong> sociolinguista Dino Preti, para em seguida<br />

abordarmos os conceitos <strong>do</strong>s psicanalistas Arango e Stoller, valen<strong>do</strong>-nos, inclusive, das<br />

observações da professora Valeska Zanello sobre os <strong>do</strong>is últimos, que nos remeterão às<br />

reflexões <strong>de</strong> Georges Bataille sobre transgressão e violência, cerne <strong>de</strong> nosso trabalho, com<br />

a<strong>de</strong>n<strong>do</strong>s ao discurso sa<strong>do</strong>masoquista. Para D. H. Lawrence, “a in<strong>de</strong>cência po<strong>de</strong> ser saudável”<br />

36 (apud PAES, 2006). O psicanalista Arango (1991) afirma que obscenida<strong>de</strong> é uma terapia,<br />

assim como para o próprio Bataille “os nomes sujos <strong>do</strong> amor não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser menos<br />

associa<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> uma forma estreita e irremediável para nós, a essa vida secreta que levamos ao<br />

la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s sentimentos mais eleva<strong>do</strong>s” (1987, p. 129). A poesia obscena representa uma forma<br />

<strong>de</strong> escape à socieda<strong>de</strong> da “moral e <strong>do</strong>s bons costumes”, à socieda<strong>de</strong> da vigilância hierárquica,<br />

que inflige sanções normaliza<strong>do</strong>ras, <strong>de</strong> que nos fala Foucault (cf. 2004) em Vigiar e punir?<br />

Nesse contexto, cabe a nós <strong>de</strong>scobrir o papel <strong>do</strong>s palavrões na construção <strong>do</strong> erotismo na<br />

poesia.<br />

2. CU É LINDO<br />

O uso <strong>do</strong> palavrão na poesia erótica ocupa espaço relevante na lírica brasileira<br />

contemporânea, fato notável pela produção presente nas antologias <strong>do</strong> gênero e no espaço<br />

<strong>de</strong>dica<strong>do</strong> a elas nas revistas literárias especializadas. É o caso da Antologia M(ai)S<br />

Sa<strong>do</strong>masoquista da literatura brasileira, organizada por Antonio Vicente Seraphim<br />

36 Título <strong>do</strong> poema <strong>de</strong> D.H. Lawrence, traduzi<strong>do</strong> por José Paulo Paes.<br />

132

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!