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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

Convém lembrar que, em senti<strong>do</strong> mitológico, o Minotauro <strong>de</strong> Creta era um ser ávi<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

sangue, que necessitava ser alimenta<strong>do</strong> anualmente por catorze jovens trazi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Atenas.<br />

“Xavier engor<strong>do</strong>u três quilos e sua força <strong>de</strong> touro acresceu-se” (LISPECTOR, 1998, p. 30).<br />

Ou ainda, quan<strong>do</strong> é <strong>de</strong>scrita a forma como ele se alimenta: “Xavier comia com maus mo<strong>do</strong>s:<br />

pegava a comida com as mãos, fazia muito barulho para mastigar, além <strong>de</strong> comer com a boca<br />

aberta” (LISPECTOR, 1998, p. 30).<br />

Além disso, o texto está permea<strong>do</strong> por um jogo <strong>de</strong> números que, muitas vezes,<br />

parecem ser <strong>de</strong>snecessários ao conto, mas que colaboram para que o efeito cômico se realize<br />

com mais intensida<strong>de</strong>:<br />

Xavier vivia com duas mulheres.[...] Cada noite era uma. À vezes duas vezes por<br />

noite. (p. 27).<br />

A noite <strong>do</strong> último tango em Paris foi memorável para os três. [...] almoçaram às três<br />

horas. [...] Xavier tinha quarenta e sete anos. Carmem tinha trinta e nove e Beatriz já<br />

completara os cinqüenta (p.28).<br />

Durante três dias ele não disse nenhuma palavra às duas [...] Ao teatro os três não<br />

iam. (p. 30).<br />

Às três horas da manhã Xavier teve vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter mulher [...] Que se arranjasse<br />

com a terceira mulher. [...] As duas <strong>de</strong> vez em quanto choravam... (p. 31).<br />

Na cozinha há <strong>do</strong>is facões [...] somos duas e temos <strong>do</strong>is facões (p. 33).<br />

[...] com o auxílio <strong>de</strong> duas pás abriram no chão uma cova (p. 34).<br />

No jardim havia ‘Sete pessoas’ (LISPECTOR, 1998, p. 36).<br />

A insistente repetição <strong>de</strong> números parece querer relativizar fatos que são fora <strong>do</strong><br />

comum, além <strong>do</strong> efeito cômico, como em: “Às seis horas foram os três para a igreja. [...] Os<br />

três na verda<strong>de</strong> eram quatro [...] Foi uma azáfema a preparação das três malas [...] Sentaram-<br />

se em banco <strong>de</strong> três lugares” (LISPECTOR, 1998, p. 29).<br />

Essa opção, em vez <strong>de</strong> outra, como, por exemplo: “No <strong>do</strong>mingo à tar<strong>de</strong> Xavier e suas<br />

mulheres foram à igreja", revela que o narra<strong>do</strong>r se esforça em fazer com que uma situação<br />

insólita se torne familiar, por meio <strong>de</strong> recursos atenuantes.<br />

Essa relativização <strong>do</strong> fato incomum, ao que parece, funciona também como um<br />

recurso <strong>de</strong> ironia. Ao menos é o que acontece quan<strong>do</strong> se diz que “[...] às seis horas da tar<strong>de</strong> os<br />

três foram para a igreja”. A bigamia é con<strong>de</strong>nada pela maioria das igrejas, no entanto, o fato<br />

<strong>de</strong> os três amantes terem i<strong>do</strong> à igreja parece não incomodar a ninguém. Há uma espécie <strong>de</strong><br />

naturalização <strong>de</strong> um costume pouco natural, talvez porque quem o transgrida seja um homem.<br />

As mulheres, apesar <strong>de</strong> diferentes, <strong>de</strong>sempenham e agregam o papel <strong>de</strong> uma, a <strong>de</strong> esposa,<br />

embora em <strong>do</strong>is corpos diferentes, e isso transparece quan<strong>do</strong> elas mantêm relações sexuais<br />

uma com a outra ao <strong>de</strong>scobrirem a traição <strong>de</strong> Xavier. Isso abre possibilida<strong>de</strong>s à hybris das<br />

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