Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />
Kant discute aqui a capacida<strong>de</strong> “a priori” <strong>do</strong> ser-humano receber um “objeto” <strong>de</strong><br />
análise e pensar sobre ele, concentrar-se metafisicamente em questões relativas a ele,<br />
<strong>de</strong>bruçar-se sobre o que o especifica e o que o <strong>de</strong>limita. Isto, segun<strong>do</strong> ele, passa pela<br />
sensibilida<strong>de</strong> inerente a este sujeito, sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intuir sobre algo. Lady MacBeth ao<br />
final da peça enlouquece, po<strong>de</strong>-se analisar este <strong>de</strong>stino trágico como reflexo da mentalida<strong>de</strong><br />
da época <strong>do</strong> escritor, na qual mulheres que se aventuravam em subjugar a moral às ambições<br />
tinham como <strong>de</strong>stino a loucura por penetrarem em espaços “masculinos”, difíceis <strong>de</strong> serem<br />
sustenta<strong>do</strong>s por espíritos tão fracos 47 .<br />
Po<strong>de</strong>-se também observar este final da Lady como uma evolução da própria<br />
personagem que, irrefletidamente se entregou aos <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>pois, ao se <strong>de</strong>parar<br />
com o feito, começa a pensar sobre o ato (no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> Arendt) e se tortura a ponto <strong>de</strong><br />
mergulhar em loucura. Outra possível inquietu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Shakespeare na construção da<br />
personagem po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrita como as divagações da consciência moral que não ousou refrear<br />
o ato excessivo <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> que fala Nietzsche e acabou por culminar em crimes violentos<br />
e consecutivos.<br />
2. MACBETH DE SHAKESPEARE: UM TIPO IDEAL DE TIRANO<br />
Consi<strong>de</strong>ra-se aqui, para efeito <strong>de</strong> análise, a noção rousseauniana <strong>de</strong> tirano e tirania.<br />
Rousseau acredita que, quan<strong>do</strong> o Esta<strong>do</strong> se dissolve, seja qual for o abuso <strong>do</strong> governo, toma o<br />
nome <strong>de</strong> anarquia.<br />
Conforme este autor, a <strong>de</strong>mocracia <strong>de</strong>genera em “ociocracia” e a aristocracia em<br />
oligarquia. Seguin<strong>do</strong> esta linha <strong>de</strong> raciocínio, Rousseau irá acrescentar que a realeza <strong>de</strong>genera<br />
em tirania. O autor explica que, no senti<strong>do</strong> vulgar <strong>do</strong> termo, “o tirano é um rei que governa<br />
com violência e sem respeito à justiça e às leis. No senti<strong>do</strong> preciso, um tirano é um particular<br />
que se arroga a autorida<strong>de</strong> real sem a ela ter direito.” (2002, p.42). Observa-se que Macbeth<br />
enquadra-se perfeitamente a esta <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> tirano, utiliza a violência, e, exerce um po<strong>de</strong>r<br />
sem direito <strong>de</strong> o obter, pois comete crimes para consegui-lo. Rousseau coloca que esta<br />
<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> tirania está <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o que os gregos entendiam por, o po<strong>de</strong>r: “davam-no<br />
indiferentemente aos bons ou maus príncipes cuja autorida<strong>de</strong> não era legítima. Assim sen<strong>do</strong>,<br />
tirano e usurpa<strong>do</strong>r são <strong>do</strong>is termos perfeitamente sinônimos.” (2002, p.42). Aqui se vê uma<br />
diferença <strong>do</strong> personagem com o pensamento <strong>de</strong> Rousseau: Macbeth estava <strong>de</strong>sfrutan<strong>do</strong> <strong>de</strong> um<br />
po<strong>de</strong>r legítimo apesar <strong>de</strong> ilegal.<br />
47 “Mulher , mulier no latim se remetia à mollitia, que significava fraqueza <strong>de</strong> espírito, moleza, flexibilida<strong>de</strong>.”<br />
(Santos, 2005, p. 37).<br />
163