Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>screver com acuida<strong>de</strong> o funcionamento da cultura na socieda<strong>de</strong> contemporânea e <strong>de</strong><br />
buscar sempre as formas <strong>do</strong> emergente, <strong>do</strong> que virá” (CEVASCO, 2003, p. 116).<br />
De certo mo<strong>do</strong>, e assim como Williams 8 , Said nega o pressuposto <strong>do</strong> marxismo<br />
clássico que vê o econômico como <strong>de</strong>terminante. Segun<strong>do</strong> Hall, a primeira tentativa <strong>de</strong> negar<br />
a <strong>de</strong>terminação <strong>do</strong> econômico foi postulada por Althusser, já que ele chegou à conclusão <strong>de</strong><br />
que o cultural/i<strong>de</strong>ológico, o político e o econômico são sobre<strong>de</strong>terminantes, contu<strong>do</strong> Althusser<br />
não conseguiu se <strong>de</strong>svencilhar <strong>do</strong> pressuposto marxista clássico, uma vez que ainda acredita<br />
que, “em última instância”, é o econômico <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina. Gramsci seria, então, o nome que<br />
resolveria este nó teórico, já que ele, segun<strong>do</strong> Hall, tinha plena consciência <strong>do</strong> quanto “as<br />
linhas divisórias ditadas pelos relacionamentos <strong>de</strong> classe eram perpassadas pelas diferenças<br />
regionais, culturais e nacionais; também pelas diferenças nos compassos <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
regional ou nacional.” (HALL, 2003, p. 301). Este posicionamento <strong>de</strong> Gramsci é fundamental<br />
para o nosso estu<strong>do</strong>, uma vez que é ele que permite que uma prática cultural como a literatura<br />
tenha um papel na luta pelo po<strong>de</strong>r, ou pela geografia.<br />
É basicamente isto que Said, assim como Spivak, levemente criticada por Beverley,<br />
propõe: “uma percepção da textualida<strong>de</strong> literária como um mo<strong>de</strong>lo pedagógico para práticas<br />
sociais e políticas não literárias”. (BERVERLEY, 1997, P. 12). Conforme Beverley, po<strong>de</strong>mos<br />
até afirmar que a percepção <strong>de</strong> Said, assim como a <strong>de</strong> Spivak, tem da literatura é<br />
supervalorizada quanto ao po<strong>de</strong>r que ela po<strong>de</strong>ria exercer, porém não po<strong>de</strong>mos negar que sua<br />
visão <strong>do</strong> literário é radicalmente historicizada e, portanto, extremamente politizada.<br />
Queremos com isso apontar que há uma certa convergência entre os pensamentos aqui<br />
levanta<strong>do</strong>s, e ela se dá na forma com que os autores lêem o literário, ou seja, as leituras são<br />
realizadas a contrapelo. É em cima <strong>de</strong>ssa convergência que preten<strong>de</strong>mos realizar a nossa<br />
contra-leitura. Sabidamente não é esta a proposta principal <strong>de</strong> Beverley, mas o que chamamos<br />
<strong>de</strong> contra-leitura po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um passo importante para realizar o que o autor chama<br />
<strong>de</strong> psicanálise da literatura, que “assim como em qualquer psicanálise, não é uma questão <strong>de</strong><br />
liquidar o sujeito, nem <strong>de</strong> curá-lo <strong>de</strong> uma vez para sempre, simplesmente <strong>de</strong> reformá-lo em<br />
novas bases <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a torná-lo um pouco mais apto para a solidarieda<strong>de</strong> e o amor”.<br />
(BEVERLEY, 1997, p. 19). Dessa forma, nos comprometemos a seguir aquela proposta <strong>do</strong><br />
autor que pe<strong>de</strong> um “conceito radicalmente historiciza<strong>do</strong> <strong>de</strong> literatura”.<br />
8 Williams se posiciona contra um materialismo vulgar e um <strong>de</strong>terminismo econômico. “Ele oferece, em seu<br />
lugar, um interacionismo radical: a interação mútua <strong>de</strong> todas as práticas, contornan<strong>do</strong> o problema da<br />
<strong>de</strong>terminação. As distinções entre as práticas são superadas pela visão <strong>de</strong> todas elas como formas variantes <strong>de</strong><br />
práxis – <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> e energia humanas genéricas.” (HALL, 2003, p.137)<br />
50