13.05.2013 Views

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

autoficcionalmente confessional e sincero.” (SANTIAGO, 2008, p. 177, grifos <strong>do</strong> autor), a<br />

multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu sujeito na escrita está explicita em ambas as obras, como veremos na<br />

segunda cena que analisarei.<br />

Entre o ato autobiográfico e o ficcional está o que Silviano Santiago vai<br />

<strong>de</strong>nominar <strong>de</strong> a “verda<strong>de</strong> poética”, único tipo <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> permitida em sua obra, visto que a<br />

verda<strong>de</strong> não é um fato explicito, mas implícito:<br />

As histórias – todas elas, eu diria num acesso <strong>de</strong> generalização – são mal contadas<br />

porque o narra<strong>do</strong>r, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> seu <strong>de</strong>sejo consciente <strong>de</strong> se expressar <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s<br />

parâmetros da verda<strong>de</strong>, acaba por se surpreen<strong>de</strong>r a si pelo mo<strong>do</strong> traiçoeiro como<br />

conta sua história (ao trair a si, trai a letra da história que <strong>de</strong>veria estar contan<strong>do</strong>). A<br />

verda<strong>de</strong> não está explícita numa narrativa ficcional, está sempre implícita, recoberta<br />

pela capa da mentira, da ficção. No entanto, é a mentira, ou a ficção, que narra<br />

poeticamente a verda<strong>de</strong> ao leitor. (SANTIAGO, 2008, p. 177, grifos <strong>do</strong> autor)<br />

Como vemos é o leitor e escritor que estão andan<strong>do</strong> pelo “espaço autobiográfico”<br />

on<strong>de</strong> é permiti<strong>do</strong> essa verda<strong>de</strong> poética, que diz algo sobre o autor, mas diz muito sobre ser<br />

fragmentário e sobre estar inseri<strong>do</strong> num tempo sem passa<strong>do</strong>, presente ou futuro. Contar a<br />

história, como vemos, é traição, por mais que conscientemente queria-se contar a verda<strong>de</strong>,<br />

ainda assim há uma <strong>de</strong>limitação que toda a narrativa impõe: a ficcionalização. Saben<strong>do</strong> disso<br />

é que Santiago (2008) nos mostra que: “um <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s temas que dramatizo em meus<br />

escritos, com o gosto e o prazer da obsessão, é o da verda<strong>de</strong> poética. Ou seja, o tema da<br />

verda<strong>de</strong> na ficção, da experiência vital humana metamorfoseada pela mentira que é a ficção”<br />

(SANTIAGO, 2008, p. 178), e esse prazer pela verda<strong>de</strong> poética, pela mentira que é a ficção,<br />

faz com que todas as histórias sejam mal contadas, porque contá-las bem, revesti-las <strong>de</strong><br />

verda<strong>de</strong>, é ser superficial.<br />

Dessa forma a autobiografia, estruturalmente <strong>de</strong>finida por Lejeune (2008),<br />

passan<strong>do</strong> pela autobiografia ficcional, on<strong>de</strong> há a aceitação da presença da ficção na utilização<br />

da biografia <strong>do</strong> autor, até a autoficção, já em releitura por Santiago (2008), vemos que o<br />

sujeito clássico <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> se <strong>de</strong>terminar pelo cartesianismo, Santiago mesmo joga com a<br />

expressão, não somente em Histórias mal contadas, mas em O falso mentiroso, “sou<br />

cartesiano, à minha maneira, e canhoto. Ambi<strong>de</strong>stro.” (SANTIAGO, 2004, p. 14). Preciso<br />

agora analisar a elaboração teórica <strong>de</strong> Jacques Derrida sobre o sujeito fragmentário e o tempo,<br />

para enten<strong>de</strong>r como funciona a memória <strong>de</strong>sse sujeito, como são seus mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

representação. Para, finalmente, po<strong>de</strong>rmos assistir as duas cenas dramatizadas que proponho<br />

para análise.<br />

2. O SUJEITO FRAGMENTÁRIO E A PRESENÇA DO PRESENTE<br />

112

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!