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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

dizem querer mudar o mun<strong>do</strong> pretendiam apenas usar da nossa ingenuida<strong>de</strong> para se tornarem<br />

os novos patrões. A injustiça apenas mudava <strong>de</strong> turno” (COUTO, 2003, p. 222).<br />

Re<strong>de</strong>scobrir o passa<strong>do</strong>, entretanto, é apenas uma porção da tarefa <strong>de</strong> reinventar a<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural. Tal empreitada não tem como objetivo aquilo a que Robins chama <strong>de</strong><br />

"Tradição": a recuperação <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> anterior pura, um retorno às raízes culturais;<br />

mas a (re)invenção <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural como produto <strong>de</strong> várias histórias e culturas<br />

interligadas, como resulta<strong>do</strong> da negociação com novas culturas, sem que com isso os vínculos<br />

com as próprias origens e tradições sejam afrouxa<strong>do</strong>s, gravitan<strong>do</strong> ao re<strong>do</strong>r daquilo a que<br />

Robins <strong>de</strong>nomina "Tradução" (apud HALL, 2005, p. 87).<br />

[...] a cultura não é apenas uma viagem <strong>de</strong> re<strong>de</strong>scoberta, uma viagem <strong>de</strong> retorno.<br />

Não é uma "arqueologia". A cultura é uma produção. Tem sua matéria-prima, seus<br />

recursos, seu "trabalho-produtivo". Depen<strong>de</strong> <strong>de</strong> um conhecimento da tradição<br />

enquanto "o mesmo em mutação" e <strong>de</strong> um conjunto efetivo <strong>de</strong> genealogias. Mas o<br />

que esse "<strong>de</strong>svio através <strong>de</strong> seus passa<strong>do</strong>s" faz é nos capacitar, através da cultura, a<br />

nos produzir a nós mesmos <strong>de</strong> novo, como novos tipos <strong>de</strong> sujeitos. Portanto, não é<br />

uma questão <strong>do</strong> que as tradições fazem <strong>de</strong> nós, mas daquilo que nós fazemos das<br />

nossas tradições. Para<strong>do</strong>xalmente, nossas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s culturais, em qualquer forma<br />

acabada, estão à nossa frente. Estamos sempre em processo <strong>de</strong> formação cultural. A<br />

cultura não é uma questão <strong>de</strong> ontologia, <strong>de</strong> ser, mas <strong>de</strong> se tornar (HALL, 2008, p.<br />

43).<br />

Na empresa <strong>de</strong> reinvenção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural <strong>de</strong> Dito Mariano, o conhecimento <strong>do</strong><br />

passa<strong>do</strong> histórico e o resgate da tradição <strong>de</strong>vem ser utiliza<strong>do</strong>s na construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

cultural, sem que com isso conduzam ao fundamentalismo cultural exacerba<strong>do</strong> que procura a<br />

auto-afirmação <strong>do</strong> Eu-Nação via extermínio <strong>do</strong> outro (cf. SELLIGMAN-SILVA, 2005, p.<br />

205).<br />

[...] A idéia que eu combato muito é que há agora uma gran<strong>de</strong> tendência, digamos,<br />

tradicionalista em dizer que a nossa verda<strong>de</strong>ira i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> tem que ser procurada no<br />

passa<strong>do</strong>. E isso não constrói nada. A nossa verda<strong>de</strong>ira i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> tem que ser feita<br />

por costuras. Tem que se buscar ao passa<strong>do</strong> aquilo que já sabemos que é uma<br />

operação que vai escolher, que vai selecionar aquilo que tem que ser resgata<strong>do</strong> com<br />

memória. Mas tem que se costurar isso com alguma coisa. E que coisa é essa? E aí é<br />

difícil, porque, <strong>de</strong> fato, o mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> hoje é um mun<strong>do</strong> que oferece coisas muito<br />

fragmentadas, muito dispersas. Que mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> vamos escolher? A resposta tem<br />

que ser "nós vamos escolher aquela que nós fizermos", não po<strong>de</strong>mos escolher, não é<br />

uma coisa que se vá ao merca<strong>do</strong>, ao shopping e "vou comprar um pacote <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>" (COUTO, entrevista inédita realizada em 27 <strong>de</strong> jun. 2009).<br />

Faz-se, portanto, preciso, para a construção i<strong>de</strong>ntitária, o casamento entre tradição e<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. A resposta, segun<strong>do</strong> Hall, "não é apegar-se a mo<strong>de</strong>los fecha<strong>do</strong>s, unitários e<br />

homogêneos <strong>de</strong> 'pertencimento cultural', mas abarcar os processos mais amplos – o jogo da<br />

semelhança e diferença – que estão transforman<strong>do</strong> a cultura no mun<strong>do</strong> inteiro" (HALL, 2008,<br />

p. 45).<br />

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