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Anais do I- EEL - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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REVELL – Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários da UEMS, Ano 01, número 1. ISSN: 2179-4456<br />

os <strong>de</strong>slocamentos <strong>do</strong>s povos têm constituí<strong>do</strong> mais a regra que a exceção, produzin<strong>do</strong><br />

socieda<strong>de</strong>s étnica ou culturalmente ‘mistas’ ”(HALL, 2003, p.55).<br />

As afirmações <strong>de</strong> Hall, relacionadas acima, são úteis para <strong>de</strong>notarmos o<br />

pluralismo cultural que caracteriza a cultura sul-mato-grossense, assim como também po<strong>de</strong>m<br />

ser estendidas à cultura da maioria, senão da totalida<strong>de</strong>, <strong>do</strong>s povos que habitam o planeta.<br />

Deve-se ter em mente que o termo hibridismo (hibridização ou hibridação) é um consenso<br />

entre os pesquisa<strong>do</strong>res quan<strong>do</strong> se referem às migrações e as socieda<strong>de</strong>s multiculturais, o que<br />

po<strong>de</strong> ser exemplifica<strong>do</strong> na resposta <strong>de</strong> Hall à indagação <strong>de</strong> Kuang-Hsing Chen no tocante à<br />

“energia criativa” da diáspora: “Acho que a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural não é fixa, é sempre híbrida.”<br />

(HALL, 2003, 432-433) . .<br />

No poema “Dona Tita”, verifica-se o testemunho literário <strong>do</strong> hibridismo que<br />

marca a contribuição da culinária árabe/libanesa para com a cultura sul-mato-grossense,<br />

<strong>de</strong>stacadamente em Campo Gran<strong>de</strong>, cida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>teve o maior afluxo <strong>de</strong> imigrantes <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong>. Por meio da assimilação <strong>do</strong>s pratos típicos árabes/libaneses, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural <strong>do</strong><br />

<strong>Mato</strong> <strong>Grosso</strong> <strong>do</strong> <strong>Sul</strong> torna-se híbrida, conforme se interpreta no texto poético e lê-se “Na rota<br />

da cultura popular sul-mato-grossense”, <strong>de</strong> Sigrist (2000, p.40): “Com a chegada <strong>do</strong>s<br />

palestinos, libaneses, turcos, armênios, a partir <strong>de</strong> 1910, novos hábitos vão sen<strong>do</strong><br />

incorpora<strong>do</strong>s à cultura <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, principalmente na alimentação e formas <strong>de</strong> comercializar.”<br />

Nota-se ainda que a fala da pesquisa<strong>do</strong>ra inclui as “formas <strong>de</strong> comercializar” como uma das<br />

contribuições <strong>do</strong>s imigrantes à cultura <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, o que concorre para corroborar a presença<br />

das vertentes culturais em Sob os cedros <strong>do</strong> Senhor (1994), como procuramos <strong>de</strong>stacar nos<br />

poemas “Rumo ao Centro-Oeste” e “Camisaria”.<br />

Acreditamos que as citações <strong>de</strong> Sigrist e <strong>de</strong> Hall, com as quais vimos tentan<strong>do</strong><br />

construir nosso pensamento, fornecem também o contexto para pontuarmos que Campo<br />

Gran<strong>de</strong> é uma cida<strong>de</strong> multicultural. Enten<strong>de</strong>mos que o multiculturalismo que hoje constitui a<br />

capital <strong>do</strong> <strong>Mato</strong> <strong>Grosso</strong> <strong>do</strong> <strong>Sul</strong> originou-se na diáspora <strong>do</strong>s povos árabes e armênios rumo ao<br />

Esta<strong>do</strong>, em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> perseguições políticas ou religiosas e, ao abrigar um misto <strong>de</strong><br />

diferentes etnias – libaneses, turcos, sírios, <strong>de</strong>ntre povos <strong>de</strong> outras nacionalida<strong>de</strong>s –, na<br />

atualida<strong>de</strong>, Campo Gran<strong>de</strong> notabiliza-se pela sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural híbrida, que se evi<strong>de</strong>ncia,<br />

por exemplo, nos seus costumes e na sua literatura 25 .<br />

25 Maria Adélia Menegazzo conceitua a literatura campo-gran<strong>de</strong>nse como “uma gran<strong>de</strong> colagem <strong>de</strong> estilos,<br />

linguagens e temas”. Para a estudiosa, esse “fenômeno” guarda relações com os intercâmbios culturais,<br />

provenientes da interação <strong>de</strong> diferentes povos: “Se Campo Gran<strong>de</strong> tem uma fisionomia, e <strong>de</strong>la já se ressaltou<br />

tantas vezes o caráter multifaceta<strong>do</strong>, resulta<strong>do</strong> das constantes trocas culturais que estão na base <strong>de</strong> sua formação,<br />

na literatura essa pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vozes se fará ouvir e raramente encontraremos uma relação direta <strong>de</strong> ilustração<br />

ou reescritura <strong>de</strong> acontecimentos urbanos. A literatura é o espaço <strong>de</strong> todas as possibilida<strong>de</strong>s, das que<br />

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