Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Tendências gerais da arquitectura portuguesa na primeira meta<strong>de</strong> do século XX<br />
12<br />
Capitulo 1<br />
Acompanhar estas tendências estéticas, culturais e técnicas, no campo da<br />
arquitectura, passará sempre pela plena compreensão das realida<strong>de</strong>s estruturais que<br />
enformaram o ―nosso século XX‖. Nesse sentido, não po<strong>de</strong>mos esquecer que a<br />
introdução <strong>de</strong> novas tecnologias na construção potenciava outro tipo <strong>de</strong> respostas,<br />
exigindo um nível a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> formação. O arquitecto viria a substituir, ou a<br />
complementar, outro tipo <strong>de</strong> profissionais, mais ou menos qualificados, que já não<br />
conseguiam respon<strong>de</strong>r a necessida<strong>de</strong>s técnicas, legais e linguísticas. Quais as respostas,<br />
quais reformas que potenciaram estas situação, no contexto do ensino da arquitectura<br />
entre nós? Será outro dos vectores <strong>de</strong> análise que propomos.<br />
Por fim, o <strong>de</strong>senvolvimento urbano materializou-se nas ―novas cida<strong>de</strong>s‖. Estes<br />
espaços urbanos, na sua expansão, fugiram dos limites <strong>de</strong>senhados na Ida<strong>de</strong> Média, os<br />
quais ao longo <strong>de</strong> séculos poucas alterações tinham tido. A pretendida ―cida<strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>rna‖ não passará certamente <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al; contudo, contagiou as mentalida<strong>de</strong>s ―da<br />
capital à província‖. O novo conceito <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> impunha-se trazendo consigo novos<br />
espaços, novas tecnologias, novos equipamentos e, progressivamente, uma estética do<br />
nosso tempo 4 . A relação dos novos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> expansão urbana com a arquitectura e<br />
com o seu <strong>de</strong>bate interno será, <strong>de</strong>sta forma, um terceiro ponto <strong>de</strong> análise.<br />
1.1 Paradigmas estéticos: entre o mo<strong>de</strong>rno e a tradição<br />
Des<strong>de</strong> os finais do século XIX, a arquitectura europeia sofria transformações,<br />
eco <strong>de</strong> uma evolução social, motivada por crises económicas, políticas e sociais ou por<br />
uma tendência <strong>de</strong> alteração <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong>s que acompanhou o fin <strong>de</strong> siècle. Na<br />
realida<strong>de</strong>, foi um <strong>de</strong>bate originado pelas próprias inovações técnicas do século que<br />
findava. Um <strong>de</strong>bate que também terá tido origens nas profundas transformações<br />
económicas, sociais e culturais, fruto da Revolução Industrial. A arquitectura europeia,<br />
ora se pretendia inovadora e se associava às novas técnicas, andando <strong>de</strong> par em par com<br />
a engenharia — promovendo a utilização rotineira do ferro e do vidro —, ora<br />
reivindicava mo<strong>de</strong>los ancestrais, numa lógica ainda muito associada ao romantismo 5 .<br />
Na verda<strong>de</strong>, a origem da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> arquitectónica parece remontar a este<br />
<strong>de</strong>bate entre arte, técnica e i<strong>de</strong>ologia, o qual se prolongou século XX a<strong>de</strong>ntro. Várias<br />
4 Expressão dos jornais da época veja-se Correio da Estremadura, Santarém, ano 47, n.º 2446, 19 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1938.<br />
5 HASSEUR, Arnold, História Social da Arte e da Cultura, trad. <strong>de</strong> Berta Men<strong>de</strong>s, Antonino <strong>de</strong> Sousa e Alberto<br />
Can<strong>de</strong>ias, Estarreja, Editorial Veja/Estante Editora, 1989, vol. 4 e 5.