As multiplicida<strong>de</strong>s do traço — uma análise sistemática da obra <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong> 142 Capítulo 3 contexto uma intervenção isolada. Em Beja, suce<strong>de</strong>u o mesmo, nenhum dos projectos tem qualquer relação urbana com os outros. No entanto, em Serpa, as ―casas para os magistrados‖ 494 construíram a <strong>de</strong>finição estruturante <strong>de</strong> um novo quarteirão e <strong>de</strong> um eixo viário, numa zona <strong>de</strong> expansão <strong>de</strong>ssa vila alentejana. 494 ―Arquitectura Tradicional Portuguesa — Projecto <strong>de</strong> casa <strong>de</strong> habitação para os magistrados, na vila <strong>de</strong> Serpa‖, em ob. cit., 29 e Estampa e ―Arquitectura Tradicional Portuguesa — Projecto <strong>de</strong> outra habitação para os magistrados, na vila <strong>de</strong> serpa‖, em ob. cit., p. 37, 38 e Estampa.
As multiplicida<strong>de</strong>s do traço — uma análise sistemática da obra <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong> 3.3 – A <strong>de</strong>coração, o mobiliário e os espaços interiores 143 Capítulo 3 Durante o inicio do século XX o trabalho do arquitecto já se começava a revelar uma ―obra total‖. Ainda na ―fase <strong>de</strong> projecto‖ se iam prevendo bastantes preocupações com o <strong>de</strong>senho dos interiores e com a sua <strong>de</strong>coração. De facto, se nas obras particulares, estes aspectos po<strong>de</strong>m, muitas vezes, ter sido <strong>de</strong>ixados ao critério <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra pouco qualificada (ou dos próprios ―donos <strong>de</strong> obra‖), progressivamente o arquitecto teria um papel <strong>de</strong>terminante no <strong>de</strong>senho e na <strong>de</strong>coração dos interiores. Não sendo possível aqui fazer uma síntese da história do mobiliário 495 e da <strong>de</strong>coração no século XX português, na verda<strong>de</strong> estes campos acompanhavam as mesmas clivagens idiossincráticas da arquitectura, abordadas no capítulo inicial, entre classicismo e vanguarda. O ―estilo império‖ continuou a dominar gran<strong>de</strong> parte da produção no século XX. Contudo, as novas respostas na linha: primeiro do movimento ―arts and crafts‖; <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma vaga <strong>de</strong> ―arte nova‖ e por fim no quadro da chamada ―art <strong>de</strong>cô‖ — quase sempre associado a construções arquitectónicas <strong>de</strong> linguagem mo<strong>de</strong>rna — modificaram o gosto e as opções estéticas entre os anos 20 e os anos 50 496 . A corrente ―arte nova‖, por exemplo, com um impacte circunspecto 497 na nossa produção arquitectónica, teve um <strong>de</strong>senvolvimento muito particular no <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> mobiliário e na <strong>de</strong>coração interior 498 . Na verda<strong>de</strong>, os novos meios <strong>de</strong> produção, juntamente com a linguagem da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> traziam consigo o nascimento do <strong>de</strong>sign, o pelo menos na sua acepção mo<strong>de</strong>rna 499 . Po<strong>de</strong>remos também comprovar, com alguma facilida<strong>de</strong>, que muitas vezes a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> chegou-nos ―<strong>de</strong>ntro do edifício‖. No caso dos equipamentos públicos, as novas linhas do mobiliário e da <strong>de</strong>coração interior a<strong>de</strong>quavam-se às necessida<strong>de</strong>s técnicas, aos novos materiais <strong>de</strong> produção e, numa lógica <strong>de</strong> simbiose, a uma estética <strong>de</strong> vanguarda. Relembramos a configuração interior da se<strong>de</strong> da Emissora Nacional que correspon<strong>de</strong>u a um claro programa das artes <strong>de</strong>corativas, já com pontuais influências <strong>de</strong> Mallet Stevens. 495 Sobre este assunto veja-se MONTENEGRO, Riccardo, Guia <strong>de</strong> História do Mobiliário : Os Estilos <strong>de</strong> Mobiliário do Renascimento aos anos 50, tradução <strong>de</strong> Maria Das Mercês Peixoto, Lisboa, Editorial Presença, 1995 e GUIMARÃES, Alfredo, Mobiliário Artístico Português : elementos para a sua história, Vila Nova <strong>de</strong> Gaia, Socieda<strong>de</strong> Editorial Pátria, 1935. 496 PEVSNER, Nikolaus, The Sources of Mo<strong>de</strong>rn Achitecture and Design, London, Thames and Hudson, col. ―World of Art‖, reprinted 1995. 497 TOSTÕES, Ana, Arquitectura portuguesa do século XX¸ em História da Arte Portuguesa, dir. Paulo Pereira, Lisboa, Círculo <strong>de</strong> Leitores, 2008, vol. 10, p. 7 a 27. 498 SANTOS, Rui Afonso, ―O Design e a Decoração em Portugal 1900-1994‖ em História da Arte Portuguesa, dir. Paulo Pereira, Lisboa, Círculo <strong>de</strong> Leitores, 2008, vol. 9, p. 75 a 141 499 PEVSNER, Nikolaus, ob. cit.