Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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As multiplicida<strong>de</strong>s do traço — uma análise sistemática da obra <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong><br />
141<br />
Capítulo 3<br />
sua própria transformação, à recriação das formas <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> fruição da<br />
cida<strong>de</strong> 490 .<br />
<strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong> haveria, ainda, <strong>de</strong> ver inaugurados, em Santarém, o Hotel e a<br />
Pastelaria a Abidis, os quais se inseriam no eixo referido. Mais tar<strong>de</strong>, nos anos 50,<br />
<strong>de</strong>senhou uma moradia ocupando um talhão da nova urbanização <strong>de</strong> São Bento. Tratou-se<br />
já <strong>de</strong> uma casa ao ―gosto tradicional‖, mas que ainda assim foi construída no espaço por<br />
excelência da nova expansão da cida<strong>de</strong> ao tempo 491 .<br />
Noutros locais, <strong>de</strong> menor dimensão, o impacto no urbanismo autóctone, das obras<br />
<strong>de</strong>ste arquitecto também se po<strong>de</strong> observar (sem que se conheça, contudo, qualquer outro<br />
caso comparável ao <strong>de</strong> Santarém). Em Almeirim, o conjunto do Café Império com o Cine-<br />
Teatro enformava o espaço do principal jardim público, <strong>de</strong>finindo uma nova lógica <strong>de</strong><br />
centralida<strong>de</strong> na cida<strong>de</strong>. Em Gouveia, a construção do Teatro Cine inseriu-se num programa<br />
<strong>de</strong> construção <strong>de</strong> equipamentos públicos <strong>de</strong> iniciativa privada, li<strong>de</strong>rado pelo industrial<br />
Lopes da Costa 492 , iniciado com a construção <strong>de</strong> um jardim público (ainda promovida por<br />
Lopes da Costa pai), o qual aliás se localizava na mesma área <strong>de</strong> expansão da vila. Pouco<br />
tempo após o início da construção do ―cinema teatro‖, o mesmo grupo <strong>de</strong> capitalistas<br />
encomenda a <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong>, um projecto <strong>de</strong> reabilitação para o futuro Gouveia-Hotel. Não<br />
constituindo um eixo com relevância na vila, o aspecto mais interessante <strong>de</strong>stas obras, no<br />
que toca ao urbanismo, foi a sua iniciativa privada e o seu enquadramento num programa<br />
<strong>de</strong> melhoramentos global do espaço urbano. A elite local <strong>de</strong> industriais soube que só<br />
colmatando as falhas infra-estruturais da vila po<strong>de</strong>ria almejar a maior <strong>de</strong>senvolvimento e,<br />
ao mesmo tempo, potenciar a sua própria activida<strong>de</strong> empresarial.<br />
Por fim, existirão outros casos, em que obras fora do registo mo<strong>de</strong>rno, ou <strong>de</strong><br />
alguma ―proto-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>‖, tenham tido impacte no <strong>de</strong>senho dos aglomerados urbanos.<br />
Já referimos Ponte <strong>de</strong> Lima, em Beja e na Covilhã isso não aconteceu. Na Covilhã, <strong>de</strong><br />
facto uma das obras <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong>, as casas geminadas para Ambrósio Nave Catalão 493<br />
ocuparam um talhão da zona <strong>de</strong> expansão urbana: ―o sítio <strong>de</strong> palhais‖, mas foi nesse<br />
490 LOPES, Tiago Soares e NORAS, José R. ob cit.<br />
491 Sobre a urbanização <strong>de</strong> São Bento (Santarém) veja-se ―Na era do engran<strong>de</strong>cimento nacional a urbanização do planalto<br />
<strong>de</strong> S. Bento cujas grandiosas linhas são da iniciativa do Sr. Ministro das Obras Públicas‖, em Correio da Extremadura‖,<br />
Santarém, ano 49, n.º 2532, 11 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1939, p. 1.<br />
492 Veja-se S., C., ―Gouveia e o seu progresso‖, em Notícias <strong>de</strong> Gouveia, Gouveia, ano XXIX, n.º 1242, 10 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong><br />
1942, p.1 e ―Pela nossa Terra! - 1º Aniversário do Teatro-Cine <strong>de</strong> Gouveia‖,em Notícias <strong>de</strong> Gouveia, Gouveia, ano XXX,<br />
n.º 1317, 7 <strong>de</strong> Novembro, p.1<br />
493 ―Dois Edifícios da Covilhã primeira parte do artigo‖, em Arquitectura Portuguesa – revista mensal da arte<br />
arquitectural antiga e mo<strong>de</strong>rna, Lisboa, n.º 12, ano XXI, Dezembro <strong>de</strong> 1928, p. 50 e estampa.