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Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Desenhos <strong>de</strong> uma vida: o percurso biográfico <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong><br />

51<br />

Capítulo 2<br />

como parte da elite. Tornando-se, assim, manifesto que o gosto das elites ainda se associava à<br />

reivindicação dos mo<strong>de</strong>los tradicionais 199 .<br />

Nos anos 30, a abertura a temas da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> foi acompanhada (e talvez<br />

simultaneamente resultante) <strong>de</strong> alterações nesse quadro sociológico da clientela. Des<strong>de</strong> logo,<br />

assistimos ao predomínio da encomenda <strong>de</strong> equipamentos públicos, ao invés das tipologias <strong>de</strong><br />

habitação dominantes na fase anterior. O caso dos cineteatros foi, neste contexto,<br />

paradigmático: tanto em Santarém, como em Gouveia ou, ainda, em Almeirim (e mais tar<strong>de</strong><br />

em Abrantes), os projectos <strong>de</strong> arquitectura <strong>de</strong>sses espaços são encomendados por associações<br />

e ou clubes locais — por vezes constituídos em empresa para o efeito. Esta tipologia <strong>de</strong><br />

edifício pretendia respon<strong>de</strong>r a necessida<strong>de</strong>s das populações, que não eram apenas técnicas ou<br />

infra-estruturais, mas também assumidamente estéticas 200 .<br />

Nestes casos, as entida<strong>de</strong>s encomendadoras — como se referiu, geralmente socieda<strong>de</strong>s<br />

limitadas ou associações culturais (o Club <strong>de</strong> Santarém 201 ou a Empreza do Teatro-Cine 202 ,<br />

por exemplo) —, representavam já uma burguesia urbana culturalmente <strong>de</strong>sperta. Em muitos<br />

dos casos, estas agremiações foram compostas por individualida<strong>de</strong>s ou grupos <strong>de</strong> pressão que<br />

propunham novas formas <strong>de</strong> pensar a cida<strong>de</strong>, cientes das necessida<strong>de</strong>s técnicas, bem como do<br />

fulgor das respostas mo<strong>de</strong>rnas que certa arquitectura ia perspectivando 203 . Claro que, para<br />

além dos cine-teatros, outras tipologias <strong>de</strong> equipamento estiveram associadas a este novo<br />

perfil clientela. Os ―café mo<strong>de</strong>rnos‖ tanto no aspecto e na concepção, como na nomenclatura,<br />

foram outros exemplos disso, po<strong>de</strong>ndo-se citar o caso do ―Café Central‖, em Santarém,<br />

encomendado por Carolina Fernão Pires e inaugurado em 1937 204 .<br />

A partir <strong>de</strong> meados da década <strong>de</strong> 40, acompanhando a reaproximação ao tradicional,<br />

também se verificaram mudanças no que toca à clientela. Nos anos 50, são notórios dois<br />

perfis <strong>de</strong> cliente respeitantes à activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong>: por um lado, gran<strong>de</strong>s industriais<br />

ou latifundiários, como A. Lopes da Costa ou Fernando Salgueiro 205 ; por outro lado, pequenos<br />

e médios proprietários agrícolas, como por exemplo Manuel <strong>Coimbra</strong> 206 e uma classe média<br />

199 TOSTÕES, Ana Cristina, ob. cit., i<strong>de</strong>m.<br />

200 ―Melhoramentos citadinos – Inaugura-se hoje o novo Café Central‖, Correio da Extremadura, Santarém, n.º 2398, 17 <strong>de</strong><br />

Abril <strong>de</strong> 1937, p. 6<br />

201 Sobre o Club <strong>de</strong> Santarém veja-se CUSTÓDIO, Jorge, ―As linhas <strong>de</strong> força da História Social <strong>de</strong> Santarém no século XIX‖<br />

em Santarém a Cida<strong>de</strong> e os Homens, Santarém, Junta Distrital <strong>de</strong> Santarém/Museu Distrital <strong>de</strong> Santarém, 1977, p. 17 a 64<br />

[Actas].<br />

202 ―Empreza Cine-Teatro <strong>de</strong> Gouveia, Limitada‖, em Notícias <strong>de</strong> Gouveia, Gouveia, n.º 1249, ano XXVIII, 22 <strong>de</strong> Junho<br />

1942, p.4 [Anúncio]<br />

203 FERNANDES, José Manuel, ―A cida<strong>de</strong> e as serras urbanida<strong>de</strong> da arquitectura mo<strong>de</strong>rnista‖, em ob. cit., p. 105 – 115.<br />

204 ―O Café Central inaugurou no sábado último as novas suas instalações‖ , em Correio da Extremadura, Santarém, n.º<br />

2399, ano 47, 24 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1937, p.2<br />

205 Gran<strong>de</strong> proprietário agrícola e cavaleiro tauromáquico da vila <strong>de</strong> Coruche, que encomendou a <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong> a sua<br />

moradia na Quinta da Azervada no final da década <strong>de</strong> 1940.<br />

206 Proprietário agrícola da vila da Golegã.

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