16.06.2013 Views

Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

As multiplicida<strong>de</strong>s do traço — uma análise sistemática da obra <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong><br />

79<br />

Capítulo 3<br />

O ―bairro operário‖, segundo o que se conhece, não chegou a ser edificado 285 . As<br />

circunstâncias políticas e económicas não o favoreceram. Os diversos interlocutores da<br />

imprensa local sustentaram que a incipiente industrialização <strong>de</strong> Ponte <strong>de</strong> Lima,<br />

dificilmente, justificaria a construção <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> habitação. Existem também indícios <strong>de</strong><br />

que o empréstimo <strong>de</strong> capital, obtido pela câmara municipal, ter-se-á esgotado nas obras do<br />

mercado. Aliás, alguns críticos ou curiosos julgaram, ao longo do tempo, que o edifício do<br />

mercado tinha permanecido inacabado <strong>de</strong>vido a inexistência <strong>de</strong> um quarto torreão,<br />

elemento, como vimos, nunca consi<strong>de</strong>rado em projecto.<br />

Os <strong>de</strong>senhos para o bairro operário reflectiam preocupações com o chamado<br />

―problema da habitação‖. Estas propostas enquadravam-se perfeitamente nas teorias<br />

advogadas por Raúl Lino, fosse do ponto <strong>de</strong> vista da economia dos meios, como no que<br />

toca às opções estéticas 286 . A habitação operária é um dos maiores problemas que está por<br />

resolver no nosso país, sustentava à época o articulista da revista citada, para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

ainda: é para nós consolador po<strong>de</strong>r contar com uma solução satisfatória que fica com<br />

exemplo utilíssimo 287 . O bairro projectado dividia-se por vários talhões, em cada um <strong>de</strong>les<br />

erguiam-se três construções <strong>de</strong> moradias múltiplas geminadas. Na rua principal do bairro<br />

existia uma rotunda com uma fonte no centro. Estavam previstos dos tipos <strong>de</strong> edifícios,<br />

apenas divergentes no número <strong>de</strong> habitações. O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> moradia A possuía duas<br />

habitações geminadas, já para o mo<strong>de</strong>lo B estavam previstas três habitações. Todas as<br />

casas tinham cinco divisões: lavabos, cozinha, dois quartos e uma sala <strong>de</strong> jantar. As<br />

moradias possuíam, ainda, quintais próprios que ocupavam gran<strong>de</strong> parte do terreno dos<br />

lotes 288 . A linguagem estética, como seria <strong>de</strong> esperar, em nada diferia <strong>de</strong> uma lógica<br />

tradicional, com beirados à portuguesa, as características chaminés ou os alpendres nas<br />

entradas 289 .<br />

A outra gran<strong>de</strong> preocupação, assumida por este projecto, relacionou-se com o<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização urbanística, no caso muito próximo da escola romântica. De facto,<br />

estamos perante a primeira intervenção sobre um espaço urbano, proposta por <strong>Amílcar</strong><br />

285 Segundo a nossa pesquisa nas notícias do jornal o Car<strong>de</strong>al Saraiva. As actas da câmara são inconclusivas, dando a<br />

enten<strong>de</strong>r que o empréstimo obtido apenas cobriu a construção do mercado, veja-se―Acta da reunião <strong>de</strong> Câmara <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong><br />

Agosto <strong>de</strong> 1927‖, em Livro <strong>de</strong> Actas da Câmara Municipal <strong>de</strong> Ponte <strong>de</strong> Lima 1923-1929, p. 202, Arquivo Municipal <strong>de</strong><br />

Ponte <strong>de</strong> Lima.<br />

286 Cf. RIBEIRO, Irene, Raúl Lino, Pensador nacionalista da Arquitectura, p. 53 a 63.<br />

287 ―Um bairro operário em Ponte <strong>de</strong> Lima‖ [arquitecto <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong>], em Arquitectura Portuguesa – revista mensal <strong>de</strong><br />

construção e <strong>de</strong> arquitectura prática, Lisboa, n.º 5, ano XXIII (2ª série), Maio <strong>de</strong> 1930, p. 35 a 37 e n.º 6, ano XXIII (2ª<br />

série), Junho <strong>de</strong> 1930, p. 41 a 42.<br />

288 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 41.<br />

289 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 42.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!