Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Desenhos <strong>de</strong> uma vida: o percurso biográfico <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong><br />
52<br />
Capítulo 2<br />
urbana, como por exemplo Alberto Maria Bravo 207 ou Manuel Antunes Men<strong>de</strong>s 208 . Nesta<br />
altura, o Ribatejo transforma-se no principal núcleo da produção arquitectónica <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong><br />
<strong>Pinto</strong>. Na verda<strong>de</strong>, estamos em crer, que foi essa ligação pessoal e particular a várias cida<strong>de</strong>s e<br />
vilas ribatejanas (como por exemplo Santarém, Golegã, Coruche ou Almeirim), que garantiu a<br />
<strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong> a encomenda da ―nova‖ Casa do Campino, já nos anos 60.<br />
Em jeito <strong>de</strong> síntese consi<strong>de</strong>ramos existirem três perfis gerais <strong>de</strong> clientela, no que diz<br />
respeito à encomenda privada <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong>. Um <strong>de</strong>sses perfis enquadra a classe média<br />
alta, radicada na província, ligada ou à exploração <strong>de</strong> latifúndios agrícolas ou a activida<strong>de</strong>s<br />
industriais <strong>de</strong> alta rentabilida<strong>de</strong>, tratou-se <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> cliente caracterizado por um gran<strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>r económico e por uma sensibilida<strong>de</strong> cultural conservadora. Este tipo <strong>de</strong> cliente,<br />
predominante nos anos 20 e 30, foi constante ao longo da carreira <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong>. Todavia,<br />
a partir dos finais dos anos 50 são mais raras encomendas <strong>de</strong> clientes com este quadro<br />
sociológico — <strong>de</strong>vendo para isso também se consi<strong>de</strong>rar as alterações no tecido económico<br />
nacional e as muitas falências no pós-guerra, entre os factores responsáveis, por esse status<br />
quo 209 . Este perfil <strong>de</strong> cliente relaciona-se com as Beiras, num caso e com o Alentejo no outro.<br />
Mais predominante nos 50 e 60 terá sido um perfil cliente associado à classe média<br />
propriamente dita. Neste tipo <strong>de</strong> clientela incluímos pequenos proprietários agrícolas e uma<br />
burguesia urbana empresarial. Eram pessoas com menos capacida<strong>de</strong> económica, mas ainda<br />
arreigadas a um conservadorismo sócio cultural, que se reflectia na encomenda. Vamos<br />
encontrar esta classe média conservadora em muitos locais, sendo dominante no Ribatejo.<br />
O terceiro perfil <strong>de</strong> cliente está associado às já referidas associações, clubes ou<br />
empresas que recorreram aos préstimos <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong> durante os anos 30. Tem <strong>de</strong> se<br />
salientar que essas agremiações eram constituídas por pessoas oriundas <strong>de</strong> uma classe média<br />
urbana, a qual, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do seu po<strong>de</strong>r económico, estava atenta às transformações<br />
culturais da época. Tais colectivida<strong>de</strong>s constituídas por indivíduos comprometidos<br />
politicamente — fosse com o Estado Novo ou com movimentos oposicionistas — assumiam,<br />
quase sempre, um papel catalisador na reorganização urbana local 210 . Nem em todos os casos<br />
este ―tipo <strong>de</strong> cliente‖ esteve associado a uma entida<strong>de</strong> colectiva, por vezes, foram<br />
individualida<strong>de</strong>s locais que tomaram a seu cargo a construção <strong>de</strong> novos equipamentos<br />
urbanos, criando a posteriori empresas para o efeito 211 . A dispersão geográfica, <strong>de</strong>sta<br />
207<br />
Empresário lisboeta ligado a uma firma <strong>de</strong> importações e exportações com a Alemanha, falecido em 1959.<br />
208<br />
Engenheiro.<br />
209<br />
Alberto Miguel e Arnaldo Teixeira <strong>de</strong> Castelo Branco, por exemplo, foram dois industriais da Covilhã que <strong>de</strong>claram<br />
falência pouco <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1945.<br />
210<br />
LOPES, Tiago Soares; NORAS, José R. ob. cit, ibi<strong>de</strong>m.<br />
211<br />
Como António Lopes da Costa, em Gouveia, ou Francisco Serra Lynce, em Alcácer do Sal.