Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Tendências gerais da arquitectura portuguesa na primeira meta<strong>de</strong> do século XX<br />
21<br />
Capitulo 1<br />
<strong>de</strong>sta extensa formação apresentasse uma tese final, sob a forma <strong>de</strong> projecto, no<br />
chamado ―Concurso ao Diploma‖. Nesta forma <strong>de</strong> organizar o plano <strong>de</strong> estudos, a<br />
reforma dos republicanos correspondia às intenções da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Arquitectos<br />
Portugueses (SAP). Contudo, o plano curricular manteve o gran<strong>de</strong> pendor das<br />
disciplinas <strong>de</strong> história e uma filiação bastante próxima da École <strong>de</strong>s Beaux Arts<br />
parisiense, não incorporando as ca<strong>de</strong>iras técnicas reivindicadas pela SAP 49 .<br />
A disciplina <strong>de</strong> arquitectura civil, ministrada por José Luís Monteiro, ao tempo<br />
também director da escola, baseava-se em paradigmas clássicos. Estava organizada em<br />
torno da arquitectura greco-romana no primeiro ano. Nos anos subsequentes estudava-se<br />
a arquitectura doméstica e monumental. Depois, no quinto ano, os alunos <strong>de</strong>bruçavam-<br />
se sobre a teoria da arquitectura, bem como sobre a conservação e o restauro <strong>de</strong><br />
monumentos. A influência classicista <strong>de</strong> José Luís Monteiro sobre uma nova geração <strong>de</strong><br />
arquitectos foi bastante notória. Contudo, essa influência também terá, em nosso<br />
enten<strong>de</strong>r, contribuindo para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rasgar horizontes sentida pelos arquitectos<br />
da ―geração mo<strong>de</strong>rnista‖, nos dizeres <strong>de</strong> Nuno Portas 50 . Na escola do Porto, a mesma<br />
proeminência <strong>de</strong> uma figura tutelar fez-se sentir com Marques da Silva, ainda que numa<br />
lógica <strong>de</strong> ensino mais cosmopolita, <strong>de</strong>ntro das tendências da época 51 .<br />
O professor José Luís Monteiro (…) exigia só o clássico. O aluno <strong>de</strong><br />
arquitectura não podia fazer senão clássico; era uma norma, ninguém podia sair <strong>de</strong>sta<br />
cintura <strong>de</strong> ferro 52 — afirmou Cristino da Silva, numa entrevista em 1971. Cristino e a<br />
gran<strong>de</strong> maioria dos arquitectos da sua geração procuraram completar a sua formação<br />
como arquitectos nas capitais europeias do pós-guerra. Aliás, seguiam uma tradição, na<br />
qual a aca<strong>de</strong>mia e agora a escola <strong>de</strong> Lisboa consistiam apenas numa preparação para a<br />
nova fase <strong>de</strong> aprendizagem na Europa. No entanto, se outrora os mestres, como<br />
Monteiro, trouxeram <strong>de</strong> Paris e <strong>de</strong> Roma essa ―cintura <strong>de</strong> ferro‖ classicista, a lição<br />
europeia do século XX seria um horizonte mo<strong>de</strong>rno. Cristino da Silva, Cassiano Branco,<br />
Carlos Ramos, Cottineli Telmo, Rodrigues Lima, são apenas alguns nomes <strong>de</strong> uma<br />
geração educada no mo<strong>de</strong>lo beauxartiano, que ousou romper as regras dos mestres e<br />
inovar. A sua inovação, na realida<strong>de</strong>, incorporava as tendências <strong>de</strong> um novo século, <strong>de</strong><br />
49 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.<br />
50 PORTAS, Nuno, ob. cit., p. 170 a 194.<br />
51 TOSTÕES, Ana, Arquitectura portuguesa do século XX¸ em História da Arte Portuguesa, p. 20 a 22.<br />
52 Cristino da Silva cit. por João <strong>de</strong> Sousa Rodolfo, ob cit., p. 39.