Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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As multiplicida<strong>de</strong>s do traço — uma análise sistemática da obra <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong><br />
88<br />
Capítulo 3<br />
principal da entrada, em sucupira, <strong>de</strong>fine a comunicação organizacional do espaço e<br />
também a matriz <strong>de</strong>corativa do interior. 303<br />
Qualquer uma <strong>de</strong>stas três moradias analisadas representa uma nova formulação<br />
teórica e técnica no contexto da produção <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong>. Na sequência <strong>de</strong>stes três<br />
projectos assiste-se sobretudo à maturação <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo próprio associado ao programa<br />
arquitectónico da habitação unifamiliar.<br />
3.1.4.2 – As “casas ribatejanas” e a Casa do Campino<br />
A última fase da carreira <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong> coincidiu com a transformação da região<br />
ribatejana no principal núcleo da sua produção arquitectónica. Na realida<strong>de</strong>, para além das<br />
obras i<strong>de</strong>ntificadas ou atribuídas (com maior ou menor fundamento) a este arquitecto, por<br />
todo o Ribatejo existem bastantes moradias da sua suposta autoria ou da sua suposta<br />
intervenção, quase sempre ligadas a uma construção conceptual, radicada na imagética da<br />
―casa ribatejana‖ 304 .<br />
Essas ―casas regionais‖ <strong>de</strong>rivaram da mesma formulação teórica do anterior<br />
movimento ―casa portuguesa‖, estando associados ao esforço <strong>de</strong> refundação i<strong>de</strong>ntitária do<br />
Estado Novo à luz da reforma administrativa <strong>de</strong> 1936 305 . As manifestações culturais<br />
relacionadas com folclore integravam-se no novo mapa das províncias continentais,<br />
integrando realida<strong>de</strong>s, mais ou menos, proto-regionais preexistentes, com outras recriadas<br />
como legitimação do processo. A suposta existência <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los arquitectónicos regionais<br />
<strong>de</strong> habitação foi um dos matizes idiossincrásicos <strong>de</strong>sse processo. Na realida<strong>de</strong>, se o<br />
inquérito à arquitectura popular dos anos 60 iria <strong>de</strong>sconstruir o mito da ―casa portuguesa‖,<br />
também a i<strong>de</strong>ia organicista <strong>de</strong> uma ―casa portuguesa‖ <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> várias ―casas regionais‖<br />
<strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fensável. Na verda<strong>de</strong>, a arquitectura popular radica em mo<strong>de</strong>los comuns,<br />
com algumas diferenças regionais, sobretudo no que toca aos materiais utilizados, ou na<br />
303 Projecto da Moradia que Exm.º Sr. Alberto Maria Bravo preten<strong>de</strong> fazer no seu terreno na rua Epifânio Dias,<br />
Freguesia <strong>de</strong> Arroios”, i<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, fl. 4 a 46; Projecto <strong>de</strong> Moradia para Manuel Antunes Men<strong>de</strong>s, Câmara Municipal<br />
<strong>de</strong> Santarém — Arquivo do Departamento <strong>de</strong> Urbanismo – Processo 01-1955/71.<br />
304 MOUTINHO, Mário, ob. cit, ibi<strong>de</strong>m.<br />
305 SANTOS, José António dos, ―Província‖ em PEREIRA, Nuno Teotónio, ―Arquitectura‖, em Dicionário <strong>de</strong><br />
História do Estado Novo, coord. Fernando Rosas e J. M. Brandão <strong>de</strong> Brito, Lisboa, Círculo <strong>de</strong> Leitores,<br />
1996, vol. 3, 197 a 200.