Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
As multiplicida<strong>de</strong>s do traço — uma análise sistemática da obra <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong><br />
77<br />
Capítulo 3<br />
por exemplo o Mercado Municipal <strong>de</strong> Loulé, renovado na época, mantinha a opção<br />
revivalista bem presente, surgindo ainda como mo<strong>de</strong>lo programático. Avançando na<br />
década <strong>de</strong> 30 a <strong>de</strong>ntro já encontramos projectos ―assumidamente mo<strong>de</strong>rnistas‖ para<br />
mercados, como por exemplo o do Mercado Municipal da Lourinhã, do ―artista‖ Pereira da<br />
Silva 278 , ou ainda o projecto, nunca executado, para um Mercado Municipal em <strong>Coimbra</strong>,<br />
do arquitecto António Varela e do engenheiro Pacheco <strong>de</strong> Sousa 279 .<br />
O mercado <strong>de</strong> Ponte <strong>de</strong> Lima, concebido por <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong>, terá sido inaugurado<br />
em Abril <strong>de</strong> 1931 280 . No contexto, que se acabou <strong>de</strong> sintetizar, da arquitectura <strong>de</strong> mercados<br />
foi sem dúvida a ―pedra <strong>de</strong> toque‖ <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo tradicional, com referências revivalistas.<br />
Apresenta uma planta rectangular, na qual os três ângulos principais do mercado surgem<br />
fechados por torreões octogonais – para utilização como escritórios e como administrações.<br />
No gaveto da fachada posterior existia uma pérgula, no único ângulo sem torreão, a qual<br />
permitia o acesso ao mercado pelos carros abastecedores. Aí, também se localizavam as<br />
infra-estruturas sanitárias. A fachada principal (virada ao sul), com um alto muro <strong>de</strong><br />
suporte, estava construída <strong>de</strong> forma a fazer frente às enchentes do rio Lima. Esta fachada,<br />
<strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista formal, adoptava a configuração <strong>de</strong> um solar: duas escadarias em<br />
pedra, diagonalmente opostas, permitiam a passagem para a entrada principal. O interior<br />
estava or<strong>de</strong>nado segundo dois eixos perpendiculares, dividindo o terraço em arruamentos e<br />
quarteirões, on<strong>de</strong> se arrumavam os ven<strong>de</strong>iros.<br />
O betão estava ausente da construção e o ferro teve limitada utilização. Toda a<br />
estrutura coberta do mercado foi construída em granito, em alvenaria <strong>de</strong> pedra, utilizando-<br />
se a ma<strong>de</strong>ira no sobrado dos torreões. A escolha dos materiais apelava a um i<strong>de</strong>ário<br />
regionalista, atente-se no redactor <strong>de</strong> A Arquitectura Portuguesa: ―o granito da região que<br />
é característico e toma lindas ‗patines‖ 281 . O artigo continuava, <strong>de</strong>screvendo nestes termos<br />
a construção: ―as linhas arquitectónicas são nacionais e inspirados nos vários edifícios<br />
solarengos que povoam a região minhota‖. 282 O imóvel atesta a veracida<strong>de</strong> da afirmação,<br />
revelando-nos a sua origem numa linguagem formal culturalista e historicizante, para a<br />
278<br />
―Uma exposição nas Caldas da Rainha, trabalhos do artista Pereira da Silva‖ em Arquitectura Portuguesa, Lisboa, n.º<br />
42, ano XXXI (3ª série), Setembro <strong>de</strong> 1938, p. 10 a 17<br />
279<br />
―Um mercado municipal para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>‖, em Arquitectura Portuguesa, Lisboa, n.º 41, ano XXXI (3ª série),<br />
Agosto <strong>de</strong> 1938, p. 14 a 15.<br />
280<br />
Segundo o artigo ―Mercado Municipal <strong>de</strong> Ponte <strong>de</strong> Lima‖, em Arquitectura Portuguesa – revista mensal <strong>de</strong><br />
construção e <strong>de</strong> arquitectura prática, Lisboa, n.º 7, ano XXIV (2ª série), Julho <strong>de</strong> 1931, p. 49 a 50 e p. 55, subsistem<br />
dúvidas <strong>de</strong>vido à ausência <strong>de</strong> notícias <strong>de</strong>sse facto na imprensa local até 1933.<br />
281<br />
―Mercado municipal <strong>de</strong> Ponte <strong>de</strong> Lima‖, Arquitectura Portuguesa – revista mensal <strong>de</strong> construção e <strong>de</strong> arquitectura<br />
prática, Lisboa, n.º 7, ano XXIV (2ª série), Julho <strong>de</strong> 1931, p. 54.<br />
282<br />
I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 55.