Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
As multiplicida<strong>de</strong>s do traço — uma análise sistemática da obra <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong><br />
74<br />
Capítulo 3<br />
<strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong>, para além <strong>de</strong> se inserir na idiossincrasia do ―gosto tradicional‖, apropria<br />
completamente o i<strong>de</strong>ário do monte alentejano 268 .<br />
Esta ―casa do lavrador‖ dispõe-se em dois pisos. No alçado principal, virado a<br />
norte, rasgam-se duas entradas simétricas num corpo intermédio. Possuem ambas uma<br />
breve escada e um alpendre, através <strong>de</strong>las temos acesso aos corredores. O primeiro<br />
corredor transversal comunica com um escritório e com uma sala <strong>de</strong> estar, bem como com<br />
o vasto salão nobre (ou ―gran<strong>de</strong> sala <strong>de</strong> estar‖). Do lado direito, um corredor, paralelo ao<br />
salão, permite ace<strong>de</strong>r a três quartos e a uma casa <strong>de</strong> banho. Toda esta ala do edifício se<br />
po<strong>de</strong>ria isolar do resto da casa, sendo, circunstancialmente, <strong>de</strong>stinada a hóspe<strong>de</strong>s. Através<br />
quer do salão nobre, quer do corredor paralelo, a este do lado esquerdo, ace<strong>de</strong>mos a um<br />
vasto corredor transversal, permitindo a circulação por todas as divisões da casa. Na ala<br />
norte, dispõem-se: dois quartos e uma casa <strong>de</strong> banho. Na ala sul, localizam-se: a sala <strong>de</strong><br />
jantar, a copa e a cozinha. O corredor <strong>de</strong>sembocava num átrio, resultante da entrada<br />
secundária no topo oeste, permitindo ainda o acesso à casa do forno, ao forno e a uma<br />
arrecadação. A cozinha tem comunicação com um <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> água adossado à habitação.<br />
Na copa, uma escada <strong>de</strong> serviço permite a ligação à a<strong>de</strong>ga, disposta em várias divisões na<br />
cave. O corredor da entrada lateral esquerda possibilita a subida ao segundo piso, o qual se<br />
<strong>de</strong>senvolve no torreão do corpo intermédio. Neste piso, encontram-se cinco quartos e uma<br />
retrete, sendo dois quartos <strong>de</strong>stinados às criadas. O quarto maior, virado a sul, possuiu um<br />
amplo terraço; sob esse terraço, no prolongamento do salão nobre, existe uma alpendrada<br />
coberta comunicante com exterior. No alçado sul, a cave tinha duas portas <strong>de</strong> entrada para<br />
a rua, em virtu<strong>de</strong> do <strong>de</strong>snível do terreno 269 .<br />
A <strong>de</strong>coração do conjunto reflecte várias características regionais, por exemplo: os<br />
<strong>de</strong>senhos das janelas, os pequenos óculos <strong>de</strong>corativos, o remate dos beirados ou o <strong>de</strong>senho<br />
das chaminés. A lareira ampla com orifício <strong>de</strong> ―chupão‖ e canal <strong>de</strong> saída <strong>de</strong> fumo ou<br />
própria casa do forno eram marcas típicas das habitações alentejanas. No interior, existiam<br />
lambris <strong>de</strong> azulejos em consonância com a <strong>de</strong>coração exterior. Os tectos do salão <strong>de</strong> nobre,<br />
bem como os dos quatros da ala norte, para suportarem o segundo piso, foram concebidos<br />
268 Sobre ―o monte alentejano‖ veja-se REIS, Maria da Conceição Pascoal, O Monte Alentejano : a transformação no<br />
século XX : o caso da Amoreira <strong>de</strong> Cima, Lisboa, Associação <strong>de</strong> <strong>Estudo</strong>s Rurais da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Nova, 2002.<br />
269 Veja-se ―Estilo tradicional português – Projecto dum «Monte alentejano» <strong>de</strong>stinado a habitação do lavrador, Ex.mo<br />
Sr. Joaquim Celorico Palma‖, em A Arquitectura Portuguesa, Lisboa, n.º 7, ano XXII, Julho <strong>de</strong> 1929, p. 54 a 56.