Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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As multiplicida<strong>de</strong>s do traço — uma análise sistemática da obra <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong><br />
62<br />
Capítulo 3<br />
enquadrou-se no amplo movimento do final do século XIX e primeiras décadas do século<br />
XX, como sustentou Nuno Rosmaninho 241 .<br />
Nestas circunstâncias qual foi a actuação <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong>? Os seus trabalhos<br />
iniciais parecem assumir uma posição clara em torno do mo<strong>de</strong>lo proposto por Raúl Lino.<br />
No entanto, nunca houve a total assumpção <strong>de</strong> uma postura i<strong>de</strong>ológica ou estética no<br />
conjunto obra <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong>. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente das opiniões ou idiossincrasias (não<br />
totalmente comprováveis na ausência <strong>de</strong> escritos teóricos) a marca constante da obra <strong>de</strong>ste<br />
arquitecto foi a versatilida<strong>de</strong> estética, associada a uma notável capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação a<br />
diversos programas e situações topográficas.<br />
Estamos em crer que <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong> não terá sido um ―arquitecto contrariado‖, na<br />
medida em que fez tradicional quando os gostos assim o exigiam, fez mo<strong>de</strong>rno quando os<br />
gostos evoluíam nesse sentido e facilmente regressou ao tradicional quando o padrão geral<br />
para aí (re)orientou. Não queremos com isto dizer que <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong> fosse <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong><br />
uma visão própria da arquitectura, antes pelo contrário — aliás a sua fase <strong>de</strong> ―retorno ao<br />
tradicional‖ marca a reformulação <strong>de</strong> uma estética conservadora com o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo próprio, sem que se possa dizer original —, apenas sustentamos que não houve<br />
da sua parte o assumir <strong>de</strong> uma posição dogmática ou melhor intransigente neste <strong>de</strong>bate.<br />
Regressemos à obra arquitectónica <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong>. As casas <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong>,<br />
<strong>de</strong>senhadas entre 1925 e 1929 (em vários casos assinadas em conjunto com Fre<strong>de</strong>rico <strong>de</strong><br />
Carvalho) enquadram-se nas tendências dominantes do <strong>de</strong>bate arquitectónico do tempo.<br />
Dessa forma, ora se aproximam <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo ortodoxo <strong>de</strong> ―casa portuguesa‖, ora<br />
conjugam essas propostas com outras referências tradicionais, recuperando antigos<br />
revivalismos. Presença constante em todos os imóveis para habitação <strong>de</strong>senvolvidos foi<br />
uma aproximação a mo<strong>de</strong>los regionais. Os projectos <strong>de</strong> moradias que analisamos — tanto<br />
nos materiais usados, como na concepção da <strong>de</strong>coração ou ainda na organização do espaço<br />
— incorporaram referências regionalizantes, <strong>de</strong> suposta origem popular. 242<br />
Antes <strong>de</strong> nos embrenharmos nos dois núcleos principais <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong><br />
<strong>Pinto</strong> <strong>de</strong>sta fase (a Beira Baixa e o Baixo Alentejo), atentemos na moradia <strong>de</strong>senhada para<br />
António Pieda<strong>de</strong> Guerreiro (médico lisboeta) e construída, na Rua Emília da Neves<br />
(Lisboa), no ano <strong>de</strong> 1929. O edifício cristaliza uma linguagem estética. Nele, po<strong>de</strong>mos<br />
241 ROSMANINHO, Nuno, ―A «Casa Portuguesa» e outras «Casa Nacionais»‖, em Revista da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Aveiro –<br />
Letras, Aveiro, <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Aveiro, vol. 19/20, 2002/2003, p. 226<br />
242 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.