16.06.2013 Views

Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Tendências gerais da arquitectura portuguesa na primeira meta<strong>de</strong> do século XX<br />

17<br />

Capitulo 1<br />

Estado Novo, autoritário, conservador e nacionalista, já não conseguia reivindicar como<br />

sua uma linguagem <strong>de</strong> vanguarda <strong>de</strong> clara tendência internacional 31 .<br />

Desta forma, os anos 40 trouxeram-nos o ―português suave‖, <strong>de</strong>signação que<br />

pressupõe compromisso i<strong>de</strong>ológico entre as tendências plásticas <strong>de</strong> vanguarda e a lógica<br />

nacionalista da linguagem oficial do regime 32 . A ―nova‖ linguagem arquitectónica do<br />

regime, <strong>de</strong> matriz nacionalista, consubstanciava um processo <strong>de</strong> resistência aos<br />

paradigmas mo<strong>de</strong>rnos, associados a referências internacionais. Essa década <strong>de</strong> 40<br />

traduzia um recuperar <strong>de</strong> valores clássicos, os quais não se esgotavam nas obras<br />

públicas. De facto, se na década anterior a abertura a novos postulados <strong>de</strong>rivara <strong>de</strong><br />

necessida<strong>de</strong>s infra-estruturais, as opções mo<strong>de</strong>rnizantes assumidas não revelavam<br />

qualquer alteração radical no gosto das elites, nem nos condicionalismos da<br />

encomenda 33 .<br />

Em 1940 assistiu-se à gran<strong>de</strong> ―Exposição dos Centenários‖, na qual se assumia a<br />

i<strong>de</strong>ologia nacionalista do Estado, que se pretendia presente em todos os sectores da vida<br />

artística. Por ironia do <strong>de</strong>stino, o punhado <strong>de</strong> valorosos arquitectos que tinham<br />

conquistado para a sua classe profissional posição menos subalterna, i<strong>de</strong>ntificavam-se<br />

com os sonhos do regime quando este estava a acordar para tarefas menos<br />

arquitectónicas e mais duras para as classes trabalhadoras — sustentou Nuno Portas 34 .<br />

Em meados da década, alguns grupos <strong>de</strong> arquitectos — como o ODAM no Porto ou o<br />

ICAT em Lisboa — não só continuavam a reivindicar uma linguagem tida por mo<strong>de</strong>rna,<br />

como também <strong>de</strong>senvolviam preocupações políticas e socais mais explícitas,<br />

perturbadoras aos olhos do regime. Os arquitectos iam <strong>de</strong>senvolvendo um espírito <strong>de</strong><br />

classe. O I Congresso <strong>de</strong> Arquitectos Portugueses 35 , realizado em 1948, marcou o final<br />

da década. Os ―dogmas nacionalistas‖ do mo<strong>de</strong>lo tradicional foram <strong>de</strong>itados por terra<br />

durante os trabalhos, triunfando, pelo menos no seio da classe, a <strong>de</strong>fesa dos postulados<br />

mo<strong>de</strong>rnos. Ao mesmo tempo, na ressaca <strong>de</strong>sse Congresso, o Sindicato Nacional <strong>de</strong><br />

Arquitectos 36 propõe a realização <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> Inquérito à Arquitectura Popular<br />

(realizada nas décadas seguintes). Este projecto, para uns (o grupo <strong>de</strong> Raul Lino)<br />

31<br />

FERNANDES, José Manuel, Arquitectura Mo<strong>de</strong>rnista em Portugal (1890-1940)¸ Lisboa, Gradiva, 1993.<br />

32<br />

FERNANDES, José Manuel, ―Para o estudo da arquitectura mo<strong>de</strong>rnista em Portugal – A evolução estilística‖,<br />

Arquitectura, Lisboa, n.º 132 (4ª série), Março <strong>de</strong> 1979, p. 54 a 65.<br />

33<br />

PORTAS, Nuno, ob cit. p. 191 a 204<br />

34<br />

I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 185<br />

35<br />

Veja-se 1º Congresso Nacional <strong>de</strong> Arquitectura – Relatório da Comissão Executiva, Teses, Conclusões e Votos do<br />

Congresso, Lisboa, Sindicato Nacional dos Arquitectos, 1948 [ACTAS].<br />

36<br />

Sobre as organizações <strong>de</strong> classes dos arquitectos veja-se RIBEIRO, Ana Isabel <strong>de</strong> Melo, Arquitectos portugueses:<br />

90 anos <strong>de</strong> vida associativa 1863 – 1953, Porto, FAUP Edições, col. ―Série 2 Argumentos‖, n.º 20 , 2002.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!