Manual de Metodologia e Boas Práticas para a Elaboração de um ...
Manual de Metodologia e Boas Práticas para a Elaboração de um ...
Manual de Metodologia e Boas Práticas para a Elaboração de um ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Falamos do software do <strong>de</strong>sign urbano. Isto é, das relações operativas, e<br />
das interacções <strong>de</strong> que se faz a vida urbana. Na sua relação com o espaço<br />
dos artefactos materiais, os sistemas estruturais e matrizes do hardware<br />
da mobilida<strong>de</strong>, não basta apenas <strong>um</strong> know how <strong>de</strong> natureza técnica; supõemse<br />
também juízos e opções éticas, tanto quanto políticas e culturais. Como<br />
se cultiva o consenso entre os profissionais, sobre tais juízos e opções?<br />
1. A Urbanida<strong>de</strong> como a vida e como ela está a crescer<br />
Ao contrário dos velhos centros <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>, que parecem fazer as preferências<br />
do mainstream mediático e político europeu, os novos núcleos urbanos<br />
periféricos são olhados como maus e insustentáveis, não somente <strong>de</strong>vido a<br />
falta <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> centralida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong><br />
estética, mas também <strong>de</strong>vido à <strong>de</strong>svalorização dos seus factores <strong>de</strong> sucesso,<br />
das suas qualida<strong>de</strong>s como acesso fácil, custo baixo, proximida<strong>de</strong> da natureza<br />
ou abundância do espaço. Embora hoje abriguem a gran<strong>de</strong> maioria dos<br />
moradores e das activida<strong>de</strong>s económicas urbanas, eles são quase invisíveis<br />
no nosso pensamento. Chegamos a chamar-lhes <strong>de</strong> não-lugares (Augé).<br />
Ao mesmo tempo que os habitantes urbanos estão a crescer<br />
vertiginosamente, outras mudanças ocorrem. O crescimento da riqueza<br />
económica conduz as famílias a cons<strong>um</strong>ir mais espaço <strong>de</strong> alojamento (a<br />
área <strong>de</strong> cada casa por pessoa e o número <strong>de</strong> casas por família duplicam<br />
em cem anos); Com a posse universal do automóvel o percurso médio<br />
casa-trabalho a ser coberto por dia estão ainda a crescer em toda a Europa<br />
(a motorização cresce mais no Sul e no Leste) com a percentagem <strong>de</strong> solo<br />
ocupado com infra-estrutura, que é <strong>de</strong> 10 a 15% na generalida<strong>de</strong> das áreas<br />
urbanas, sobe em países como Portugal <strong>para</strong> até quase 35% e a percentagem<br />
<strong>de</strong>ste espaço <strong>de</strong>stinada ao automóvel é quase 80% (Borja e Castells).<br />
Como po<strong>de</strong>riam tais mudanças ter ocorrido, <strong>de</strong>ntro dos limites do mesmo<br />
espaço das cida<strong>de</strong>s existentes, sem se expandirem os territórios urbanos?<br />
No nosso pensamento sobre a cida<strong>de</strong>, o processo <strong>de</strong> cultivo da urbanida<strong>de</strong><br />
alargada, <strong>de</strong>ve ser central. O que é <strong>um</strong> subúrbio senão <strong>um</strong> processo da<br />
mudança no sentido <strong>de</strong> pertença? Em vez do exorcizado não-lugar será<br />
ele o espaço dos novos tipos <strong>de</strong> lugar, com novos significados e diferentes<br />
sentidos? Que espaço público lhe correspon<strong>de</strong>?<br />
As respostas conduzem-nos a <strong>um</strong> ponto <strong>de</strong> vista diferente dos slogans<br />
convencionais que amaldiçoam o sprawl e fazem apelos a <strong>um</strong> impossível<br />
89<br />
Pedro Brandão<br />
Arquitecto, Professor Auxiliar no<br />
Mestrado Integrado <strong>de</strong> Arquitectura do<br />
Instituto Superior Técnico, Doutor em<br />
Espaço Público e Regeneração Urbana<br />
pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Barcelona, on<strong>de</strong><br />
também é professor visitante. Foi<br />
Presi<strong>de</strong>nte da Associação dos<br />
Arquitectos Portugueses (hoje Or<strong>de</strong>m<br />
dos Arquitectos) on<strong>de</strong> dirigiu o “Livro<br />
Branco da Arquitectura e do Ambiente<br />
Urbano em Portugal” e foi Presi<strong>de</strong>nte<br />
do Centro Português <strong>de</strong> Design on<strong>de</strong><br />
lançou o “Curso <strong>de</strong> pós-graduação em<br />
Design Urbano”. É Secretário Geral da<br />
Europan Portugal e Director da<br />
Associação “Traços na Paisagem”.<br />
É autor <strong>de</strong> vários livros e colectâneas<br />
sobre temas <strong>de</strong> Arquitectura, Espaço<br />
Público, Ética profissional e<br />
Interdisciplinarida<strong>de</strong>. A sua tese <strong>de</strong><br />
doutoramento está publicada nos<br />
Livros Horizonte em dois vol<strong>um</strong>es: “A<br />
cida<strong>de</strong> Entre Desenhos” e “O Arquitecto<br />
e outras Imperfeições”