Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
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determi<strong>na</strong>ntes históricas para este estilo específico de ingerência <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> o perfil cada vez<br />
mais “privatizante” <strong>do</strong> consumo <strong>cultural</strong> das famílias ao concentrar seus gastos com cultura <strong>na</strong><br />
aquisição de “máqui<strong>na</strong>s culturais” (aparelhos de televisão, toca-discos e rádios). Uma prática,<br />
ressalta o autor, não restrita ao <strong>caso</strong> brasileiro, mas que se confirma como uma tendência<br />
mundial, verificada nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s bem como em países <strong>do</strong> continente europeu e da<br />
América Lati<strong>na</strong> 13 . Como esclarece o sociólogo:<br />
101<br />
Embora o conjunto dessas despesas não ultrapasse o teto de 5% <strong>do</strong> consumo<br />
global das famílias, a parcela gasta com atividades de lazer vem-se<br />
amplian<strong>do</strong> consistentemente nos últimos vinte anos, sen<strong>do</strong> ape<strong>na</strong>s superada<br />
pelos gastos com saúde e telecomunicações. E o montante vem-se<br />
expandi<strong>do</strong> em detrimento da parcela de recursos ca<strong>na</strong>lizada para<br />
espetáculos fora de casa (concertos, peças, filmes, etc.). Tais evidências<br />
caracterizam uma ‘cultura’ praticada á <strong>do</strong>micílio às custas da relegação<br />
daquelas atividades culturais praticadas no âmbito de equipamentos<br />
coletivos (teatros, óperas, museus, salas de concerto etc) (MICELI, 1984b,<br />
p.103).<br />
Com o acirramento <strong>do</strong>s processos de mundialização da cultura, proporcio<strong>na</strong><strong>do</strong>s pelas<br />
gigantescas indústrias <strong>do</strong> simbólico, chegamos ao século XXI, confirman<strong>do</strong> mais nitidamente<br />
ainda o delineamento deste cenário. É o que aponta Danilo Santos Miranda (2003) ocupa<strong>do</strong><br />
em a<strong>na</strong>lisar o fenômeno da expansão <strong>do</strong> lazer <strong>do</strong>méstico a partir <strong>do</strong>s números divulga<strong>do</strong>s pela<br />
pesquisa <strong>do</strong> IBGE: “Estatísticas <strong>do</strong> Século XX”. Diz-nos o autor:<br />
Enquanto o número de cinemas caiu pela metade entre 1977 e 2000, to<strong>do</strong>s<br />
os <strong>do</strong>micílios têm um aparelho de televisão, e o brasileiro é, talvez, o que<br />
mais tempo passa diante da tevê. Ao mesmo tempo, também cresceram, o<br />
vídeo, o DVD, o computa<strong>do</strong>r (MIRANDA, 2003, p.41).<br />
Se o perfil da ingerência estatal conserva certa regularidade ao continuar manten<strong>do</strong> sua<br />
atuação baseada <strong>na</strong> preservação de monumentos históricos, <strong>na</strong> conservação de manifestações<br />
13 Em seu estu<strong>do</strong> sobre o consumo <strong>cultural</strong> <strong>na</strong> Cidade <strong>do</strong> México, Canclini chega a conclusões semelhantes<br />
constatadas pelo sociólogo brasileiro, qual seja uma paulati<strong>na</strong> diminuição da atividade <strong>cultural</strong> realizada em<br />
espaços públicos em detrimento de uma crescente privatização <strong>do</strong> consumo <strong>cultural</strong> cada vez mais realiza<strong>do</strong> à<br />
<strong>do</strong>micílio. Os resulta<strong>do</strong>s da pesquisa demonstram que não chega a 10% o setor que se relacio<strong>na</strong> com a cultura<br />
institucio<strong>na</strong>lizada (cinema, teatros, museus, etc) como também essa porcentagem não é superada por aqueles<br />
frui<strong>do</strong>res regulares de espetáculos ou festas identifica<strong>do</strong>s às manifestações populares. Por outro la<strong>do</strong>, a pesquisa<br />
revelou que 95% <strong>do</strong>s <strong>do</strong>micilio da Cidade <strong>do</strong> México têm televisão, 87% possuem rádio e 52% dispõem de<br />
aparelhos de videocassete, soma<strong>do</strong>s ainda à elevada porcentagem de tempo que esses aparelhos ocupam no uso<br />
<strong>do</strong> tempo livre(CANCLINI, 2001, p.135-136).