Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
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Agora, ancora<strong>do</strong> numa lógica de indústria <strong>cultural</strong>, esse merca<strong>do</strong> constituía-se em “uma<br />
complexa e extensa rede de cria<strong>do</strong>res e produtores que têm no car<strong>na</strong>val o seu eixo dinâmico”<br />
(MIGUEZ, 2002, p.284). Sen<strong>do</strong> assim, a maior festa popular <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> tor<strong>na</strong>va-se o epicentro<br />
da reconfiguração que a ce<strong>na</strong> <strong>cultural</strong> baia<strong>na</strong> começava a experimentar mais intensamente <strong>na</strong><br />
última década <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong> que, entre outras conseqüências, rompeu a lógica de<br />
concentração e centralização da indústria <strong>cultural</strong> <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l que historicamente esteve sediada<br />
no eixo Rio-São Paulo. Ainda sob a mirada <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> autor, será a produção <strong>cultural</strong>,<br />
sobretu<strong>do</strong> aquela vinculada ao plano da música “que constrói e dá suporte a uma economia da<br />
cultura <strong>na</strong> Salva<strong>do</strong>r contemporânea” (MIGUEZ, 2002, p.285).<br />
Doravante, o ócio e a festa transformaram-se num grande negócio. As dimensões <strong>do</strong><br />
car<strong>na</strong>val agigantaram-se nos últimos anos. Houve um grande investimento de diversos setores<br />
empresarias e a irrupção de vários outros negócios que começaram a gravitar em torno de seu<br />
eixo. Os blocos de trio foram se metamorfosean<strong>do</strong> em empresas lucrativas, inserin<strong>do</strong>-se numa<br />
lógica mercantilista, que transformou a festa num produto a ser comercializa<strong>do</strong> em outras<br />
plagas, em outras épocas, rompen<strong>do</strong> suas fronteiras espaço-temporais. Some-se ainda o<br />
surgimento de fenômenos musicais como a axé music e o pagode que se revelaram como os<br />
principais produtos da produção musical que ora ganhava ares de indústria <strong>cultural</strong>,<br />
“proporcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> o encontro <strong>do</strong> músico baiano com itens como capital, espaço, equipamento e<br />
visibilidade” (ROSÁRIO, apud MIGUEZ, 2002, p. 292). Esse conjunto de fatores, segun<strong>do</strong><br />
Miguez, contribuiu fortemente para o boom da indústria fonográfica (brasileira e baia<strong>na</strong>)<br />
nesse perío<strong>do</strong>.<br />
Do ponto de vista estético, esses novos acontecimentos musicais 13 tor<strong>na</strong>m-se uma<br />
espécie de <strong>na</strong>rrativa essencial à constituição <strong>do</strong> território da “Afrobahia”, já que é um<br />
repertório que suscita em suas letras e melodias imagens e símbolos que aliam a tradição de<br />
13 Em interessante formulação a respeito da axé music – “a cara contemporânea da <strong>Bahia</strong> no Car<strong>na</strong>val” –, o<br />
sociólogo Milton Moura não vai considerá-la um estilo ou gênero musical, já que, segun<strong>do</strong> o autor, não se trata<br />
de um somatório <strong>do</strong> repertório de determi<strong>na</strong><strong>do</strong> artista ou grupo musical. Nesse senti<strong>do</strong>, ele conceitua a axé music<br />
como uma “ interface, de repertório musical e coreográfico que se desenvolveu basicamente a partir <strong>do</strong> encontro<br />
entre a tradição <strong>do</strong> trio elétrico e o evento <strong>do</strong> afro, que por sua vez recapitula a tradição da musicalidade negra<br />
<strong>do</strong> Recôncavo em conexão com outras vertentes estéticas da Diáspora. (...) É uma interface, no senti<strong>do</strong> de que<br />
recursos de composição e interpretação ou aspectos formais de grupos ou artistas são compatibiliza<strong>do</strong>s e/ou<br />
identifica<strong>do</strong>s entre si, crian<strong>do</strong>-se então uma ambiência de que são mais emblemáticos alguns ritmos e<br />
coreografias, algumas bandas e intérpretes, sem que se tenha contornos precisos <strong>do</strong> estilo, como no <strong>caso</strong> <strong>do</strong><br />
tango ou <strong>do</strong> jazz”(MOURA, 2001, p. 231).<br />
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