Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Ainda que os mo<strong>do</strong>s de vida, os sabres e fazeres, as tradições e crenças, comuns à<br />
cultura baia<strong>na</strong> sejam indiretamente suscita<strong>do</strong>s, no plano <strong>do</strong> discurso, pelos programas de ação<br />
<strong>do</strong> governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, em sua práxis a efetividade dessas ações privilegia ape<strong>na</strong>s<br />
determi<strong>na</strong>das práticas e grupos específicos, não implican<strong>do</strong> <strong>na</strong> abrangência política que reside<br />
<strong>na</strong> acepção antropológica da cultura. A apropriação e reformulação <strong>do</strong> “texto identitário” da<br />
baianidade pelo discurso oficial talvez seja uma das estratégias que possam ser utilizadas<br />
como justificativa para a atenção que é dedicada pelo poder local aos mo<strong>do</strong>s de vida e ao jeito<br />
baiano de ser. No entanto, ele é acio<strong>na</strong><strong>do</strong>, como mencio<strong>na</strong>mos anteriormente, como moeda<br />
simbólica que confere gradientes de poder aos diferentes agentes que transitam no circuito da<br />
produção <strong>cultural</strong> baia<strong>na</strong>, implican<strong>do</strong> assim tanto a sua integração à aludida rede de<br />
negociações quanto a sua exclusão. Portanto, é uma estratégia de intervenção que se<br />
estabelece num universo institucio<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>. Neste senti<strong>do</strong>, a política <strong>cultural</strong> implementada<br />
pelo governo tem maior abrangência sobre a dimensão sociológica da cultura, em detrimento<br />
da dimensão antropológica.<br />
Essa é uma assertiva que se sustenta <strong>na</strong> tese proposta por Botelho, ao considerar que as<br />
políticas culturais, via de regra, privilegiam em sua prática a dimensão sociológica da cultura,<br />
enquanto que a dimensão antropológica acaba por ser uma recorrência que ganha terreno<br />
ape<strong>na</strong>s no nível <strong>do</strong> discurso. Para melhor compreensão <strong>do</strong> argumento vejamos como a autora<br />
define a dimensão sociológica da cultura:<br />
161<br />
Refere-se a um conjunto diversifica<strong>do</strong> de demandas profissio<strong>na</strong>is,<br />
institucio<strong>na</strong>is, políticas e econômicas, ten<strong>do</strong>, portanto, visibilidade em si<br />
própria. Ela compõe um universo que gere (ou interfere em) um circuito<br />
organizacio<strong>na</strong>l, cuja complexidade faz dela, geralmente, o foco de atenção<br />
das políticas culturais, deixan<strong>do</strong> o plano antropológico relega<strong>do</strong><br />
simplesmente ao discurso. Deixam-se de la<strong>do</strong>, aqui, as construções que<br />
ocorrem no universo priva<strong>do</strong> de cada um, abordan<strong>do</strong>-se, aqueles que, para<br />
se efetivarem, dependem de instituições, de sistemas organiza<strong>do</strong>s<br />
socialmente(BOTELHO, 2004, p.4).<br />
Decerto, por se constituir enquanto uma instância socialmente institucio<strong>na</strong>lizada, a<br />
dimensão sociológica da cultura, por ser mais palpável, acaba sen<strong>do</strong> o espectro que mais<br />
efetivamente sofre ações concretas das políticas culturais oficiais. Por outro la<strong>do</strong>, a<br />
implementação de ações que contemplem a dimensão antropológica da cultura, <strong>na</strong> prática,<br />
parece ser um projeto de difícil realização, isso porque reside nessa opção de política <strong>cultural</strong>