Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
e nenhum conteú<strong>do</strong> contesta<strong>do</strong>r que trouxesse possíveis dissensões aos interesses <strong>do</strong> próprio<br />
regime militar. A respeito dessa tendência Sérgio Miceli (1984b) esclarece que:<br />
O patrimônio constitui, portanto, o repositório de obras <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> sobre<br />
cujo interesse histórico, <strong>do</strong>cumental e, por vezes estético não paira qualquer<br />
dúvida. Trata-se de obras e monumentos, que no mais das vezes, já se<br />
encontram dissociadas das experiências e interesses sociais que lhes deram<br />
origem (MICELI, 1984b, p.102).<br />
Desse mo<strong>do</strong>, ao fomentar ações de preservação da memória <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, incentivan<strong>do</strong><br />
atividades como o folclore e o artesa<strong>na</strong>to, o Esta<strong>do</strong> assume uma postura de neutralidade,<br />
revestin<strong>do</strong>-se de um papel de agente preponderante <strong>na</strong> salvaguarda e recuperação da memória<br />
e identidade brasileira cristalizadas no decorrer da história <strong>do</strong> país.<br />
Sob esta tônica preservacionista entra em ce<strong>na</strong> também a ideologia da segurança<br />
<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, visto que ao avocar para si um papel de bastião da memória e identidade <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, o<br />
aparelho estatal acaba também inibin<strong>do</strong> manifestações de culturas estrangeiras que possam vir<br />
a contami<strong>na</strong>r a “verdadeira essência” da cultura brasileira. Nas palavras de Ortiz:<br />
O Esta<strong>do</strong> aparece, assim, como guardião da memória <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e da mesma<br />
forma que defende o território <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l contra as possíveis invasões<br />
estrangeiras preserva a memória contra a descaracterização das importações<br />
ou distorções <strong>do</strong>s pensamentos autóctones desviantes. Cultura brasileira<br />
significa neste senti<strong>do</strong> ‘segurança e defesa’ <strong>do</strong>s bens que integram o<br />
patrimônio histórico (ORTIZ, 2003, p.100).<br />
As ações <strong>do</strong> Conselho Federal de Cultura planejadas no momento da sua criação,<br />
esboçam um perío<strong>do</strong> mais identifica<strong>do</strong> com a elaboração de projetos e programas mais<br />
abrangentes, que buscavam sobretu<strong>do</strong> a concretização de um Sistema Nacio<strong>na</strong>l de Cultura<br />
(missão que não logra êxito), pauta<strong>do</strong> num equacio<strong>na</strong>mento da temática <strong>cultural</strong> que estivesse<br />
em consonância com os objetivos <strong>do</strong> regime político que se procurava consolidar. A ênfase da<br />
atuação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> ancorava-se principalmente no controle <strong>do</strong> processo <strong>cultural</strong>, através <strong>do</strong>s<br />
mecanismos de censura, posto que <strong>na</strong> fase inicial da ditadura havia uma forte ebulição de<br />
práticas e manifestações culturais de esquerda – basta lembrarmos, por exemplo, de<br />
movimentos culturais como o Teatro Ofici<strong>na</strong>, o Teatro Are<strong>na</strong> e o Tropicalismo. No entanto, a<br />
partir da segunda metade da década de 70, quan<strong>do</strong> se inicia lentamente o processo de<br />
76