Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
de Iemanjá) e o Projeto Astral 6 – primeira experiência de shows musicais para grande público<br />
em espaço aberto. Já no interior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, manifestações como o São João de Cachoeira, a<br />
Festa da Boa Morte, a Festa <strong>do</strong> Cacau (Ilheús-Itabu<strong>na</strong>), contavam com o apoio dessa agência<br />
(BAHIA, 1974/1983/1998).<br />
Desde aí é possível perceber que cultura e turismo começam a ser imbrica<strong>do</strong>s, ten<strong>do</strong> <strong>na</strong><br />
apropriação, reformulação e mesmo autoria <strong>do</strong> discurso em torno da identidade baia<strong>na</strong> uma<br />
fórmula recorrente – porque utilizada por esse mesmo grupo político desde a década de 70 – e<br />
não menos eficiente de promoção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> como potencial destino turístico e de<br />
entretenimento. Um recurso, não se pode deixar de mencio<strong>na</strong>r aqui, que tem como substrato a<br />
busca de um consenso generaliza<strong>do</strong> em torno da idéia de <strong>Bahia</strong>, que inegavelmente imiscui-se<br />
em revelar as contradições sociais em nome de uma “singularidade” <strong>cultural</strong> que transcende e<br />
fala mais alto <strong>do</strong> que as “anti-éticas” e “anti-estéticas” estatísticas e índices que revelam a<br />
realidade socioeconômica <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e <strong>do</strong> país.<br />
Nesse senti<strong>do</strong>, tor<strong>na</strong>-se uma <strong>na</strong>rrativa construída segun<strong>do</strong> os interesses políticos <strong>do</strong>s<br />
grupos que a elabora, consubstancian<strong>do</strong>-se num discurso hegemônico sobre a cultura baia<strong>na</strong><br />
em que determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s ícones são eleitos e amalgama<strong>do</strong>s num complexo compósito de signos e<br />
imagens – que por sua vez são originários de outras tantas re-formulações e apropriações – de<br />
forma a sintetizar a formulação <strong>do</strong> “ser baiano” ou da polêmica e badalada baianidade. Não se<br />
pode negar que essa é uma estratégia que guarda aspectos fortemente liga<strong>do</strong>s a práticas<br />
políticas autoritárias e impositivas – utilizada amplamente nos projetos de construção <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />
ao longo da história política brasileira –, o que acaba por colaborar com a sustentação e com a<br />
manutenção de uma hegemonia política.<br />
Assim, num jogo simbólico que se apropria de práticas culturais populares e atiça<br />
sentimentos atávicos em torno <strong>do</strong> ideário de origem e pertencimento, o discurso oficial acaba<br />
por formular uma ideologia <strong>do</strong> “local-popular” – fazen<strong>do</strong> aqui um exercício de transliteração<br />
6 O Projeto Astral foi um evento realiza<strong>do</strong> no estacio<strong>na</strong>mento <strong>do</strong> Centro de Convenções, que reunia uma série de<br />
shows de música popular. Tornou-se emblemático por ter si<strong>do</strong> o estopim <strong>do</strong> início de uma modalidade de<br />
espetáculo que “veio a se tor<strong>na</strong>r modelo para a marato<strong>na</strong> de cente<strong>na</strong>s de shows de axé music, música pop e<br />
pagode realiza<strong>do</strong>s anualmente em Salva<strong>do</strong>r em grandes espaços abertos, como o Clube Espanhol, o Clube<br />
<strong>Bahia</strong>no de Tênis, o Parque de Exposições e, mais recentemente, a Mari<strong>na</strong> Avenida Contorno” (PINTO apud<br />
MIGUEZ, 2002, p.252).<br />
117