Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
que subjaz a essas contestações e manifestos diz respeito à consolidação de uma política que<br />
alimenta a privatização <strong>do</strong>s parcos recursos disponíveis para a cultura – já que tem por<br />
princípio conceder ao “merca<strong>do</strong>” a responsabilidade de decidir sobre o destino <strong>do</strong> dinheiro<br />
público – e que estimula, prioritariamente, produções inscritas no circuito da grande<br />
produção, logo, auto-sustentáveis por <strong>na</strong>tureza. Ilustrativo dessa postura é o teor <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> “3º Manifesto Arte Contra a Barbárie”, redigi<strong>do</strong> por um <strong>do</strong>s integrantes <strong>do</strong> movimento, o<br />
dramaturgo Aimar Labaki (2000):<br />
O povo acredita <strong>na</strong> Indústria Cultural. Acredita que essa indústria pode<br />
suprir suas necessidades estéticas e espirituais. Mesmo porque ele já não<br />
consegue distinguir entre Arte e Entretenimento (...) A culpa é de um<br />
governo que privatizou os poucos recursos púbicos da nossa área. A culpa é<br />
de uma mídia pouco instrumentalizada para compreender os meandros da<br />
batalha em curso entre produtores culturais e os burocratas investi<strong>do</strong>s de<br />
livrar o Esta<strong>do</strong> de seus deveres constitucio<strong>na</strong>is (...) privatizar o dinheiro<br />
púbico da Cultura significa inviabilizar qualquer Arte que não seja passível<br />
de se transformar em Merca<strong>do</strong>ria (LABAKI, 2000, p.1-2).<br />
Com efeito, o teor ressenti<strong>do</strong> de que se reveste a declaração é fruto da posição que o<br />
dramaturgo ocupa no campo da produção <strong>cultural</strong> no país – um agente inseri<strong>do</strong> <strong>na</strong> lógica <strong>do</strong><br />
campo de produção restrita, encrave esse tradicio<strong>na</strong>lmente desprovi<strong>do</strong> de uma política <strong>cultural</strong><br />
mais específica e carente de recursos que viabilizem suas produções. Não se pode negar que a<br />
preponderância de uma política orientada pelas leis de estímulo fiscal acabou por beneficiar<br />
majoritariamente os nomes consagra<strong>do</strong>s <strong>do</strong> circuito artístico-<strong>cultural</strong> <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, vincula<strong>do</strong>s a<br />
grandes eventos e espetáculos inscritos no circuito da grande produção, restringin<strong>do</strong> assim o<br />
acirrou a partir de fevereiro de 2003, quan<strong>do</strong> o ator e diretor Miguel Falabella (“símbolo de uma corrente<br />
tipicamente comercial”) assumiu o cargo de gestor da Rede Municipal de Teatros e levou adiante a política<br />
definida pelo prefeito César Maia de “mais Broadway e menos off-Broadway”. A favor de uma política que<br />
incentivasse o entretenimento, essa orientação levada a cabo por Falabella não deixou de causar polêmica entre<br />
artistas e produtores devota<strong>do</strong>s ao exercício de um teatro experimental, fazen<strong>do</strong> suscitar a controvérsia que ronda<br />
o funcio<strong>na</strong>mento das leis de incentivo à cultura. O teor <strong>do</strong>s depoimentos de diferentes correntes é ilustrativo<br />
dessa polêmica e marca o diapasão da correlação de forças que se estabelece entre Esta<strong>do</strong> e merca<strong>do</strong> a partir da<br />
lógica de estímulos fiscais. Vejamos. Defenden<strong>do</strong> sua posição Falabella declara que: “Durante muitos anos<br />
favoreceu-se o teatro experimental, que não atende aos anseios da população. As pessoas não são obrigadas a<br />
entender a genialidade de quem se acha gênio (...) O povo quer entretenimento”. Na outra ponta, defensor <strong>do</strong><br />
espaço para um teatro mais autoral, o dramaturgo Aimar Labaki, integrante <strong>do</strong> movimento “Arte contra a<br />
Barbárie”, considera que “os musicais que imitam a produção america<strong>na</strong> não são um mal em si, mas com o lucro<br />
que dão não precisam das leis de incentivo e nem <strong>do</strong>s espaços públicos”.<br />
98