Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...

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meu produto. Eu não vou mercantilizar a arte nesse sentido, de forma
alguma, nem racionalizar pelo lado que suponho que o empresário se
interessaria.
Há ainda um número considerável de depoimentos que apontam para o ciclo vicioso que
a lógica do Fazcultura acabou engendrando na dinâmica da produção cultural local, qual seja:
um reduzido número de empresas patrocinadoras beneficiando um pequeno número de
proponentes, criando, dessa forma, laços restritivos no fazer cultural do Estado. Laços esses,
segundo depoimento da atriz citada acima, quase “familiares”, porque pautados, sobretudo,
por maior ou menor grau de capital social do realizador – indicador que a fez questionar o
coeficiente de profissionalização do setor cultural. “Como é do conhecimento de todos,
vivemos (...) das migalhas que restam do Fazcultura, porque a grande fatia já tem dono, tem
dono e sobrenome”. Essa é fala de um dos produtores culturais presentes ao evento que ilustra
a inquietação dos agentes envolvidos com o fazer cultural na Bahia, parametrado pelo
Fazcultura.
Através da análise dos principais aspectos e dispositivos que regulam o funcionamento
das leis de incentivo à cultura foi possível perceber como vem se delineando a conformação
da esfera da cultura atualmente. Esse mecanismo de financiamento passou a ser hoje um dos
principais indicadores do deslocamento das linhas de forças que vêm atuando na dinamização
do campo cultural, demonstrando que, ampliado em suas dimensões, o campo cultural passa a
ser influenciado também por racionalidades outras, de práticas específicas de campos sociais
diferentes – nesse caso, o econômico e o político são os mais notórios.
Apesar de que na Bahia a atuação do Estado na dinamização da produção cultural local
ainda se mostre preponderante, o uso das leis de incentivo à cultura se constitui como um dos
exemplos mais representativos da tendência contemporânea que vem se instituindo nos modos
do fazer cultural em escala global: a retirada gradativa do Estado e, na sua contraface, a
presença cada vez mais intensa do capital privado na gestão e organização da produção
artístico-cultural brasileira.
Ainda que os produtores culturais alimentem uma relação de dependência do mecenato
estatal – principalmente o universo daquelas linguagens e manifestações artísticas não
diretamente vinculadas à industria cultural – por sua vez, o governo estadual baiano vem
dando sinais de que a tendência de desregulamentação de suas funções (a de gestor e provedor