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Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...

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certo caráter utópico, enquanto projeto ainda a ser conquista<strong>do</strong>, porém, é necessário admitir,<br />

difícil de ser realiza<strong>do</strong> <strong>na</strong> prática, dada a complexa contextura política, econômica e social<br />

que reveste a realidade brasileira.<br />

Assumimos aqui o risco de considerar que raras foram as iniciativas estatais que<br />

conseguiram realizar tal façanha. É claro que experiências inova<strong>do</strong>ras brotam aqui e ali, nos<br />

diferentes quadrantes desse país continental. No entanto, numa perspectiva mais ampla e<br />

generalista, a concepção e a prática comum às políticas culturais hoje em vigor no país não se<br />

amoldam a esses projetos mais visionários. Mesmo porque esses empreendimentos de caráter<br />

mais inova<strong>do</strong>r, por essência, desafiam o poder institucio<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>, as hierarquias cristalizadas,<br />

e conseqüentemente, a hegemonia <strong>do</strong>s grupos <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes.<br />

Na história da gestão pública brasileira, uma das experiências que talvez tenha se<br />

aproxima<strong>do</strong> desses propósitos – mas que malogrou em curto espaço de tempo frente aos<br />

conflitos de interesses políticos que comumente rondam projetos de teor mais revolucionário<br />

– foi a lendária gestão de Aloísio Magalhães à frente <strong>do</strong> Centro Nacio<strong>na</strong>l de Referência<br />

Cultural (CNRC), em mea<strong>do</strong>s da década de setenta 23 . Após essa experiência, no plano da<br />

23 O Centro Nacio<strong>na</strong>l de Referencia Cultural (CNRC) foi cria<strong>do</strong> em 1975 e se constituiu numa espécie de<br />

embrião para uma nova política patrimonial que ora se deslindava em meio às transformações institucio<strong>na</strong>is e<br />

conceituais da vertente patrimonial, de caráter mais conserva<strong>do</strong>r, que até então pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>va <strong>na</strong>s políticas de<br />

preservação <strong>do</strong> MEC. Sob a batuta de Aloísio Magalhães, as ações <strong>do</strong> CNRC foram empreendidas e embasadas<br />

em <strong>do</strong>utri<strong>na</strong>s inova<strong>do</strong>ras sobre a concepção de cultura brasileira. Ilumi<strong>na</strong><strong>do</strong>s pela proposta inicial de Mário de<br />

Andrade sobre a questão <strong>do</strong> patrimônio <strong>cultural</strong>, elaborada durante o governo de Getúlio Vargas, a equipe <strong>do</strong><br />

CNRC passou a centrar suas atenções no imenso acervo de atividades econômicas, artesa<strong>na</strong>is e manufatureiras,<br />

representante de práticas e grupos sociais que até então não tinham si<strong>do</strong> alvo de intervenção por parte das<br />

políticas públicas oficiais. Orienta<strong>do</strong>s por uma linha de trabalho de forte inspiração antropológica, os projetos<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s pelo CNRC colocavam em xeque os modelos de interpretação cristaliza<strong>do</strong>s e, numa perspectiva<br />

interdiscipli<strong>na</strong>r, buscavam dar conta da dinâmica específica inerente à complexidade e heterogeneidade <strong>do</strong>s<br />

processos culturais exami<strong>na</strong><strong>do</strong>s. Ou seja, as manifestações culturais deviam ser compreendidas à luz de seus<br />

próprios processos criativos diretamente relacio<strong>na</strong>das ao contexto onde eram produzidas e dissemi<strong>na</strong>das. Sob<br />

essa óptica uma série de atividades de referenciamento e mapeamento <strong>cultural</strong> <strong>na</strong>s mais diversas regiões <strong>do</strong> país<br />

foram sen<strong>do</strong> empreendidas pelo Centro, <strong>na</strong>scen<strong>do</strong> assim uma nova concepção de patrimônio <strong>cultural</strong>: o de “o<br />

patrimônio <strong>cultural</strong> não-consagra<strong>do</strong>”. Mais <strong>do</strong> que uma simples valorização das manifestações populares, o<br />

componente novidadeiro das ações <strong>do</strong> CNRC residia em evidenciar a capacidade que essas atividades tinham em<br />

gerar valor econômico. Como bem explicita Fonseca (1997, p. 166 –171), o objetivo primordial que guiava as<br />

ações <strong>do</strong> CNRC era a busca de um modelo de desenvolvimento alinha<strong>do</strong> à diversidade de contextos culturais <strong>do</strong><br />

país: “à diferença das instituições já existentes voltadas para o conhecimento e a proteção da cultura brasileira, o<br />

CNRC não se propunha a coletar bens, e sim produzir referências (...) que pudessem ser utilizadas no<br />

planejamento econômico e social. A intenção clara era de revitalizar a cultura brasileira, inserin<strong>do</strong>-a no circuito<br />

<strong>do</strong> tema que, no discurso gover<strong>na</strong>mental, tomava o lugar da ‘segurança <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l’, embora estivesse aliada a essa<br />

preocupação, o desenvolvimento”. Para maior detalhamento sobre as <strong>do</strong>utri<strong>na</strong>s e práticas <strong>do</strong> CNRC ver:<br />

Fonseca, 1997; Miceli, 1984a e 1984b; Falcão, 1984.<br />

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