Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
circunstâncias que geraram sua autonomização enquanto campo social legítimo, regi<strong>do</strong> por<br />
regras e normas que lhe são próprias e lhe constitui.<br />
São varia<strong>do</strong>s os autores que se dedicaram a construir conceitos com o objetivo de<br />
esclarecer o processo de racio<strong>na</strong>lização da vida social moder<strong>na</strong>, fato que acabou por origi<strong>na</strong>r a<br />
diferenciação de funções e a especialização <strong>do</strong> conhecimento, geran<strong>do</strong> a distinção e a<br />
conseqüente secularização <strong>do</strong>s campos sociais – característica essencial que vai distinguir a<br />
especificidade da modernidade. Max Weber, Jürgen Habermas e Pierre Bourdieu são alguns<br />
<strong>do</strong>s estudiosos que mais se destacam em seus empreendimentos teóricos a respeito <strong>do</strong>s<br />
processos de institucio<strong>na</strong>lização <strong>do</strong>s campos sociais.<br />
Fortemente inspira<strong>do</strong> em Max Weber, Habermas vai tecer sua trama conceitual,<br />
sustentan<strong>do</strong> que a modernidade se realiza (apesar de considerá-la um projeto i<strong>na</strong>caba<strong>do</strong>)<br />
quan<strong>do</strong> a cultura se descola da razão substancial que prepondera <strong>na</strong> lógica religiosa e<br />
metafísica e passa a constituir-se a partir da “diferenciação das esferas de valor: ciência,<br />
moral, e arte”(HABERMAS, 1992, p.110). Nesse processo, os referi<strong>do</strong>s sistemas sociais<br />
começam a ser institucio<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>s, através da normatização de regras inter<strong>na</strong>s e da<br />
especialização de funções e saberes profissio<strong>na</strong>is, a ponto de ganharem sua própria<br />
legitimidade, deflagran<strong>do</strong> por conseqüência a autonomia de diferentes campos sociais.<br />
Pierre Bourdieu (1996a, 1996b, 2001) é também um pensa<strong>do</strong>r fundamental <strong>na</strong> tarefa de<br />
compreensão <strong>do</strong> processo de autonomização <strong>do</strong> campo da produção <strong>cultural</strong>. Ele contribuiu<br />
significativamente para a solidificação de empreendimentos teóricos que sustentam as<br />
ciências sociais através <strong>do</strong> lega<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu clássico conceito de campo 1 , além de ter-se dedica<strong>do</strong><br />
1 Sustenta<strong>do</strong> num conceito relacio<strong>na</strong>l, Pierre Bourdieu entende por campo social o sistema de posições e de<br />
relações objetivas entre diferentes posições que funcio<strong>na</strong> regi<strong>do</strong> por regras e leis próprias. A lógica de<br />
funcio<strong>na</strong>mento <strong>do</strong> campo é estabelecida pela posição relativa que os agentes e as instituições ocupam neste<br />
espaço. A correlação de forças entre os diferentes agentes e grupos nos campos específicos definem-se a partir<br />
<strong>do</strong> volume global e da composição das diferentes espécies de capital com os quais podem contar. Através da<br />
distribuição das diversas formas de capital – econômico, social, <strong>cultural</strong> e simbólico –, os agentes participantes<br />
em cada campo são muni<strong>do</strong>s com as capacidades adequadas ao desempenho das funções e à prática das lutas que<br />
o atravessam. Neste senti<strong>do</strong>, o campo expressa um esta<strong>do</strong> da relação de forças entre agentes e/ou entre<br />
instituições que buscam preservar ou melhorar suas posições em redes sociais <strong>do</strong>tadas de relativa autonomia.<br />
Nesse pano de fun<strong>do</strong>, assume um papel definitivo a noção de luta simbólica. Os conflitos estabeleci<strong>do</strong>s no<br />
interior <strong>do</strong>s campos serão determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s pelos interesses <strong>do</strong>s diferentes agentes – <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes e <strong>do</strong>mi<strong>na</strong><strong>do</strong>s, de<br />
acor<strong>do</strong> com as quantidades e qualidades disponíveis de capitais, em determi<strong>na</strong><strong>do</strong> momento – em se manterem no<br />
jogo, preservan<strong>do</strong> ou melhoran<strong>do</strong> suas posições. Para isso, devem acio<strong>na</strong>r diferentes estratégias, de acor<strong>do</strong> com<br />
as características que vão sen<strong>do</strong> estabelecidas, historicamente, em cada campo.<br />
33