Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
governo deixa de recolher <strong>do</strong>s contribuintes. Dessa forma, o aumento da verba desti<strong>na</strong>da pelo<br />
poder público para a área <strong>cultural</strong> se dá por via indireta, sob a égide <strong>do</strong> incentivo, num<br />
processo em que a decisão fi<strong>na</strong>l da aplicação <strong>do</strong>s recursos <strong>do</strong> Tesouro recai sobre o <strong>do</strong>mínio<br />
das empresas patroci<strong>na</strong><strong>do</strong>ras, que, por sua vez, são movidas por interesses específicos. Logo,<br />
quanto maior a parcela da verba renunciada pelo governo mais revela<strong>do</strong>r se tor<strong>na</strong> o<br />
delineamento <strong>do</strong> seu papel enquanto agente intermedia<strong>do</strong>r no processo de fomento à produção<br />
<strong>cultural</strong>. Mesmo que a posição ocupada pelo Esta<strong>do</strong> seja relevante nesse processo, já que é<br />
prove<strong>do</strong>r de parte majoritária <strong>do</strong>s recursos a serem fi<strong>na</strong>ncia<strong>do</strong>s, o mais heurístico da<br />
racio<strong>na</strong>lidade desse mecanismo de fi<strong>na</strong>nciamento é o fato de que a decisão fi<strong>na</strong>l sobre a<br />
desti<strong>na</strong>ção desses recursos fica <strong>na</strong>s mãos <strong>do</strong> setor empresarial. Para<strong>do</strong>xalmente, esse setor –<br />
detentor minoritário <strong>do</strong> capital econômico envolvi<strong>do</strong> <strong>na</strong> operação – detém um poder<br />
simbólico relevante que é capaz de definir e interferir sobre os destinos de determi<strong>na</strong>da<br />
produção <strong>cultural</strong>.<br />
Via de regra, pelos termos que orientam as principais leis municipais e estaduais de<br />
incentivo à cultura, a parcela de recursos investida pela iniciativa privada, ou seja sua<br />
contrapartida no negócio, varia entre 20 e 30% <strong>do</strong> custo de cada projeto, o que significa que<br />
os 70 ou 80% <strong>do</strong>s recursos necessários à realização <strong>do</strong> projeto são provenientes <strong>do</strong>s cofres<br />
públicos. O Programa <strong>Fazcultura</strong> segue essa tendência e, de acor<strong>do</strong> com o seu regulamento, o<br />
patroci<strong>na</strong><strong>do</strong>r deve participar com, no mínimo, 20% de recursos próprios, poden<strong>do</strong> dessa forma<br />
abater até 5% <strong>do</strong> valor <strong>do</strong> ICMS a recolher, estan<strong>do</strong>, contu<strong>do</strong>, esse abatimento limita<strong>do</strong> a 80%<br />
<strong>do</strong> valor <strong>do</strong>s recursos que terão isenção fiscal.<br />
Essa exigência pelo menos obriga a iniciativa privada a investir recursos próprios no<br />
projeto, evitan<strong>do</strong> distorções como atualmente acontece com as leis federais, a Lei Rouanet e a<br />
Lei <strong>do</strong> Audiovisual. A dedução fiscal, concedida pela lei federal de incentivo à cultura,<br />
corresponde a 100% <strong>do</strong> investimento realiza<strong>do</strong> pelas empresas enquanto a Lei <strong>do</strong> Audiovisual<br />
chega a conceder 125% de incentivo sobre o valor <strong>do</strong> patrocínio, abati<strong>do</strong> <strong>do</strong> Imposto de<br />
Renda devi<strong>do</strong> pelas empresas, significan<strong>do</strong>, em última instância, o sacrifício de receita<br />
pública revertida em benefício de interesse promocio<strong>na</strong>l por parte das empresas<br />
generosamente agraciadas com tal mecanismo de incentivo fiscal (SARKOVAS, 1998, 2003a,<br />
2003b, 2003c, 2003d, 2003e; OLIVIERI, 2002). Dessa forma, além de ter o retorno de to<strong>do</strong> o<br />
investimento realiza<strong>do</strong> com recursos próprios, a empresa beneficiária <strong>do</strong> incentivo das leis<br />
177