15.04.2013 Views

Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...

Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...

Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Canclini ao tecer uma análise sobre a reconfiguração das políticas culturais públicas e<br />

privadas <strong>na</strong> contemporaneidade: “The vital question was no longer ‘what is new this work or<br />

this art movement?’ but ‘will this venture pay for itself, and generate incoming and prestige<br />

for the sponsoring firm?’”(CANCLINI,2003a, p.1).<br />

A<strong>na</strong>lisan<strong>do</strong> o mecanismo das leis de incentivo fiscal sob um ponto de vista sociológico,<br />

inspira<strong>do</strong> à luz das teses de Bourdieu (1996a) sobre algumas propriedades <strong>do</strong> campo da<br />

produção <strong>cultural</strong>, logo se constatará, em sintonia com os pressupostos <strong>do</strong> autor, que a<br />

hierarquia que acaba por se estabelecer entre os diferentes agentes – detentores de capitais<br />

diversos – que co-participam <strong>do</strong> jogo proporcio<strong>na</strong><strong>do</strong> por esse sistema de fi<strong>na</strong>nciamento à<br />

cultura revela nitidamente a posição de submissão que o campo da produção <strong>cultural</strong> ocupa no<br />

interior <strong>do</strong> campo <strong>do</strong> poder 8 . O princípio que orienta o funcio<strong>na</strong>mento desse sistema, qual<br />

seja: o estabelecimento de uma “parceria” entre os organismos estatais e o setor priva<strong>do</strong> no<br />

fomento à produção <strong>cultural</strong>, acaba por forjar uma configuração nitidamente esclarece<strong>do</strong>ra da<br />

posição subordi<strong>na</strong>da que os realiza<strong>do</strong>res ocupam no seio dessa dinâmica específica.<br />

Atravessa<strong>do</strong> pela racio<strong>na</strong>lidade imanente aos “campos englobantes”, principalmente o<br />

econômico e o político, o campo da produção <strong>cultural</strong>, ao se submeter à correlação de forças e<br />

à lógica específica das regras que orientam o funcio<strong>na</strong>mento das leis de incentivo, presencia,<br />

e, sobretu<strong>do</strong>, vivencia em um grau bastante acirra<strong>do</strong> a fragilidade de sua posição no<br />

encadeamento desse entrelaçamento funcio<strong>na</strong>l.<br />

Aos artistas e realiza<strong>do</strong>res, sem muitas alter<strong>na</strong>tivas diante da escassez de verba para a<br />

realização de seus projetos, resta-lhes submeter-se à racio<strong>na</strong>lidade que move o sistema de<br />

incentivos: além de passar, numa primeira etapa, pelo crivo das agências estatais quan<strong>do</strong> suas<br />

propostas são a<strong>na</strong>lisadas pelas comissões avalia<strong>do</strong>ras – o que já denota um certo teor tutelar<br />

por parte <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> –, o produtor <strong>cultural</strong> ainda é obriga<strong>do</strong> a enfrentar a espessa peneira <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong>, já que são as empresas, de acor<strong>do</strong> com seus interesses, que irão definir a realização,<br />

ou não, de uma obra ou bem <strong>cultural</strong>. Pergunta-se então: sob que critérios? Essa é uma das<br />

questões-chave que pairam sobre o debate desse sistema de fi<strong>na</strong>nciamento.<br />

A qualidade técnica <strong>do</strong> projeto ou a experiência de seu realiza<strong>do</strong>r não bastam para<br />

garantir êxito <strong>na</strong> corrida por patrocínio. Antes de tu<strong>do</strong>, “a ação <strong>cultural</strong> deve se adequar ao<br />

perfil das marcas e produtos com os quais busca associação” (SARKOVAS, 1994, p.52).<br />

8 Essa categoria é aqui apropriada segun<strong>do</strong> a teorização de Pierre Bourdieu (1996a, p.244), ou seja, “campo <strong>do</strong><br />

poder é o espaço das relações de força entre os agentes ou instituições que têm em comum a posse <strong>do</strong> capital<br />

necessário para ocupar posições <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes nos diferentes campos (econômico ou <strong>cultural</strong>, especialmente)”<br />

210

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!