Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
consistente, por outro la<strong>do</strong>, o anelar específico dessa cadeia acaba por gerar também um ciclo<br />
excludente, onde nomes já consagra<strong>do</strong>s têm suas produções garantidas, enquanto que talentos<br />
emergentes, ou aqueles artistas que não fazem parte <strong>do</strong> establishment <strong>cultural</strong> local, ficam<br />
alija<strong>do</strong>s deste sistema – cabe enfatizar, que essa é uma tendência que se repete nos resulta<strong>do</strong>s<br />
obti<strong>do</strong>s <strong>na</strong> maioria das leis de incentivo à cultura em vigor no país 9 . Esse movimento denota<br />
que o campo <strong>cultural</strong> baiano, no âmbito de sua produção, assume determi<strong>na</strong>da feição de<br />
acor<strong>do</strong> com o compasso origi<strong>na</strong><strong>do</strong> por esses entrelaçamentos, denotan<strong>do</strong> assim o seu baixo<br />
grau de autonomia, e conseqüentemente, a sua posição <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>da no seio <strong>do</strong> campo <strong>do</strong> poder.<br />
A restrição assumida por parte das empresas de condicio<strong>na</strong>r seu investimento ape<strong>na</strong>s aos<br />
projetos beneficia<strong>do</strong>s pelas leis de incentivo provocou, também <strong>na</strong> <strong>Bahia</strong>, a inibição <strong>do</strong><br />
patrocínio <strong>cultural</strong> por outras vias (VARJÃO, 2000a; 2000b). Em entrevista concedida à<br />
pesquisa<strong>do</strong>ra, o secretário executivo <strong>do</strong> <strong>Fazcultura</strong>, Fábio Liger, assi<strong>na</strong>lou que a legislação foi<br />
idealizada com o objetivo de despertar no empresaria<strong>do</strong> baiano a importância da prática <strong>do</strong><br />
patrocínio <strong>cultural</strong> e que o incentivo fiscal fora planeja<strong>do</strong> para ter prazo de vida menor. Nesse<br />
senti<strong>do</strong>, o benefício fiscal serviria ape<strong>na</strong>s como um estímulo inicial ao empresaria<strong>do</strong>, que após<br />
o acúmulo de experiências <strong>na</strong> área descobriria as vantagens de associar sua marca à promoção<br />
de um bem <strong>cultural</strong>. Naturalmente, o empresaria<strong>do</strong> iria se desvencilhan<strong>do</strong> <strong>do</strong> incentivo estatal<br />
para tor<strong>na</strong>r-se mais uma fonte autônoma de fi<strong>na</strong>nciamento, investin<strong>do</strong> 100% de recursos<br />
próprios no circuito da produção <strong>cultural</strong> local. Mas foi precisamente a tendência oposta que<br />
acabou se cristalizan<strong>do</strong>.<br />
Com a consolidação da legislação estadual de incentivo à cultura, as empresas vêm<br />
restringin<strong>do</strong> a prática <strong>do</strong> patrocínio <strong>cultural</strong> aos projetos chancela<strong>do</strong>s pelo programa,<br />
estimuladas, sobretu<strong>do</strong>, pelos benefícios decorrentes da dedução fiscal. Para<strong>do</strong>xalmente, esse<br />
fato vem provocan<strong>do</strong> a retração de fi<strong>na</strong>nciamento para a área <strong>cultural</strong>. Configura-se, desse<br />
mo<strong>do</strong>, um ciclo vicioso onde as poucas empresas candidatas a fi<strong>na</strong>nciar projetos, se recusam a<br />
fazê-lo <strong>caso</strong> a proposta não tenha o selo <strong>Fazcultura</strong>, adensan<strong>do</strong>-se assim não só a dependência<br />
<strong>do</strong>s artistas ao tradicio<strong>na</strong>l pater<strong>na</strong>lismo estatal, mas também das organizações privadas, que<br />
viciadas com os generosos benefícios proporcio<strong>na</strong><strong>do</strong>s com o dinheiro público acabaram por<br />
9 Ilustrativo dessa tendência foi o quadro delinea<strong>do</strong> pelo perfil <strong>do</strong>s investimentos realiza<strong>do</strong>s pela Lei Rouanet em<br />
1999. Neste ano, os 10 maiores beneficiários <strong>do</strong>s incentivos proporcio<strong>na</strong><strong>do</strong>s pela lei foram os projetos referentes<br />
às atividades e programas das grandes fundações privadas, vinculadas ao setor bancário, de telecomunicação ou<br />
de grandes conglomera<strong>do</strong>s econômicos (PORTO, 2003a).<br />
212