Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Como saída para esse dilema, por assim dizer, o discurso de justificativa para a<br />
consolidação da fusão entre os <strong>do</strong>is segmentos num único organismo é urdi<strong>do</strong> de forma a<br />
responder aos pontos inconciliáveis para tal enlace. Sen<strong>do</strong> assim, o “desafio” que a Secretaria<br />
se propõe a realizar é sustenta<strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> numa <strong>na</strong>rrativa que ressalta a “autonomia e o<br />
respeito mútuo às especificidades” de cada setor. Vale a pe<strong>na</strong> reproduzir um trecho <strong>do</strong><br />
referi<strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento quan<strong>do</strong> se refere ao “desafio” a ser enfrenta<strong>do</strong> <strong>na</strong> realização de tal<br />
empreitada:<br />
146<br />
Promover condições de desenvolvimento mútuo, respeitan<strong>do</strong> a <strong>na</strong>tureza das<br />
suas especificidades setoriais de forma que:<br />
a) A CULTURA tenha no TURISMO um suporte e ampliação,<br />
facilitação e fortalecimento de mecanismos que favoreçam os processos de<br />
DIFUSÃO CULTURAL, em seus aspectos básicos de<br />
promoção/circulação/intercâmbio em bases que possam reforçar as suas<br />
estruturas e incentivar o meio <strong>cultural</strong>, respeitan<strong>do</strong> a autonomia de seus<br />
processos de criação/produção, cuidan<strong>do</strong>-se de salvaguardar a própria<br />
identidade <strong>cultural</strong> da <strong>Bahia</strong>.<br />
b) O TURISMO possa interagir em conformidade com a CULTURA,<br />
legitiman<strong>do</strong>-se enquanto um importante e promissor agente de promoção e<br />
difusão e ter respal<strong>do</strong> necessário nos aspectos de interesse mútuo, sem a<br />
perda de sua autonomia. (BAHIA, 1995, p.1)<br />
O que se pode depreender após a leitura desse <strong>do</strong>cumento é uma certa preocupação com<br />
o conceito de cultura que embasa a iniciativa de criação da nova secretaria, deixan<strong>do</strong>-se<br />
entrever aí o empenho <strong>do</strong> discurso oficial em sustentar uma posição que expressa o “respeito”<br />
à especificidade <strong>do</strong> campo <strong>cultural</strong> e à liberdade <strong>do</strong>s seus processos de criação. Cabe apontar<br />
que não deixa de latejar aí um certo teor sacralizante que tradicio<strong>na</strong>lmente ronda o conceito de<br />
cultura. Como contraponto, o turismo é referenda<strong>do</strong> em sua “<strong>na</strong>tureza administrativa e<br />
dimensão empresarial”, concebi<strong>do</strong> como um “potente instrumento” de promoção e difusão,<br />
que “abre oportunidades de merca<strong>do</strong> para a cultura” (REIBER, 1997, p.7) 18 . Assim, num jogo<br />
dialético de construção de <strong>na</strong>rrativas de justificação, a racio<strong>na</strong>lidade específica da atividade<br />
turística, ou seja, aquela sua dimensão mais “ameaça<strong>do</strong>ra”, de propósitos de teor<br />
18 Eulâmpia Santa<strong>na</strong> Reiber é, atualmente, Diretora Executiva <strong>do</strong> Museu Rodin <strong>Bahia</strong>. Compõe o quadro da elite<br />
dirigente da Secretaria de Cultura e Turismo desde sua criação, sen<strong>do</strong> uma das responsáveis pelas formulações<br />
das políticas <strong>do</strong> órgão. Concedeu essa entrevista à pesquisa<strong>do</strong>ra em 1997, publicada <strong>na</strong> Revista Pré-textos para<br />
Discussão (1997, n.2, p.7-10), número no qual o tema Cultura e Turismo era pauta principal daquela edição.