Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br
Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br
Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
durante a «noite». Não há quartos <strong>de</strong> vigília, <strong>com</strong>o nos velhos tempos. Os<<strong>br</strong> />
instrumentes substituem-nos enquanto dormimos. É uma das razões por que<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong>mos navegar <strong>com</strong> uma tripulação tão pequena. Nesta viagem há espaço em<<strong>br</strong> />
abundância, cada um <strong>de</strong> nós tem o seu próprio camarote. O seu é do tipo<<strong>br</strong> />
normalmente reservado aos passageiros - o único que está <strong>com</strong>pletamente<<strong>br</strong> />
mobiliado, <strong>com</strong>o verá. Creio que o achará confortável. Já tem toda a sua bagagem a<<strong>br</strong> />
bordo? Quanto lhe <strong>de</strong>ixaram trazer?<<strong>br</strong> />
- Cem quilos. Está no guarda-ar.<<strong>br</strong> />
- Cem quilos! Nor<strong>de</strong>n teve dificulda<strong>de</strong> em escon<strong>de</strong>r a sua admiração. Aquele tipo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>veria estar pensando em emigrar - trazia consigo todos os tesouros da família!.<<strong>br</strong> />
Vou dizer a Jimmy para a<strong>com</strong>panhá-lo ao seu camarote. É o nosso «homem para<<strong>br</strong> />
todo o serviço» nesta viagem. Paga assim a sua passagem e apren<strong>de</strong> qualquer coisa<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e viagens no espaço, A maior parte <strong>de</strong> nós <strong>com</strong>eça assim. - Viajando durante as<<strong>br</strong> />
férias do colégio. Jimmy é um rapaz esperto - já tem o grau <strong>de</strong> bacharel.<<strong>br</strong> />
O camarote era pequeno, mas muito bem concebido e <strong>de</strong>corado <strong>com</strong> excelente<<strong>br</strong> />
bom gosto. Uma iluminação engenhosa e as pare<strong>de</strong>s cobertas por espelhos faziamno<<strong>br</strong> />
parecer muito maior do que na realida<strong>de</strong> era, e o leito articulado podia ser<<strong>br</strong> />
invertido e transformado em mesa durante o «dia». Havia muito poucas coisas que<<strong>br</strong> />
recordassem a ausência <strong>de</strong> peso; tudo fora feito para que o viajante se sentisse em<<strong>br</strong> />
casa.<<strong>br</strong> />
Durante a hora seguinte Gibson tirou das malas as suas coisas e experimentou os<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>andos e as engenhocas do camarote. O dispositivo que mais lhe agradou foi um<<strong>br</strong> />
espelho <strong>de</strong> barbear que, quando se carregava num botão, transformava-se numa<<strong>br</strong> />
vigia, mostrando as estrelas. Perguntou a si próprio <strong>com</strong>o seria feito aquilo.<<strong>br</strong> />
Por fim ficou sem ter nada que fazer. Deitou-se na cama e apertou as cintas<<strong>br</strong> />
elásticas em volta do peito e das coxas. A ilusão do peso não era muito convincente,<<strong>br</strong> />
mas era melhor que nada e dava um certo sentido da direção vertical.<<strong>br</strong> />
Enquanto repousava em paz naquele pequeno quarto que seria o seu mundo<<strong>br</strong> />
durante os próximos cem dias, foi esquecendo os <strong>de</strong>sapontamentos e as pequenas<<strong>br</strong> />
contrarieda<strong>de</strong>s que tinham perturbado a sua partida da Terra.<<strong>br</strong> />
Agora não tinha nada <strong>com</strong> que se preocupar: pela primeira vez, em quase tanto<<strong>br</strong> />
tempo quanto podia recordar-se, ele colocara o seu futuro inteiramente nas mãos<<strong>br</strong> />
das outros. Compromissos, palestras, datas <strong>de</strong> entrega <strong>de</strong> textos - tudo isso ficara na<<strong>br</strong> />
Terra. A sensação <strong>de</strong> calma celestial era <strong>de</strong>masiado boa para durar muito tempo,<<strong>br</strong> />
mas ele <strong>de</strong>ixaria que o seu espírito a saboreasse enquanto pu<strong>de</strong>sse.<<strong>br</strong> />
Uma série <strong>de</strong> pancadas tímidas na porta do camarote <strong>de</strong>spertou Gibson do seu<<strong>br</strong> />
sono algum tempo mais tar<strong>de</strong>. Durante um momento não <strong>com</strong>preen<strong>de</strong>u on<strong>de</strong> estava,<<strong>br</strong> />
mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>u as cintas e lançou-se para fora do leito. Os seus movimentos<<strong>br</strong> />
ainda eram mal coor<strong>de</strong>nados e ricocheteou no teto antes <strong>de</strong> alcançar a porta.<<strong>br</strong> />
Jimmy Spencer estava lá, arquejando um pouco.<<strong>br</strong> />
- Cumprimentos do Capitão, senhor. Gostaria <strong>de</strong> vir assistir à largada?<<strong>br</strong> />
- Certamente - respon<strong>de</strong>u Gibson. - Um momento, vou buscar a minha máquina<<strong>br</strong> />
fotográfica.<<strong>br</strong> />
Voltou um momento <strong>de</strong>pois <strong>com</strong> uma máquina absolutamente nova, <strong>de</strong>corada <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
lentes auxiliares. Apesar do obstáculo <strong>de</strong> tal carga, chegaram num instante à galeria<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> observação que formava uma cintura, em volta do corpo da Ares.<<strong>br</strong> />
Pela primeira vez Gibson viu as estrelas em toda a sua glória, já não encobertas<<strong>br</strong> />
pela atmosfera ou por vidros escurecidos, porque estava do lado da noite da nave e<<strong>br</strong> />
os filtros solares tinham sido afastados, A Ares, ao contrário da estação espacial, não<<strong>br</strong> />
estava girando so<strong>br</strong>e o seu eixo. Era mantida firme em relação ao rígido sistema <strong>de</strong>