Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br

----------------------------CAPÍTULO VI ----------------------------<br />
Para Martin Gibson a viagem estava decorrendo de uma maneira bastante suave e<br />
agradável. Escrevera mutas coisas, umas muito boas e outras aceitáveis, Ainda que<br />
não pudesse lançar-se a fundo no trabalho antes de de alcançar Marte.<br />
A viagem estava agora nas suas semanas finais e havia a inevitável sensação de<br />
fadiga e de desinteresse - que devia durar até à dhegada à órbita de Marte. Nada<br />
aconteceria até então. De momento, tinham-se acabado os motivos de entusiasmo.<br />
O último instante notável fôra aquele em que tinham deixado de ver a Terra. Dia a<br />
dia ela aproximara-se das grandes asas flamejantes da coroa solar, como se fosse<br />
imolar nela. Por fim tornara-se um pequeno ponto luminoso, somente visível através<br />
do telescópio, lutando bravamente contra o esplendor que não tardou a sobrepor-se<br />
a ela, quando uma colossal explosão lançou a coroa, subitamente, a meio milhão de<br />
quilômetros através do espaço, como uma cortina incandescente. Passar-se-ia uma<br />
semana antes que ela reaparecesse, e então o mundo de Gibson já teria mudado<br />
tanto que ele nunca teria pensado que tal coisa fosse possível em tão pouco tempo.<br />
Se alguém tivesse pensado de Jimmy Spencer o que ele pensava de Gibson, o<br />
jovem ter-lhe-ia dado respostas muito diferentes durante as várias fases da viagem.<br />
A princípio ele sentia-se muito impressionado perante os seus distintos companheiros<br />
de viagem. Mas essa situação não duraria muito. Gibson não se mostrara vaidoso e<br />
nunca se aproveitava da sua posição privilegiada na Ares. Isso levava Jimmy a<br />
aproximar-se mais dele que dos oficiais de bordo, que, de qualquer maneira, eram<br />
seus superiores.<br />
No entanto Jimmy não fazia ideia do que Gibson pensava quanto a ele. Por vezes<br />
tinha a impressão desagradável de que o escritor o olhava apenas como uma<br />
personagem que talvez tivesse algum valor qualquer dia. Mas como Gibson nunca<br />
tentara ouvir Jimmy em pormenor, isso significava que talvez não existissem motivos<br />
reais para tais suspeitas.<br />
Outra coisa perturbadora quanto a Gibson eram os seus conhecimentos técnicos.<br />
Quando Jimmy iniciara as suas «aulas notunas», como todos lhe chamavam, partira<br />
do princípio de que o escritor pretendia apenas adquirir conhecimentos que lhes<br />
pemitissem evitar erros demasiados evidentes no material que enviava para a Terra e<br />
não estava muito interessado na astronáutica, em si. No entanto, tornara-se<br />
depressa bem claro que não era esse o caso. Gibson tinha uma ansiedade quase<br />
patétlca por dominar as partes mais abstrusas da ciência e exigir provas<br />
matemáticas, algumas das quais Jimmy tinha grande dificuldade em lhe fornecer. Até<br />
que uma das lições encalhou num recife de equações integrais e diferenciais e não<br />
houve nada a fazer senão saltar pela borda afora. Gilbson fechou os olhos com um