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Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br

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tinha duas profissões oficiais, Estava encarregado do pequeno teatro e sentia-se<<strong>br</strong> />

muito contente <strong>com</strong> a sua vida. Tinha uns quarenta e cinco anos e era um dos<<strong>br</strong> />

homens mais velhos <strong>de</strong> <strong>Marte</strong>.<<strong>br</strong> />

- Na próxima semana teremos em cena uma revista - disse ele, ao mesmo tempo<<strong>br</strong> />

que servia Gilbson. - Espero que possa vê-la.<<strong>br</strong> />

- Sem dúvida - respon<strong>de</strong>u Gibson. - farei o possivel. Quantas vezes acontessem<<strong>br</strong> />

essas coisas?<<strong>br</strong> />

- Cerca <strong>de</strong> uma vez por mês. E também cinema três vezes por semana, <strong>de</strong> modo<<strong>br</strong> />

que isto não é muito mau. - Ainda bem que Port Lowel tem alguma vida noturna.<<strong>br</strong> />

O bar estava <strong>de</strong>serto, uma vez que àquela hora, em Port Lowel, todo mundo<<strong>br</strong> />

trabalhava duramente. Gilbson <strong>com</strong>eçou a tomar notas. Era um hábitto aborrecido,<<strong>br</strong> />

ainda que inconsciente. George respon<strong>de</strong>u-lhe ligando o rádio do bar.<<strong>br</strong> />

Era um programa vindo da Terra e retransmitido do lado noturno <strong>de</strong> <strong>Marte</strong>. Gibson<<strong>br</strong> />

perguntou a si próprio se valeria a pena <strong>de</strong>spen<strong>de</strong>r tanto esforço e energia para<<strong>br</strong> />

enviar a voz <strong>de</strong> um soprano algo medíocre e <strong>de</strong> uma orquestra ligeira <strong>de</strong> um mundo<<strong>br</strong> />

para outro. Mas meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Marte</strong> <strong>de</strong>via estar escutando aquilo <strong>com</strong> vários graus <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

sentimentalida<strong>de</strong> e sauda<strong>de</strong> - ainda que por certo negassem uma coisa e outra.<<strong>br</strong> />

De repente sentiu um <strong>de</strong>sejo quase irreprímível <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar aquelas ruas estreitas e<<strong>br</strong> />

sair para o céu aberto. Pela primeira vez teve sauda<strong>de</strong>s da Terra, o planeta que<<strong>br</strong> />

pensara ter tão pouco mais para lhe oferecer. Sentia-se atraído pelos campos ver<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

que estavam à sua volta, tão perto e tão afastados <strong>de</strong>le pelas leis da Natureza.<<strong>br</strong> />

- George - disse Gibson <strong>de</strong> repente -, estou aqui já há algum tempo e ainda não<<strong>br</strong> />

fui lá fora. Não <strong>de</strong>vo fazer isto sem que ninguém me a<strong>com</strong>panhe. Você não <strong>de</strong>ve ter<<strong>br</strong> />

fregueses senão daqui a uma hora, pouco mais ou menos. Não será capaz <strong>de</strong> passar<<strong>br</strong> />

a <strong>com</strong>porta <strong>com</strong>igo - apenas por <strong>de</strong>z minutos ?<<strong>br</strong> />

Gibson pensou que George ficaria surpreendido <strong>com</strong> o seu pedido. Pelo contrário:<<strong>br</strong> />

aquilo acontecera já tantas vezes que o taberneiro já consi<strong>de</strong>rava <strong>com</strong>o inevitável.<<strong>br</strong> />

Encolheu os om<strong>br</strong>os, <strong>de</strong>sapareceu no fundo da loja e voltou algum tempo <strong>de</strong>pois<<strong>br</strong> />

trazendo consigo um par <strong>de</strong> máscaras e o seu equipamento auxiliar.<<strong>br</strong> />

- Não precisamos da aparelhagem toda num dia <strong>com</strong>o este - disse ele, enquanto<<strong>br</strong> />

Gibson ajustava <strong>de</strong>sajeitadamente a máscara. - Tome cuidado! Aperte bem a<<strong>br</strong> />

borracha esponjosa, Muito bem... vamos. Mas só <strong>de</strong>z minutos!<<strong>br</strong> />

Gibson seguiu-o, contente, <strong>com</strong>o um cão-pastor atrás do dono, A <strong>com</strong>porta tinha<<strong>br</strong> />

quatro portas separadas, nenhuma das quais podia a<strong>br</strong>ir-se a menos que as outras<<strong>br</strong> />

três estivssem fechadas. Pareceu-lhe <strong>de</strong>morar um tempo infinito até que a última das<<strong>br</strong> />

portas se fechasse e a planície ver<strong>de</strong> se a<strong>br</strong>isse perante ele. Sentia picadas na pele,<<strong>br</strong> />

mas o ar rarefeito era razoàvelmente tépido e não tardou a sentir um certo conforto.<<strong>br</strong> />

Esquecendo por <strong>com</strong>pleto o seu <strong>com</strong>panheiro, a<strong>br</strong>iu caminho através da vegetação<<strong>br</strong> />

rasteira e cerrada, perguntando a si mesmo a razão por que ela se concentrava em<<strong>br</strong> />

volta da redoma. Talvez fosse atraída pelo calor ou pela lenta fuga <strong>de</strong> oxigênio,<<strong>br</strong> />

De<strong>br</strong>uçou-se e examinou as plantas. Vira muitas vezes as suas fotografias. Nada<<strong>br</strong> />

tinham <strong>de</strong> excitantes e ele não era um botânico que pu<strong>de</strong>sse apreciar as suas<<strong>br</strong> />

peculiarida<strong>de</strong>s. Na verda<strong>de</strong>, se as houvesse encontrado na Terra, nem sequer teria<<strong>br</strong> />

olhado para elas. Nenhuma era mais alta que a sua cintura e as que o ro<strong>de</strong>avam<<strong>br</strong> />

pareciam feitas <strong>de</strong> folhas <strong>de</strong> pergaminho ver<strong>de</strong>, muito fino mas forte, concebidas<<strong>br</strong> />

para absorver tanta luz quanta fosse possivel sem per<strong>de</strong>r a preciosa água. Essas<<strong>br</strong> />

foihas irregulares estavam abertas <strong>com</strong>o velas ao Sol, e seguiam o seu curso através<<strong>br</strong> />

do céu.<<strong>br</strong> />

George aproximou-se <strong>de</strong>le e ficou olhar as plantas <strong>com</strong> uma expressão <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

preguiçosa indiferença. Gibson perguntou a si próprio se o homem não estava

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