Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br
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Com alguma dificulda<strong>de</strong>, Gibson viu a pequena pluma <strong>de</strong> chamas do foguete<<strong>br</strong> />
correndo através do céu. Passou so<strong>br</strong>e a cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>sapareceu por <strong>de</strong>trás das<<strong>br</strong> />
redomas em direcção à faixa <strong>de</strong> pouso. Gibson fez votos que o aparelho trouxesse<<strong>br</strong> />
consigo o resto da sua bagagem, que parecia estar <strong>de</strong>morando tempo <strong>de</strong>mais.<<strong>br</strong> />
O Observatório situava-se a cinco quilômetros mais ao sul, exatamente no alto das<<strong>br</strong> />
colinas, on<strong>de</strong> as luzes <strong>de</strong> Port Lowell não prejudicavam o seu trabalho. Gibson<<strong>br</strong> />
esperara ver as cúpulas <strong>br</strong>ilhantes que na Terra eram o distintivo dos astrônomos,<<strong>br</strong> />
mas em vez disso, encontrou apenas a pequena bolha <strong>de</strong> plástico que co<strong>br</strong>ia os<<strong>br</strong> />
alojamentos dos cientistas. Os instrumentos estavam ao ar livre., ainda que houvesse<<strong>br</strong> />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> co<strong>br</strong>i-los no caso muito raro <strong>de</strong> surgir mau tempo.<<strong>br</strong> />
Tudo parecia <strong>de</strong>serto quando a Pulga se aproximou.<<strong>br</strong> />
Mas era evi<strong>de</strong>nte que havia alguém ali, porque encontraram um veículo idêntico ao<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>les, estacionado junto ao edifício.<<strong>br</strong> />
- São muilto sociáveis – disse o condutor - A vida aqui é muiito aborrecida e eies<<strong>br</strong> />
gostam <strong>de</strong> visitas. Além disso, <strong>de</strong>ntro da cúpula teremos espaço suficiente para<<strong>br</strong> />
esticar as pernas e <strong>com</strong>er <strong>com</strong> conforto.<<strong>br</strong> />
- Por certo que não lhes iremos impor que nos dêem <strong>de</strong> jantar - protestou Gibson.<<strong>br</strong> />
O condutor riu-se.<<strong>br</strong> />
- Isto não é a Terra. Em <strong>Marte</strong> temos todos <strong>de</strong> nos ajudar uns aos outros - ou não<<strong>br</strong> />
iremos a parte alguma, Mas trouxe as provisões <strong>com</strong>igo: quero apenas usar o fogão<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>les. Se soubessem o que é tentar cozinhar a bordo <strong>de</strong> uma Pulga da Areia, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
quatro pessoas a bordo, já saberiam porque.<<strong>br</strong> />
Tal <strong>com</strong>o ele previra, os dois astrônomos <strong>de</strong> serviço acolheram-nos calorosamente<<strong>br</strong> />
e não tardou que a aparelhagem <strong>de</strong> condicionamento <strong>de</strong> ar tivesse <strong>de</strong> cuidar dos<<strong>br</strong> />
odores da cozinha.<<strong>br</strong> />
Gibson jantou – melhor do que alguma vez lhe acontecera em <strong>Marte</strong> -, satisfeito<<strong>br</strong> />
por ter trazido alguma alegria à vida daqueles homens. Como nunca conhecera<<strong>br</strong> />
suficientemente os astrônomos para <strong>de</strong>sfazer uma ilusão, sentia um respeito<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sproporcionado por eles, consi<strong>de</strong>rando-os <strong>com</strong>o exemplos <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação monástica,<<strong>br</strong> />
no seus mosteiros em remotas montanhas. Nem mesmo o seu primeiro encontro<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> o excelente bar do Monte Palomar lhe <strong>de</strong>struira essa fé tão simples.<<strong>br</strong> />
Depois do jantar, todo mundo larvou a louça <strong>com</strong> tanta consciência que a operação<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>morou o do<strong>br</strong>o do tempo normal. Em seguida os visitantes foram convidados a<<strong>br</strong> />
observar os céus através do gran<strong>de</strong> telescópio refletor. Como estava no fim da tar<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />
Gibson achou que não haveria muito o que ver. Enganou-se.<<strong>br</strong> />
Durante um momento a imagem pareceu <strong>de</strong>sfocada e teve dificulda<strong>de</strong> em ajustála,<<strong>br</strong> />
por causa das luvas e da máscara. Suspenso no céu, já quase negro, junto do<<strong>br</strong> />
horizonte, estava um belo crescente cor <strong>de</strong> pérola. Viam-se nele algumas marcas,<<strong>br</strong> />
mas por mais que Gibson se esforçasse não conseguiu i<strong>de</strong>ntificá-las. A maior parte<<strong>br</strong> />
do pianeta estava nas trevas e era impossível ver os continentes.<<strong>br</strong> />
Não muito longe estava um crescente idêntico, mas menor e indistinto. No<<strong>br</strong> />
entanto, Gibson pô<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificá-lo pelas crateras que se viam ao longo da periferia.<<strong>br</strong> />
Era um belo par - os planetas gêmeos, Terra e Lua -, mas pareciam <strong>de</strong>masiado<<strong>br</strong> />
longínquos e etéreos para que ele sentissee aguma sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong>les e do que <strong>de</strong>ixara<<strong>br</strong> />
neles.<<strong>br</strong> />
Um dos astrônomos disse a Gibson:<<strong>br</strong> />
- Quando cai a noite po<strong>de</strong>mos ver as luzes das cida<strong>de</strong>s - principalmente Nova<<strong>br</strong> />
Iorque e Londres, O mais belo, entretanto, são os reflexos do sol no mar. Então<<strong>br</strong> />
parece uma estrela resplan<strong>de</strong>cente.