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Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br

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pouco a pouco à superfície. Na Terra teria escapado a elas confundindo-se mais uma<<strong>br</strong> />

vez <strong>com</strong> a multildão, mas ali não tinha lugar algum para on<strong>de</strong> fugir.<<strong>br</strong> />

Era inútil fingir que nada acontecera - dizer a si próprio: «Bem sabia que Kathleen<<strong>br</strong> />

e Gerard tinham um filho: que diferença faz isso agora?» A diferença era muito<<strong>br</strong> />

gran<strong>de</strong>. Quando via Jimmy, via o passado e - o que era bem pior - pensava em <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

o futuro po<strong>de</strong>ria ter sido. Sabia que só havia uma maneira <strong>de</strong> enfrentar a situaçâo e<<strong>br</strong> />

que a oportunida<strong>de</strong> não tardaria.<<strong>br</strong> />

Jimmy vinha do «hemisfério sul» quando, ao passar pela galeria <strong>de</strong> observação,<<strong>br</strong> />

viu Gibson junto <strong>de</strong> uma das janelas fitando o espaço. Por um momento, pensou que<<strong>br</strong> />

o escritor não o vira, mas Gibson voltou-se e disse-lhe:<<strong>br</strong> />

- Olá, Jimmy. Tens um momento livre?<<strong>br</strong> />

Jimnny tinha muito o que fazer. Mas tinha <strong>com</strong>preendido que havia qualquer coisa<<strong>br</strong> />

que não estava muito certa, em relação a Gibson, e apercebeu-se <strong>de</strong> que o homem<<strong>br</strong> />

precisava da presença <strong>de</strong>le. Portanto aproximou-se e sentou-se na concavida<strong>de</strong> que<<strong>br</strong> />

servia <strong>de</strong> banco junto da janela.<<strong>br</strong> />

- Tenho uma coisa para te dizer, Jimmy - <strong>com</strong>eçou Gibson. - Só meia dúzia <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

pessoas sabem <strong>de</strong>la. Não me interrompas e não faças perguntas - senão <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

eu ter acabado, suceda o que suce<strong>de</strong>r.<<strong>br</strong> />

«Quando eu era ainda mais novo do que tu, queria ser engenheiro. Era um rapaz<<strong>br</strong> />

muito inteligente e não tive dificulda<strong>de</strong> em ser admitido na Universida<strong>de</strong>. Como não<<strong>br</strong> />

sabia muito bem qual o caminho a tomar, matriculei-me no curso geral <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Engenharia. O primeiro ano correu muito bem e isso animou-me a trabalhar ainda<<strong>br</strong> />

mais. O segundo, todavia, não foi tão bom - ainda que eu fosse melhor que a média.<<strong>br</strong> />

No terceiro apaixonei-me. Não era exatamente a primeira vez, mas soube que<<strong>br</strong> />

finalmente era a sério.<<strong>br</strong> />

«Uma paixão quando se está na universida<strong>de</strong> não é uma boa coisa, quando a<<strong>br</strong> />

tomamos a sério. Porque, nesse caso, ou ela atua <strong>com</strong>o um estímulo - e leva-nos a<<strong>br</strong> />

trabalhar mais do que quaisquer outros - ou nos faz esquecer tudo o mais e os<<strong>br</strong> />

estudos vão pela pia abaixo. Foi o que aconteceu no meu caso.»<<strong>br</strong> />

Gibson recolheu-se num silêncio pensativo. estavam do lado da noite e as estrelas<<strong>br</strong> />

viam-se em toda a sua glória. A constelação <strong>de</strong> Leão estava mesmo na frente <strong>de</strong>les e<<strong>br</strong> />

no seu coração via-se o <strong>br</strong>ilhante rubi que era o objectivo <strong>de</strong>les. <strong>Marte</strong> era, após o<<strong>br</strong> />

Sol, o mais <strong>br</strong>ilhante dos corpos celestes, e o seu disco quase se tornara visível a<<strong>br</strong> />

olho nu.<<strong>br</strong> />

Seria verda<strong>de</strong> que nada podia ser inteiramente esquecido? Gibson via ainda, tal<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>o vira vinte anos antes, a mensagem no quadro <strong>de</strong> avisos da faculda<strong>de</strong>: «O<<strong>br</strong> />

Reitor quer falar <strong>com</strong> Mr. Gibson no seu gabinete às 15 horas.» Tivera <strong>de</strong> esperar até<<strong>br</strong> />

às 15:15 e isso não o ajudara. Nem teria sido tão mau se o Reitor houvesse sido<<strong>br</strong> />

formal ou muito frio, ou mesmo se ele se tivesse mostrado furioso. Mas o Reitor<<strong>br</strong> />

usara a técnica dia lamentação. Mostrara-se «mais pesaroso que furioso». Dera a<<strong>br</strong> />

Gibson outra oportunida<strong>de</strong>, mas ele não chegara a aproveitá-la.<<strong>br</strong> />

Envergonhava-se <strong>de</strong> confessá-lo a si próprio, mas o que tornara tudo pior fôra a<<strong>br</strong> />

consciênoia <strong>de</strong> que Kathleen fizera uns exames muito bons. Quando os resultados<<strong>br</strong> />

haviam sido publicados, Gibson evitara-a durante alguns dias. E quando tinham<<strong>br</strong> />

voltado a encontrar-se, ele já lhe atribuiria as culpas do seu malogro.<<strong>br</strong> />

O resto fôra inevitável. A discussão durante o último passeio <strong>de</strong> bicicleta ao campo<<strong>br</strong> />

e o regresso <strong>de</strong>les por caminhos diferentes. As cartas que não tinham sido abertas -<<strong>br</strong> />

e, pior que isso, as que não tinham sido escritas.<<strong>br</strong> />

A tentativa - que não <strong>de</strong>ra resultado - <strong>de</strong> se encontrarem, mesmo que fosse

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