Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br

uma hora. Se demorarem mais tempo exigirei que tragam uma princesa marciana,<br />
como as dos contos de Edgar Rice Burroughs.<br />
Os três expedicionártos atravessaram o vale em direcção à pequena floresta, com<br />
Gibson à frente. Alcançaram as plantas e não tiveram dificuldade em encontrar o<br />
rastro. Hilton fitou-o por algum tempo, em silêncio. Depois disse:<br />
- Dá-me a tua luz de flash, Gibson. Vou na frente. Não podia haver sensação mais<br />
estranha que a de avançar através doquele estreito caminho entre altas paredes de<br />
folhas, sabendo que a qualquer momento poderiam enfrentar uma criatura<br />
desconhecida e talvez feroz.<br />
Já quase no meio da floresta, descobriram que o rastro se dividia em dois. Hilton<br />
seguiu pelo da direita, mas logo descobriu que era um beco sem saída. Levava a<br />
uma clareira de cerca de vinte metros de diâmetro, em que todas as plantas tinham<br />
sido cortadas - ou comidas - rente ao chão.<br />
- Herbívoros - murmurou Gibson.<br />
- Razoavelmente inteligentes - comentou Hilton. - Deixaram as raizes de modo a<br />
poderem rebentar de novo. Vejamos agora o outro caminho.<br />
Encontraram a segunda clareira cinco minutos depois.<br />
Era muito maior que a primeira e não estava vazia!<br />
Hilton. agarrou à luz de flash, enquanto Gibson, num movimento bem estudado,<br />
colocou a máquina em posição e começou a tirar as mais famosas fotografias que já<br />
tinham sido feitas em Marte, até então. Depois acalmaram-se e esperaram que os<br />
Marcianos notassem a presença deles.<br />
Nesse momento, séculos de fantasia e lenda dissiparam-se. Todos os sonhos do<br />
encontro do homem com seres não muilto diferentes dele desvaneceram-se<br />
instantâneamente Com eles, mas sem qualquer lamento, desapareceram também os<br />
monstros tentacuares de Wells e outras legiões de monstros de pesadêlo, E também<br />
o mito de frias inteligências não humanas, que pudessem olhar para o Homem como<br />
ele próprio para um inseto daninho.<br />
Havia dez criaturas na clareira e estavam tão atarefadas comendo, que nem<br />
sequer tinham dado conta dos intrusos. Pareciam cangurus muito gordos, com os<br />
seus corpos quase esféricos equilibrados sobre duas coxas grandes e esguias, Não<br />
tinham pêlos e a sua pele mostrava um lustro curioso, como o de couro brunido. Dois<br />
braços finos, que parecram inteiramentle flexíveis, saíam da parte superior do corpo<br />
e terminavam em mãos pequenas como as garras de um pássaro - aparentemente<br />
pequenas e fracas demais para serem de qualquer utilidade prática. As cabeças<br />
estavam colocadas diretamete sobre o tronco, sem a menor suspeita de pescoço, e<br />
tinham dois grandes olhos pálidos, com largas pupilas. Não possuiam narinas -<br />
somente uma grande boca triangular com três bicos largos e curtos que trituravam<br />
rápidamente a folhagem. Um par de orelhas muito grandes, quase transparentes,<br />
pendia da cabeça, torcendo-se ocasionalmente e formando por vezes cornetas que<br />
deveriam ser magnificos detectores de som, mesmo naquela atmosfera. tão rarefeita.<br />
O maior dos animais era tão alto como Hilton, mas os outros eram muito menores.<br />
Uma «criança», com menos de um metro de altura, parecia extremamente<br />
engraçada, saltava contente, procurando atingir as folhas mais suculentas e de<br />
tempos a tempos emitia gritos agudos que eram irresitívelmente patéticos.<br />
- Até que ponto serão inteligentes? - murmurou Gibson, por fim.<br />
- É difícil dizer. Note o cuidado com que comem as plantas. Mas pode ser puro<br />
instinto - como acontece com as abelhas.<br />
- Movem-se muito devagar, não é? Pergunto a mim mesmo se serão de sangue