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Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br

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- Sei lá. Dentro <strong>de</strong> uma quinzena estaremos em <strong>Marte</strong>. Gostas <strong>de</strong> <strong>br</strong>incar <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

psicólogo, não é verda<strong>de</strong>?<<strong>br</strong> />

- Quem não faz o mesmo ?<<strong>br</strong> />

- Eu não - disse Nor<strong>de</strong>n, num tom potifical. - Não meto o nariz na vida dos outros<<strong>br</strong> />

e...<<strong>br</strong> />

Um olhar <strong>de</strong> Bradley fê-lo calar. Martin Gibson, <strong>de</strong> bloco <strong>de</strong> apontamentos na mão,<<strong>br</strong> />

tão entusiasmado <strong>com</strong>o um jornalista novato, na sua primeira entrevista, entrara<<strong>br</strong> />

apressadamente no gabinete.<<strong>br</strong> />

- Que queres mostrar-me, Owen? - perguntou ele, ansioso.<<strong>br</strong> />

Bradley dirigiu-se ao <strong>com</strong>unicador principal.<<strong>br</strong> />

- Na verda<strong>de</strong>, não tem nada <strong>de</strong> impressionante - disse ele. - Mas entramos noutra<<strong>br</strong> />

fase do vôo e isso é sempre um motivo <strong>de</strong> interesse. Escuta...<<strong>br</strong> />

Pressionou o botão do alto-falante e pouco e pouco moveu o <strong>com</strong>ando do som. A<<strong>br</strong> />

sala foi inundada pelo silvo e pelo estralejar do ruído <strong>de</strong> fundo, semeihante a mil<<strong>br</strong> />

frigi<strong>de</strong>iras prestes a ar<strong>de</strong>rem. Gibson sabia que escutava a voz das estrelas e das<<strong>br</strong> />

nebulosas, radiações que tinham <strong>com</strong>eçado a sua viagem muito antes do<<strong>br</strong> />

aparecimento do homem. Esondidos muito no fundo daquele caos <strong>de</strong>viam existir -<<strong>br</strong> />

tinham <strong>de</strong> existir - os sons <strong>de</strong> civilizações estranhas, falando umas às outras nas<<strong>br</strong> />

confins do espaço.<<strong>br</strong> />

No entanto não fôra por isso que Bradley o chamara.<<strong>br</strong> />

Com muito cuidado, o oficial <strong>de</strong> <strong>com</strong>unicações fez alguns ajustes <strong>de</strong>licados,<<strong>br</strong> />

franzindo um pouco a testa.<<strong>br</strong> />

- Tinha-o aqui mesmo há um minuto... Oxalá não tenha fugido... Aqui está!<<strong>br</strong> />

A princípio Gibson não notou qualquer alteração na barragem dos sons. Mas<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>pois notou que Bradley estava marcando o tempo, em silêncio, <strong>com</strong> a mão - um<<strong>br</strong> />

pouco apressadamente, à razão <strong>de</strong> dois batimentos por segundo. Com isso para<<strong>br</strong> />

guiá-lo, Gibson <strong>de</strong>tectou por fim o silvo ondulante e infinitamente fraco que a<strong>br</strong>ia<<strong>br</strong> />

caminho através da tempesta<strong>de</strong> cósmica.<<strong>br</strong> />

- Que é isto? - perguntou ele, quase adivinhando a resposta.<<strong>br</strong> />

- O radiofarol <strong>de</strong> Deimos. Há também um em Plhobos, mas não é tão po<strong>de</strong>roso.<<strong>br</strong> />

Vai auxiliar-nos na aproximação <strong>de</strong> <strong>Marte</strong>. E <strong>de</strong>ve dar-lhe um bom motivo para<<strong>br</strong> />

escrever qualquer coisa, isto tem estado muito calmo ultimamente, não é verda<strong>de</strong>?<<strong>br</strong> />

Bradley observava Gibson <strong>com</strong> atenção ao mesmo tempo que falava. O escritor<<strong>br</strong> />

não respon<strong>de</strong>u. Apontou apenas algumas paiavras no bloco, agra<strong>de</strong>ceu<<strong>br</strong> />

distraidamente <strong>com</strong> uma cortesia não habitual e partiu para o seu camarote.<<strong>br</strong> />

- Tens razão - disse Nor<strong>de</strong>n <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>le partir. - Aconteceu qualquer coisa a Martin.<<strong>br</strong> />

Será melhor falarmos <strong>com</strong> o médico.<<strong>br</strong> />

- Não creio que valha a pena – respon<strong>de</strong>u Bradley – o que quer que seja, não <strong>de</strong>ve<<strong>br</strong> />

ser caso para pílula. Será melhor <strong>de</strong>ixarmos que ele trate <strong>de</strong> si próprio.<<strong>br</strong> />

- Tâlvez tenhas razão. Mas que isto não <strong>de</strong>more muito tempo!<<strong>br</strong> />

A verda<strong>de</strong> é que <strong>de</strong>morava havia quase uma semana. O choque inicial <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>sco<strong>br</strong>ir que Jimmy Spencer era o filho <strong>de</strong> Kathleen Morgan já quase se dissipara,<<strong>br</strong> />

mas os efeitos secundários <strong>com</strong>eçavam a surgir. Entre eles havia uma sensação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

ressentimento por uma coisa daquelas ter <strong>de</strong> lhe acontecer. Era uma violação<<strong>br</strong> />

ultrajante das leis das probabilida<strong>de</strong>s – uma coisa que nunca po<strong>de</strong>ria ter acontecido<<strong>br</strong> />

nas suas novelas. Mas a vida pouco se importava <strong>com</strong> a arte e não havia nada a<<strong>br</strong> />

fazer quanto a isso.<<strong>br</strong> />

Essa disposição petulante e infantil também estava passando. E sendo substituída<<strong>br</strong> />

por uma profunda sensação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto. Todas as emoções que ele pensara<<strong>br</strong> />

estarem enterradas em segurança <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> vinte anos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> fe<strong>br</strong>il voltavam

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