Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br
Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br
Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
somente para se <strong>de</strong>spedirem, no último dia em Cam<strong>br</strong>idge. A mensagem não chegou<<strong>br</strong> />
a tempo às mãos <strong>de</strong> Kathleen e, ainda que ele tivesse aguardado até ao último<<strong>br</strong> />
momento, não a conseguira ver. O <strong>com</strong>boio apinhado <strong>de</strong> estudantes eufóricos tinhase<<strong>br</strong> />
afastado barulhentamente da estação, <strong>de</strong>ixando para trás Cam<strong>br</strong>idge e Kathleen.<<strong>br</strong> />
Nunca mais a vira.<<strong>br</strong> />
Não valia a pena falar a Jimmy dos meses negros que se tinham seguido. Ele<<strong>br</strong> />
nunca conseguiria <strong>com</strong>preen<strong>de</strong>r o significado daquelas simples palavras: «Tive um<<strong>br</strong> />
colapso e fui aconselhado a não voltar à Universida<strong>de</strong>» O Dr. Evans fizera um bom<<strong>br</strong> />
trabalho e ele ficar-lhe-ia eternamente grato por isso. Fôra Evans que o convencera a<<strong>br</strong> />
escrever durante a sua convalescença e os resultados tinham surpreendido ambos<<strong>br</strong> />
(Quantas pessoas sabiam que a sua primeira novela fôra <strong>de</strong>dicada ao seu<<strong>br</strong> />
psicanalista?).<<strong>br</strong> />
Evans <strong>de</strong>ra-lhe uma nova personalida<strong>de</strong> e uma vocação através da qual ele pu<strong>de</strong>ra<<strong>br</strong> />
recuperar a sua confiança em si próprio. Mas não podia reviver o futuro perdido.<<strong>br</strong> />
Durante toda a sua vida, Gilbson viria a odiar os homens que tinham acabado aquilo<<strong>br</strong> />
que ele apenas principiara – os homens que podiam usar, <strong>com</strong> os seus nomes, os<<strong>br</strong> />
graus acadêmicos e qualificações que ele jamais possuiria, e que trabalhariam toda a<<strong>br</strong> />
sua vida em campos nos quais ele não po<strong>de</strong>ria ser mais que um espectador.<<strong>br</strong> />
Quando acabou <strong>de</strong> falar, ficou surpreendido ao dar conta do nervosismo <strong>com</strong> que<<strong>br</strong> />
aguardava as reações <strong>de</strong> Jimmy. Perguntava a si próprio se o rapaz soubera ler nas<<strong>br</strong> />
entrelinhas e se dividira as culpas <strong>com</strong> justiça - se ele mostraria simpatia, cólera, ou<<strong>br</strong> />
simples embaraço. Subitamente <strong>de</strong>ra conta da tremenda importâmcia que teria a<<strong>br</strong> />
conquista do respeito e da amiza<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jimmy – uma importância muito maior que a<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> qualquer coisa que lhe acontecera, havia muito tempo. Só assim po<strong>de</strong>ria<<strong>br</strong> />
satisfazer a sua consciência e acalmar aquelas vozes acusadoras que vinham do<<strong>br</strong> />
passado.<<strong>br</strong> />
Não via o rosto <strong>de</strong> Jimmy, porque o rapaz estava na som<strong>br</strong>a, e pareceu-lhe que<<strong>br</strong> />
passara um século antes <strong>de</strong> ele que<strong>br</strong>ar o silêncio.<<strong>br</strong> />
- Porque foi que me contou isso? - perguntou o rapaz, numa voz calma,<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>pletamente neutra – tão livre <strong>de</strong> simpatia <strong>com</strong>o <strong>de</strong> reprovação.<<strong>br</strong> />
Gibson hesitou antes <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r. A pausa foi natural porque mesmo ele tinha<<strong>br</strong> />
dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> explicar a si mesmo todas as suas razões.<<strong>br</strong> />
- Tinha que lhe contar isto – disse ele <strong>com</strong> ardor – Não podia voltar a ser feliz<<strong>br</strong> />
enquanto não o tivesse feito. Além disso... senti que procedia bem, ao fazê-lo.<<strong>br</strong> />
De novo o silêncio que arrasava os nervos, Por fim Jimmy levantou-se muito<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>vagar.<<strong>br</strong> />
- Terei que pensar no que me disse - respon<strong>de</strong>u o rapaz na mesma voz <strong>de</strong>sprovida<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> emoção. - Neste momento não sei o que dizer.<<strong>br</strong> />
Afastou-se e <strong>de</strong>ixou Gibson num estado <strong>de</strong> extrema incerteza e confusão,<<strong>br</strong> />
perguntando a si próprio se proce<strong>de</strong>ra mal ou bem. Só uma coisa era certa: ao falar<<strong>br</strong> />
dos fatos ele aliviara muito o seu espírito.<<strong>br</strong> />
Mas havia ainda muita coisa que ele não dissera a Jimmy - e muitas coisas mais<<strong>br</strong> />
que ele próprio não sabia.