Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br
Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br
Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Hardfield inclinou-se so<strong>br</strong>e a mesa.<<strong>br</strong> />
- Estamos em guerra, Mr. Gibson. Em guerra <strong>com</strong> <strong>Marte</strong> e todas as forças que o<<strong>br</strong> />
planeta po<strong>de</strong> lançar contra nós - frio, falta <strong>de</strong> água, falta <strong>de</strong> ar. E também estamos<<strong>br</strong> />
em guerra <strong>com</strong> a Terra. Uma guerra <strong>de</strong> papéis, mas <strong>com</strong> as suas vitórias e <strong>de</strong>rrotas.<<strong>br</strong> />
Estou lutando e a minha linha <strong>de</strong> reabastecimento tem pelo menos cinquenta mihões<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> quilômetros <strong>de</strong> <strong>com</strong>primento. As coisas mais necessárias <strong>de</strong>moram pelo menos<<strong>br</strong> />
cinco meses para chegar até nós - e só consigo obtê-las se a Terra conclui que não<<strong>br</strong> />
posso resolver o caso <strong>de</strong> outra maneira.<<strong>br</strong> />
«Suponho que <strong>com</strong>preen<strong>de</strong> qual é o meu objetivo? - auto-suficiência! Lem<strong>br</strong>e-se<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> que as primeiras expedições tinham <strong>de</strong> trazer tudo consigo. Bem, agora já<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong>mos satisfazer as necessida<strong>de</strong>s essenciais da vida, através dos nossos próprios<<strong>br</strong> />
recursos. As nossas oficinas po<strong>de</strong>m construir tudo quanto não seja <strong>de</strong>masiado<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>plicado – mas é tudo uma questão <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a. Há coisas muito<<strong>br</strong> />
especializadas que têm <strong>de</strong> ser feitas na Terra - e enquanto a nossa população não for<<strong>br</strong> />
pelo menos <strong>de</strong>z vezes maior do que é, não po<strong>de</strong>remos fazer muito quanto a isso.<<strong>br</strong> />
Toda mundo em <strong>Marte</strong> é perito em qualquer coisa - mas há mais especialida<strong>de</strong>s na<<strong>br</strong> />
Terra do que pessoas aqui.<<strong>br</strong> />
«Vê estes gráficos? Comecei a traçá-los há cinco anos. Mostram o nosso índice <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
produção <strong>de</strong> vários materiais. Atingimos o nível da auto-suficiência - essa linha<<strong>br</strong> />
vermelha - em relação à meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>les. Espero que daqui a cinco anos haja poucas<<strong>br</strong> />
coisas que tenhamos <strong>de</strong> importar da Terra. Neste momento, aquilo <strong>de</strong> que mais<<strong>br</strong> />
necessitamos é mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a, e é nesse ponto que nos po<strong>de</strong> ser útil.<<strong>br</strong> />
Gibson sentiu-se pouco à vonta<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
- Não posso fazer promessas. Por favor recor<strong>de</strong>-se <strong>de</strong> que estou apenas fazendo<<strong>br</strong> />
uma reportagem. Concordo consigo, mas tenho <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver os fatos tal <strong>com</strong>o eles<<strong>br</strong> />
são.<<strong>br</strong> />
- Aprecio isso. Mas os fatos não são tudo. O que espero que explique à Terra são<<strong>br</strong> />
as coisas que queremos fazer - tal <strong>com</strong>o as coisas que fizemos. Creio que ainda são<<strong>br</strong> />
mais importantes, mas não as conseguiremos realizar se a Terra não nos <strong>de</strong>r o seu<<strong>br</strong> />
auxílio. Nem todos os seus antecessores <strong>com</strong>preen<strong>de</strong>ram isso.<<strong>br</strong> />
Era verda<strong>de</strong>, pensou Gilbson.<<strong>br</strong> />
- Creio que <strong>de</strong>ve <strong>com</strong>preen<strong>de</strong>r que, na opinião da Terra, <strong>Marte</strong> está a uma<<strong>br</strong> />
distância muito gran<strong>de</strong>, absorve muito dinheiro e não oferece nada em troca, O<<strong>br</strong> />
primeiro encanto da exploração planetánia já se dissipou. Agora as pessoas<<strong>br</strong> />
perguntam: «Que ganharemos <strong>com</strong> isto?» A resposta tem sido: «Muito pouco. Estou<<strong>br</strong> />
convencido <strong>de</strong> que o seu trabalho é importante, mas no meu caso é mais uma<<strong>br</strong> />
matéria <strong>de</strong> fé que <strong>de</strong> lógica. O homem <strong>com</strong>um, na Terra, pensa prováveimente que<<strong>br</strong> />
os milhões que estão a <strong>de</strong>spen<strong>de</strong>r aqui po<strong>de</strong>riam ser usados <strong>de</strong> melhor maneira no<<strong>br</strong> />
seu próprio planeta,<<strong>br</strong> />
- Compreendo a sua dificulda<strong>de</strong>. É <strong>com</strong>um. E não é fácil respon<strong>de</strong>r-lhe. Deixe que<<strong>br</strong> />
eu ponha as coisas à minha maneira. Suponho que as pessoas mais inteligentes<<strong>br</strong> />
admitirlam o valor <strong>de</strong> uma base científica em <strong>Marte</strong>, <strong>de</strong>dicada à investigação pura ?<<strong>br</strong> />
- Sem dúvida.<<strong>br</strong> />
- Mais tar<strong>de</strong> ou mais cedo os homens habituar-se-ão a viver em <strong>Marte</strong> sem tudo<<strong>br</strong> />
isto - Hadfield apontou para a redoma que flutuava por cima dia cida<strong>de</strong> e lhe dava<<strong>br</strong> />
vida.<<strong>br</strong> />
- Acha que os homens po<strong>de</strong>rão vir a adaptar-se à atmosfera lá <strong>de</strong> fora? -<<strong>br</strong> />
perguntou Gibson, <strong>de</strong>sesperado, - Se o conseguissem <strong>de</strong>ixariam <strong>de</strong> ser homens!