15.04.2013 Views

Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br

Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br

Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

fazia-o durante uma hora, Os programas eram escolhidos por uma pessoa diferente a<<strong>br</strong> />

cada dia, <strong>de</strong> modo que os outros nunca sabiam o que os esperava, ainda que<<strong>br</strong> />

passado algum tempo acabassem por i<strong>de</strong>ntificar <strong>com</strong> facilida<strong>de</strong> o «produtor».<<strong>br</strong> />

Nor<strong>de</strong>n preferia os clássicos ligeiros e a ópera: Hilton só tocava Beethoven e<<strong>br</strong> />

Tchaikovsky. Mackay e Bradley olhavam-nos <strong>de</strong> testa franzida e optavam por música<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> câmara e certas cacofonias que pareciam não ter pés nem cabeça. A microbiblioteca<<strong>br</strong> />

e discoteca da nave era suficientemente gran<strong>de</strong> para ultrapassar uma vida<<strong>br</strong> />

inteira no espaço.<<strong>br</strong> />

Quando o escritor estava na galeria <strong>de</strong> observação, tentando contar as Plêia<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

que conseguia distinguir a olho nu, qualquer coisa passou, sibilante, por sua cabeça<<strong>br</strong> />

e foi colar-se contra o vidro da vigia, on<strong>de</strong> ficou a vi<strong>br</strong>ar <strong>com</strong>o uma seta. À primeira<<strong>br</strong> />

vista era o que parecia, e durante um momento Gibson perguntou a si próprio se os<<strong>br</strong> />

Cherokee estavam <strong>de</strong> novo em guerra. Depois viu que a seta tinha no lugar da ponta<<strong>br</strong> />

uma gran<strong>de</strong> ventosa <strong>de</strong> borracha e que da base, atrás das penas, se estendia um fio<<strong>br</strong> />

longo e fino. Na outra ponta do fio, ao longe, estava o Dr. Robert Scott, que<<strong>br</strong> />

avançava <strong>com</strong>o uma aranha entusiasmada.<<strong>br</strong> />

Gibson estava preparando uma frase a<strong>de</strong>quada à situação, mas o médico falou<<strong>br</strong> />

primeiro:<<strong>br</strong> />

- Não é engraçado? - disse ele. - Tem um alcance <strong>de</strong> vinte metros e pesa apenas<<strong>br</strong> />

meio quilo. Vou patenteá-lo assim que voltar à Terra.<<strong>br</strong> />

- Porquê? - peguntou Gibson, num tom <strong>de</strong> resignação.<<strong>br</strong> />

- Não <strong>com</strong>preen<strong>de</strong>s? Supõe que queres ir <strong>de</strong> um lado para outro a bordo <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />

nave on<strong>de</strong> não haja gravida<strong>de</strong> rotacional. Bastará que dispares isto so<strong>br</strong>e qualquer<<strong>br</strong> />

superfície plana perto do teu <strong>de</strong>stino e vás enrolando a corda. Terás um ancoradouro<<strong>br</strong> />

perfeito.<<strong>br</strong> />

- E que há <strong>de</strong> errado na maneira usual <strong>de</strong> nos <strong>de</strong>slocarmos ?<<strong>br</strong> />

- Se estivesses no espaço há tanto tempo <strong>com</strong>o eu, saberias qual é a dificulda<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

Numa nave <strong>com</strong>o esta há muita coisa on<strong>de</strong> nos agarrarmos. Mas supõe que queiras<<strong>br</strong> />

agarrar uma pare<strong>de</strong> lisa do lado oposto do <strong>com</strong>partimento on<strong>de</strong> estivesses e te<<strong>br</strong> />

lançasses pelo ar. Que aconteceria? Bem, terias <strong>de</strong> amortecer o choque <strong>com</strong> as<<strong>br</strong> />

mãos, a menos que conseguisses torcer o corpo no ar. Sabes qual é a queixa mais<<strong>br</strong> />

vulgar que um médico ouve a bordo <strong>de</strong> uma nave espacial ? Pulsos «abertos»! E a<<strong>br</strong> />

razão é essa. Além disso, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> batermos contra um obstáculo ressaltamos, a<<strong>br</strong> />

menos que haja qualquer coisa on<strong>de</strong> nos passamos agarrar; Po<strong>de</strong>mos até ficar<<strong>br</strong> />

parados no meio do ar. Aconteceu-me isso uma vez na Estação Espacial Três, num<<strong>br</strong> />

dos gran<strong>de</strong>s armazéns. A pare<strong>de</strong> mais próxima estava a quinze metros e não<<strong>br</strong> />

consegui alcançá-la.<<strong>br</strong> />

- Não podias ao menos cuspir ou soprar ?<<strong>br</strong> />

- Experimenta e verás. Sabes o que tive <strong>de</strong> fazer? Uma coisa engraçada dos<<strong>br</strong> />

diabos. Tinha apenas no corpo uma camisa e um calção e calculei que a sua massa<<strong>br</strong> />

era cerca <strong>de</strong> um centésimo da do meu corpo. Se pu<strong>de</strong>sse lançá-la a trinta metros por<<strong>br</strong> />

segundo conseguiria alcançar a pare<strong>de</strong> em menos <strong>de</strong> um minuto.<<strong>br</strong> />

- E conseguiste ?<<strong>br</strong> />

- Sim. Mas o Diretor estava mostrando a Estação à mulher, nessa tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong> modo<<strong>br</strong> />

que agora tenho <strong>de</strong> viver num casco miserável <strong>com</strong>o este, quando não estou<<strong>br</strong> />

dirigindo tristes salas <strong>de</strong> cirurgia pelas docas.<<strong>br</strong> />

- Creio que erraste a vocação. Devias também ser escritor.<<strong>br</strong> />

- Não acreditas?<<strong>br</strong> />

- Deixemos disso. Mostra-me o teu invento.<<strong>br</strong> />

Era uma pistola <strong>de</strong> ar modificada, <strong>com</strong> um fio <strong>de</strong> náilon enrolado num molinete

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!